Discursos radicais

Estamos nas vésperas de mais um período eleitoral. Vai ser uma campanha violentíssima.

29/07/2018 | Tempo de leitura: 3 min

Estamos nas vésperas de mais um período eleitoral. Informalmente, a batalha começou faz tempo, com candidatos a deputado estadual e federal, ao Senado, a governadores de Estado e à presidência da República participando de eventos, reuniões, encontros, concedendo entrevistas e fazendo o que mais fosse possível para garantir um mínimo de exposição. Faz parte, ainda mais consideradas as “novas” regras. São tantas as restrições que, aposto, muita gente vai terminar sua participação na disputa sem que os eleitores sequer descubram que aquela pessoa queria ser eleita para alguma coisa. É um sistema perverso, que travestido de “mais econômico”, ficou muito mais excludente e restritivo. 
 
Vai ser, também, uma campanha violentíssima. Vivemos a era da falência do  argumento e do repúdio ao meio termo. Seria até oportuno se estivéssemos diante da valorização das convicções, dos pontos de vista, das posições ideológicas. Infelizmente, não se trata disso. Tem mais a ver com maniqueísmo, com aquela redução simplista que tenta classificar tudo em um de dois extremos – ou é direita ou esquerda; ou está certo ou errado; ou é pró ou é contra. Quem tenta buscar pontos de aproximação entre os opostos ou evita demonizar o adversário, tem patinado nas pesquisas eleitorais.
 
O cenário nacional é o que traduz este momento de forma mais evidente. Jair Bolsonaro, do PSC, o ex-azarão e agora favorito na disputa presidencial, é o mais emblemático, mas nem de longe, o único exemplo de candidato “radical”. Líder nas últimas pesquisas com perto de 30% de intenções de voto, Bolsonaro conseguiu arregimentar uma legião de pessoas que o idolatram na mesma medida em que reuniu um contingente de brasileiros que o repudiam. O que antes seria um problema, converteu-se nos tempos de hoje numa virtude. Parece claro que para ser amado por alguns o sujeito terá que ser odiado na mesma medida por outros.
 
Fazem companhia a ele neste nicho Ciro Gomes, do PDT, com cerca de 10% de intenções de voto, e até mesmo Lula, que apesar de preso – e inelegível - teria hoje o apoio de cerca de 27% do eleitorado. Em comum, os três deixam muito claro aos seus eleitores o que defendem, por mais controverso que seja o tema, e não poupam palavras – nem adjetivos – para estabelecer seus “inimigos”. Bolsonaro, por exemplo, ataca todo e qualquer petista, a esquerda, comunistas, algumas minorias e defende valores conservadores. Lula bate na “elite branca”, no empresariado, no Judiciário e Ministério Público, e defende “os pobres”. Ciro também se apresenta como de esquerda, ataca o empresariado, o Judiciário, o PMDB, cuja extinção defende, e quase qualquer um que não leve “Gomes” no sobrenome. Raro ponto convergente, os três atacam a imprensa, que tem apanhado de todo mundo.
 
Nunca a premissa aristotélica de que a verdadeira virtude está no meio-termo encontrou tão pouco eco na realidade. Hoje, para ser amado, é preciso ser tão ou mais odiado. Resta saber o que vai acontecer quando, sem conciliação, for preciso alcançar o apoio não apenas daqueles que concordam com você, mas da maioria, o que quase significa atrair também aquela parcela que pensa diferente. De um jeito ou de outro, vamos descobrir. Quem sabe, com um pouco menos de ódio, e uma pitada a mais de bom senso.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

Fale com o GCN/Sampi! Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Receba as notícias mais relevantes de Franca e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.