Alguém perde, alguém ganha

Nem sempre, apesar de todo o esforço, empenho e dedicação, chegamos ao resultado pretendido.

08/07/2018 | Tempo de leitura: 3 min

Não deu. Na última sexta-feira, Kazan, na Rússia, foi palco de um destes instantes em que o esporte, de forma mágica – ou maldita – mimetiza a própria vida. A seleção brasileira de futebol, ou a “pátria de chuteiras”, como eternizou o dramaturgo Nelson Rodrigues, ruiu – apesar da preparação, do esforço e do inegável talento. Foi derrotada pela Bélgica, uma equipe sem os mesmos predicados, num jogo onde o ganhador não foi quem mais dominou a bola nem aquele que mais chutou a gol. De certa forma, venceu o pior, com direito a gol contra e arbitragem esquisita. Às vezes, é o que acontece.
 
Do ponto de vista meramente estatístico, o fracasso na Copa da Rússia não representa qualquer distorção. Desde a primeira Copa do Mundo, realizada em 1930, no Uruguai, até o Brasil conquistar seu primeiro título, foram 28 anos de espera – com direito, no longo do caminho, a experimentar o “silêncio mais ensurdecedor de todos os tempos”, em 1950, quando a seleção canarinho acabou derrotada na final pelo Uruguai, por 2 a 1, de virada, num Maracanã lotado por 200 mil torcedores tão apaixonados quanto incrédulos.
 
O triunfo viria apenas em 1958, na Suécia, quando o gênio Pelé, então um garoto de 17 anos, desabrochou para encantar o mundo e entrar para a história. Repetiríamos a dose em 1962, no Chile. Houve um breve hiato em 1966, quando perdemos na Copa da Inglaterra, mas volaríamos a vencer no México, em 1970, garantindo a posse definitiva da taça Jules Rimet – ou quase, porque permitimos que ela nos fosse roubada. Num periodo de quatro copas, vencemos três. Foi exceção.
 
Entre o tri e o tetra, conquistado pela geração de Romário, Bebeto e do goleiro Tafarel, em 1994, nos Estados Unidos, esperaríamos 24 anos. O penta, consagração de Ronado Fenômeno, chegaria mais rápido, oito anos depois, na Copa disputada no Japão e na Coréia, em 2002. Desde então, se passaram 16 anos. Serão pelo menos mais quatro até que tenhamos de novo a chance de sermos campeões. Não foge da média, nem é o maior tempo que ficamos sem levantar o caneco.
 
O mais relevante, para mim, é que lutamos. Houve uma preparação séria, chegamos à competição como favoritos – o que éramos, de fato, consideradas a equipe e a tradição – e crescemos durante a disputa. Diferente de outros momentos de fracasso, como na Copa de 98, na França, com direito a estrela convulsionada, ou aqui mesmo, em 2014, quando acabamos humilhados pela Alemanha no trágico 7 a 1, na Rússia não houve vergonha. Ninguém fez corpo mole. Não se ouviu história de bebedeira ou confusão. Havia um bom técnico, uma equipe focada, seriedade. Mas surgiu o imponderável. Um gol contra logo no início. Um segundo gol, bobo. Nervosismo. Quase empate em vários momentos. A derrota.
 
Faz parte. Nem sempre, apesar de todo o esforço, empenho e dedicação, chegamos ao resultado pretendido. Não raro, somos incompreendidos. Nem tudo, infelizmente, acaba sempre bem. Mas o que nos define é a luta, a persistência, a capacidade de nos reeguer depois de um revés. Assim é no esporte, como na vida. Que venha o Catar.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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