'Foi um presente de Deus na minha vida, não mudaria nada'


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Com um sorriso no rosto e muita saudade em seu coração, Cacilda Galante Ferreira mostra foto da pequena Marcela de Jesus
Com um sorriso no rosto e muita saudade em seu coração, Cacilda Galante Ferreira mostra foto da pequena Marcela de Jesus
Quase 12 anos atrás, no dia 20 de novembro de 2006, nascia Marcela de Jesus. Filha dos agricultores Cacilda Galante Ferreira, 47, e Dionísio Ferreira, 58, a menina, que nasceu sem o córtex cerebral e a calota craniana, na cidade Patrocínio Paulista, se tornaria um ícone nacional contra a legalização do aborto. A história da sua vida, que contrariou todos os prognósticos médicos e ela sobreviveu um ano e oito meses, quando as previsões apontavam apenas alguns minutos de vida, foi acompanhada de perto e divulgada pelo Comércio. 
 
Uma das histórias que marcaram as páginas do jornal nestes 103 anos, a vida de Marcela foi acompanhada de perto pelos nossos repórteres e, em maio de 2008, foi o primeiro veículo a publicar uma entrevista em que a mãe da menina contava detalhadamente a rotina e os cuidados que tinha com a pequena. 
 
Grávida de quatro meses, a agricultora recebeu a notícia de que o bebê que esperava nasceria sem cérebro. A recomendação médica para a situação era apenas uma: o aborto. Religiosa, Cacilda decidiu, com o apoio do marido, manter a gravidez. Foi, inclusive, em homenagem ao padre Marcelo Rossi a escolha do nome da menina. Batizada logo após o nascimento, Marcela ficou internada por quase cinco meses. Depois foi morar com os pais e as irmãs em uma casa na região Central de Patrocínio Paulista. Acompanhada diariamente por uma equipe médica, a menina, que foi personagem de reportagens em vários jornais e programas de televisão, foi símbolo de movimentos religiosos antiaborto. No dia 1º de agosto de 2008, com um ano, oito meses e doze dias, o bebê sofreu uma parada respiratória e morreu na Santa Casa de Franca.
 
Mesmo com as dificuldades enfrentadas desde a gravideze durante a curta vida da filha, Cacilda jamais demonstrou abatimento e afirmava, em todas suas entrevistas, que a menina era motivo de força e que sua história, assim como fazia questão de mostrar, era na verdade a demonstração efetiva do poder de Deus. “Quem conheceu a Marcela viu que nada é impossível para Deus”.
 
Quase 12 anos após o nascimento de Marcela, que veio muitos anos depois dos primeiros filhos do casal - Dirlene, 26, e Débora, 31, - Cacilda mora em uma casa no Centro de Patrocínio Paulista. Com o semblante tranquilo e um sorriso no rosto, marcas registradas dela mesmo quando relembra todos os momentos de dificuldades que passou com a filha, a agricultora mantém fotos e lembranças da menina. Na sala, quem chega logo pode observar fotos da mãe e filha em meio aos outros retratos da família, que hoje conta com mais três integrantes, duas meninas e um menino, netos que ela assume: “São as alegrias da minha vida.”
 
“Todos esses anos depois da minha Marcela continuo pensando da mesma forma. Se hoje me perguntassem, como naquela época, se optaria pelo aborto, continuo com a mesma opinião. Não me arrependo em nenhum momento. A saudade fica, mas em meu coração ela continua viva e ficam comigo as lembranças boas. Ela foi um presente de Deus na minha vida, não mudaria nada”, afirma Cacilda. 
 
Apaixonada pela terra e o sítio onde morava, Cacilda voltou para a cidade para facilitar o tratamento médico do marido, que sofre com problemas na coluna. Divide hoje o tempo em cuidar do marido, da casa e aproveita todos os momentos que pode com as filhas e netos. “Eles são minha alegria de viver. Sinto falta da terra, onde podia plantar, cultivar coisas, mas sou feliz aqui”, conta, enquanto mostra fotos de Marcela e, junto com o marido, recorda os melhores dias da menina que, mesmo com os problemas de saúde, chegou a ter uma grande festa de aniversário quando completou um ano de vida e andava de cavalo com o pai. 
 
Durante sua rotina atual, quando sente saudades da filha, costuma visitar o túmulo onde ela foi enterrada e, lá, conversar. “Gosto de ir até o túmulo conversar e levar flores quando sinto a saudade bater mais forte. Como disse, acredito que a minha filha veio com um propósito grande para este mundo. Ela me ensinou muito em seu curto tempo de vida. Hoje sei que só Deus é quem dá a vida e é quem tem o poder de tirá-la. É importante viver um dia de cada vez, o hoje é muito mais importante que o amanhã, pois é a única certeza que tenho”, disse. “Assim, acredito que a maior lição que a Marcela me passou foi essa: viver o hoje, além de perdoar mais e fazer cada dia valer a pena”, finalizou, emocionada.

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