Sorriso. É com ele, que dá nome ao espaço onde mora com seus 23 filhos, que o casal francano Luiz Carlos Ferreira, 67 e Conceição Aparecida Ferreira, 64, recebeu a equipe do Comércio da Franca para mais uma reportagem sobre o trabalho que realiza na Chácara Sorriso, em Patrocínio Paulista. Juntos há 45 anos, os dois, que ao longo de mais de três décadas já criaram mais de 480 “filhos”, são os personagens principais de uma história que já emocionou milhares de leitores nestes 103 anos do jornal.
A missão de acolher crianças e adolescentes retirados judicialmente de seus lares, na maioria das vezes com histórias dramáticas, nasceu da vontade de ajudar o próximo e oferecer para esses “filhos”, como eles gostam de frisar, mais do que uma simples instituição poderia: amor, apoio, companheirismo, comprometimento, ensinamentos e lições.
Com sua primeira sede no Jardim Aeroporto I, em Franca, no ano de 2000 o projeto “mudou” para o espaço onde hoje funciona a Chácara Sorriso, em Patrocínio Paulista, que tem por santa padroeira a Nossa Senhora do Sorriso. Em um ambiente que já chegou a acomodar 78 filhos de uma só vez, o casal, que tem ainda três filhos biológicos, hoje vive com 23 filhos, sendo o mais velho deles com 55 anos, que, desde que chegou, em 1985, jamais abandonou o lar. “Sempre sentimos essa vontade de cuidar e oferecer para essas crianças e adolescentes que precisam uma referência de lar, mas, mais que isso, queríamos fornecer uma referência do que verdadeiramente um pai e uma mãe devem fazer por seus filhos, já que a maioria deles, antes de chegarem até nós, enfrentou muitas situações traumáticas”, disse Conceição.
Com rotinas semelhantes a de qualquer casa, os filhos do casal são responsáveis por ajudar com a rotina da família. Ajudam a limpar, a cuidar das tarefas da casa e, aqueles que ainda não completaram os estudos, diariamente frequentam as escolas. Há também aqueles que realizam atividades na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). No caso daqueles que já chegaram à maioridade e trabalham fora de casa, é preciso contribuir com uma parcela para ajudar na manutenção do espaço.
No decorrer dos anos, contando com o auxílio da comunidade para manter o lar, que tem ainda o apoio de diversos profissionais que oferecem seus serviços em benefício dos que vivem na casa, a Chácara Sorriso abrigou centenas de pessoas que hoje retornam para passar alguns dias ou até mesmo o final de semana. O casal, que soma seis netos biológicos e outros 45 adotivos, conta com orgulho o caminho que cada um dos filhos trilhou. “Todos os nossos filhos, de um jeito ou de outro, nos emocionam com o que conquistaram. Temos filho jogador, cozinheiro, advogado, várias profissões. Eles retornam sempre, especialmente para passar os Dias dos Pais e das Mães, são nosso maior motivo de felicidade”, disse o pai Luiz Ferreira.
Ser chamado de pai e mãe é, inclusive, uma das “regras” da casa. “Somos pai e mãe deles e são todos nossos filhos, por isso nos tratamos assim. Hoje, quando encontramos algum de nossos filhos que já se mudaram, é assim que nos chamamos. É com muita alegria que vemos cada um criar asas e voar e, quando precisam, estamos aqui para recebê-los”, completa Conceição.
Futuro
Diminuindo o ritmo dos trabalhos por causa da idade, Conceição e Luiz Ferreira afirmam que o desejo é que a iniciativa criada por eles há tantos anos não morra. Para isso, apostam nos filhos que criaram ao longo dos anos. “Temos alguns que mostram vontade de seguir com o sonho, não queremos jamais que esse lar acabe. Ainda mais porque somos exatamente isso, um lar, queremos que a casa siga sempre para receber nossos filhos”, disse Conceição.
Até passar o bastão, os dois afirmam que continuarão trabalhando e cuidando dos filhos que hoje moram na casa. “A nossa rotina é intensa. Acordamos cedo para preparar o café da manhã, arrumar os meninos pra escola, levá-los, buscar, cuidar de tudo o que temos aqui. É um trabalho compartilhado por todos, como a família que somos. Enquanto isso, por causa da nossa idade e até limitações, estamos com as nossas crianças e neste momento não estamos mais recebendo novos integrantes”, disse Luiz.
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