Sidnei, Engler e Gilson: 30 anos de rivalidade registrada


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Eternos rivais, Sidnei Rocha e Roberto Engler, em raro 'cessar-fogo' em 2016, se unem para derrotar Alexandre Ferreira
Eternos rivais, Sidnei Rocha e Roberto Engler, em raro 'cessar-fogo' em 2016, se unem para derrotar Alexandre Ferreira
Há mais de três décadas, eles são notícia no Comércio da Franca. Ao longo dos últimos 30 anos, eles se odiaram, caminharam de mãos dadas quando conveniente e travaram disputas memoráveis, tanto nas urnas, quanto nas páginas do jornal. Sidnei Rocha, Roberto Engler, ambos com 74 anos, e Gilson de Souza, 62, se transformaram em personagens emblemáticos e construíram uma história única em Franca. Seja ocupando cargo eletivo ou atuando nos bastidores, o trio segue atuando com protagonismo na política.
 
Sidnei Rocha foi o primeiro da turma a disputar uma eleição. Em 1976, ele foi o vereador mais votado de Franca e cumpriu mandato de seis anos na Câmara. Resolveu candidatar-se a prefeito em 1982 e ganhou. Foi quando o caminho deles se cruzaram pela primeira vez. No mesmo ano, Roberto Engler e Gilson de Souza foram eleitos vereadores e iniciavam a longa carreira política. Tomaram posse juntos em fevereiro de 1983, mas seriam os autores de um rompimento traumático quatro anos depois.
 
O mandato de Sidnei como prefeito terminaria em dezembro de 1988, mas, por causa da uma articulação de Engler, ele teve que abandonar a Prefeitura antes: março de 1987. Orestes Quércia havia tomado posse como governador e convidou Sidnei para assumir a presidência da Vasp. Para assumir o cargo, era necessário autorização do Legislativo.
 
Disposto a se “livrar” do prefeito e abrir espaço para o então vice Ary Balieiro, com quem tinha melhor relacionamento, Engler liderou movimento e convenceu a maioria dos vereadores a não conceder a licença. Se quisesse ir para São Paulo, Sidnei teria que renunciar.
 
Sidnei não fez uma carta de renúncia, mas foi para São Paulo mesmo sem autorização da Câmara e assumiu a Vasp no dia 3 de abril, abrindo mão do cargo de prefeito, decisão que o fez mergulhar no ostracismo e que quase acabou com sua carreira política. Debitou na conta de Engler a culpa por ter se queimado ao ser obrigado a deixar a Prefeitura pelas portas dos fundos. Gilson se manteve em silêncio nos bastidores e afirma que não era contra o pedido de licença.
 
Abandonar a Prefeitura não se mostrou um bom negócio. Pouco mais de um ano depois, em dezembro de 1988, Sidnei já havia deixado o comando da Vasp e retornado para Franca. Se afastou da vida pública e passou a dedicar-se aos seus negócios particulares. Em 1992 e em 2000, teve duas tentativas frustradas de voltar como prefeito. Nas eleições de 1992, Sidnei e Engler disputaram pela primeira e única vez o mesmo cargo. Ambos, naufragaram. Engler, que tinha Gilson de Souza como vice, foi o segundo colocado. Sidnei foi o último na votação vencida por Ary Balieiro.
 
Ao mesmo tempo em Sidnei aparentava estar morto politicamente, Engler e Gilson faziam o caminho contrário, cada vez mais conquistavam a simpatia dos eleitores e se tornavam deputados. Engler está na Assembleia desde 1990. Gilson assumiu em 1998 e cumpriu quatro mandatos.
 
Em 2004, “o defuntão político ressuscitou” e Sidnei voltou a ganhar as eleições para prefeito. Foi reeleito quatro anos depois com votação histórica. Em 2012, uma vitória pessoal sobre Gilson de Souza: conseguiu fazer o sucessor Alexandre Ferreira em uma disputa contra a chapa liderada por Graciela Ambrósio que tinha Gilsinho como vice.
 
Quase 30 anos depois do episódio da renúncia, a mágoa entre Sidnei e Engler parecia não ter fim. Em março de 2015, o deputado foi questionado pelo Comércio se era mais fácil se relacionar com Alexandre Ferreira ou Sidnei Rocha. “Eu diria o seguinte: com o ex-prefeito Sidnei foi impossível. Em todas as ocasiões, ele procurou me implodir. Durante oito anos como prefeito, ele nunca me chamou para tomar um cafezinho, para discutir um problema de Franca. Não sei de onde vem a divergência. Fui instrutor dele no Tiro de Guerra, quando tínhamos 18 anos, na mesma turma, eu dirigia a turma. Quem sabe nasceu daí? Me surpreendi com ele a vida toda. Chega num ponto que o copo transborda. O que eu concluí é que não dava para ter um relacionamento político com ele”, disse Engler.
 
A sequência da história mostrou que dava, sim, para construir uma relação política com Sidnei: em março de 2016, eles deixaram de lado as históricas desavenças e declararam cessar-fogo. Os dois arquirrivais decidiram se unir para derrubar um adversário comum nas eleições internas do PSDB: Alexandre Ferreira. A dupla ganhou as prévias, mas foi derrotada nas eleições municipais, meses depois, por Gilson de Souza. “A vida é feita de vitórias e derrotas, e essa foi mais uma derrota. Agora, vou na igreja rezar para a cidade não ir para o buraco de novo”, disse Sidnei antes mesmo da apuração ter sido encerrada.
 
Em abril deste ano, os antigos companheiros de Tiro de Guerra voltaram a ficar em trincheiras opostas. Após 30 anos de filiação, Engler deixou o PSDB e se filiou ao PSB. “Vou ter que reestruturar o partido, que passou 30 anos na gaveta do deputado”, disse Sidnei.
 
As próximas eleições de outubro vão apresentar novo round entre eles: candidato à reeleição, Engler fará campanha para Márcio França (PSB) ao governo do Estado. Sidnei Rocha e Gilson de Souza estarão no palanque de João Doria (PSDB). Façam suas apostas.

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