Um programa que surgiu da iniciativa de um professor de Educação Física está mudando a vida de alunos da Escola Estadual “Professor Sérgio Leça”, no Jardim Aeroporto, por meio dos ensinamentos de um esporte ainda pouco difundido no Brasil: o xadrez. Foi com as aulas oferecidas gratuitamente pelo programa que um grupo de estudantes conseguiu garantir vaga na disputa nos Jogos Escolares do Estado de São Paulo e está disputando as finais da modalidade em agosto. A data e o local ainda devem ser definidos pelo governo do Estado, que organiza os jogos.
O programa foi criado pelo professor de educação física e técnico de xadrez Leonardo Arduini, chamado carinhosamente de Professor Léo. Em 2008, quando começou a lecionar na unidade, ele percebeu a dificuldade que os alunos tinham em se concentrar, em ter disciplina e em pensar antes de agir e decidiu usar as lições que carregava do esporte para ajudar aqueles meninos e meninas. “A princípio, só queria mesmo que eles pudessem conhecer um pouco do xadrez e se interessassem. Comecei a dar aulas para um grupo pequeno de alunos que aos poucos foi crescendo”, lembra.
Hoje, Léo atende duas turmas de 30 alunos cada com idades entre 10 e 15 anos. Ao longo dos anos, conseguiu a doação dos jogos de xadrez e damas. Mas ainda enfrenta dificuldades. “Principalmente para que possamos participar das competições. São todos alunos carentes, com famílias muitas vezes desestruturadas. Sem condições de ajudar financeiramente nos custos da viagens. Para podermos ir, muitas vezes, dependemos de doações ou da colaboração da Prefeitura”.
Nem uniforme para as competições os alunos possuem. “Nosso sonho seria dar a eles um jogo de camisas polos com seus nomes para poderem se apresentar melhor nas competições. Estamos tentando conseguir doações e patrocínio com os comerciantes do bairro, mas está difícil”, disse a diretora da unidade, Simone Regina de Oliveira Nascimento Falleiros.
Apesar de toda a dificuldade, o empenho dos garotos nas aulas tem dado resultados. “Com a ajuda da Prefeitura, inscrevemos a equipe para a disputa dos Jogos Escolares deste ano. Vencemos a etapa local, depois a regional e agora, vamos disputar a final estadual. Pode não parecer muito, mas para esses garotos que vivem em uma realidade tão difícil é uma enorme conquista. Na verdade, ver o orgulho deles faz tudo valer a pena”.
‘O xadrez me despertou a vontade de ser melhor’
Os dois grupos que participam das aulas de xadrez são formados por meninos e meninas. Nas aulas que ocorrem em período inverso ao do currículo normal, eles aprendem todas as regras e jogadas de xadrez e de damas. Além disso, são cobrados pela parte disciplinar, pelo estudo das técnicas passadas e pelo empenho. Quem não tem motivação ou não demonstra vontade acaba sendo desligado.
Para boa parte dos alunos, as aulas têm reflexo não apenas no desempenho escolar mas na rotina de vida em geral. Nicole Ribeiro, de 15 anos, começou a frequentar as aulas de damas há quatro meses e já sente as mudanças. “Eu era muito impulsiva. Sempre acaba respondendo, brigando, falando as coisas sem pensar. Hoje, por conta do que aprendi aqui, sou mais controlada. Penso mais nas consequências dos meus atos. Consigo ver lá na frente”, disse ela, que não pretende deixar o projeto. “Estou amando”.
Maria Cecília Alves Fernandes, de 12 anos, há cinco vem aprendendo a jogar xadrez. Ela começou influenciada pelo irmão, Pedro, que hoje faz parte da equipe de atletas patrocinada pela Prefeitura de Franca para participar dos Jogos Regionais e da Juventude. “Comecei porque vi como o xadrez ajudou meu irmão. O xadrez me despertou a vontade de ser melhor. Me mostrou que posso ir longe. Gosto de tudo o que me ensina. Gosto das competições e de como nos ensina a pensar e a raciocinar não apenas a jogada, mas a vida também”, disse.
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