(Tela de Tintoretto)
Aprendi que Maria Madalena era prostituta que acompanhava Cristo, que a livrara da morte por apedrejamento. Cresci torcendo o nariz para ela, sem entender direito como a criatura de vida devassa se incorporou e esteve sempre na comitiva do Rabi da Galiléia, conforme citam os registros religiosos. Li, não sei onde, que Maria Madalena, presença constante na comitiva de Cristo nas peregrinações, junto com Maria de Nazaré, mãe de Jesus, esteve presente e acompanhou seu calvário, martírio e sua ressurreição. Aprendi que o nome Madalena não pertence a seu nome próprio, mas é adjetivo que a descreve como natural de Magdala, cidade que fica na costa do Mar da Galiléia. Soube que ela é descrita no Novo Testamento como das mais disciplinadas e dedicadas discípulas de Jesus Cristo. Sei que é considerada santa e que tem festa celebrada em 22 de julho. E dizem que era ela, no meio de tantos incrédulos e titubeantes cristãos, inclusive entre os apóstolos homens, quem realmente acreditava que Jesus Cristo era o Messias. Que ela teria tido filhos com Jesus. Que ela lhe lavara os pés e os secara com seus cabelos. Que a personagem de traços femininos ao lado direito de Cristo, na tela A Última ceia, de Leonardo da Vinci, é ela e não João, como se pretende. E que tais – e outras tantas narrações escondem verdades - que os revisionistas cristãos alteraram nos Evangelhos ao longo do tempo.
Recentemente vi Maria Madalena, filme de Garth Davis, com Rooney Mara (Maria Madalena) e Joaquin Phoenix (Jesus Cristo) nos papéis principais, atraída em parte pelas contradições do meu conhecimento e pela crítica que descreve a produção como a “história de uma das figuras mais enigmáticas e incompreendidas da história bíblica.” Acompanhei extasiada o enredo que “mostra a busca da jovem pescadora por nova maneira de viver, contrariando as pressões da sociedade, de sua família e o machismo de alguns apóstolos, quando se junta a Jesus de Nazaré em sua incansável missão de propagar a fé.” Saí emocionada, questionando meu torto, conflitante e preconceituoso conhecimento sobre essa grande mulher.
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