Lições

A Páscoa, que comemoramos hoje, tem muitos símbolos. Nenhum deles tão forte quanto o do renascimento. Que possamos, por mais imperfeitos que sejamos, encontrar uma forma qualquer de nos reinventar ? para melhor.

01/04/2018 | Tempo de leitura: 3 min

Há cerca de dois mil anos um galileu típico, que segundo os estudos mais recentes devia medir aproximadamente 1,60m de altura, pesar pouco mais de 50 quilos, ter cabelos e barba curtos e escuros e a pele queimada pelo sol, estava prestes a se tornar protagonista de um evento que impactaria a humanidade numa escala sem precedentes. O protagonista, obviamente, era Jesus Cristo. O evento, não menos óbvio, a sua ressureição.
 
Os sete dias que antecederam a ressurreição foram um período de profundos — e terríveis — contrastes. No domingo anterior, aquele que hoje é conhecido como “de Ramos”, marcou a chegada de Jesus em Jerusalém. No lombo de um jumento, cercado pelos discípulos e seguidos por centenas de pessoas, o pregador, àquela altura já famoso por seus sermões, seus milagres e, mais importante, por seus exemplos, foi recebido como um herói, o salvador, o futuro líder do povo judeu. Durou pouco.
 
Nos dias seguintes, Jesus Cristo experimentaria o que de pior subsiste na humanidade. Primeiro, foi perseguido por Caifás e os sacerdotes do Templo, ainda que Jesus nunca tenha pego em armas, defendido uma insurreição nem proposto formalmente a deposição de quem quer que seja.Na falta da verdade para sustentar seus argumentos, Caifás tratou logo de forjar acusações. Subornou ainda Judas, que vendeu a identidade e a localização de seu mestre por trinta moedas, e fez de Jesus seu prisioneiro.
 
Preso diante de seus discípulos, Cristo não apenas não foi defendido como assistiria ainda a Pedro renegá-lo três vezes. Julgado pelo Sinédrio, um tribunal com a mesma imparcialidade do Judiciário da Coréia do Norte, foi condenado de forma tão absurda que nem mesmo Pôncio Pilatos, a maior autoridade romana na região, ou Herodes, o soberano da Galileia, quiseram confirmar a sentença. Um jogou a responsabilidade para o outro, e vice-versa.
 
Pilatos ainda tentou contornar a situação, submetendo o destino de Cristo à vontade da população. Colocou Cristo ao lado de Barrabás, um assassino ordinário, e pediu que a multidão decidisse quem salvar. A turba enfurecida, em grande parte a mesma que o aplaudira dias antes, reservou sua misericórdia ao assassino. Jesus, como todo mundo sabe, foi então crucificado.
 
Sem que tenha feito mal a quem quer que seja, o mesmo Cristo que entrara sob glórias em Jerusalém seria, até a sexta-feira seguinte, traído, renegado, odiado, humilhado, agredido, caluniado, difamado, ignorado, abandonado, desprezado e injustiçado. Algumas vezes, por quem era mais próximo e querido.
 
Desde então, vinte séculos se passaram. As lições de Cristo, universais, servem à gente de fé e também a ateus, cristãos e não-cristãos. 
 
O grande problema tem sido seus “alunos”. Basta olhar à sua volta. Quanto ódio, ingratidão, traições, desprezo, humilhações e injustiças você não vê por perto? Quanta maldade gratuita, quanta dificuldade de estabelecer convivência com quem ousa pensar diferente...
 
O mundo atual é radicalmente diferente daquele que Jesus vivenciou. Comunicações, comércio, transportes, trabalho, direitos civis, lazer, tudo é muito diferente. Menos, a natureza humana. Essa continua a mesma. 
 
A Páscoa, que comemoramos hoje, tem muitos símbolos. Nenhum deles tão forte quanto o do renascimento. Que possamos, por mais imperfeitos que sejamos, encontrar uma forma qualquer de nos reinventar — para melhor. Tentar já é um passo e tanto. Feliz Páscoa!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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