
“Lá vem o Gomão, o Gomão do camburão.” Quem acompanha as ocorrências policiais de Franca certamente já deve ter ouvido falar no apelido dado ao cabo Wilson Gomes dos Santos, da Força Tática do 15º Batalhão.
De seus 51 anos de idade, 29 foram totalmente dedicados à Polícia Militar e à sua família, composta por quatro filhos e quatro netos. O cabo, natural de Porecatu, município do norte do Estado do Paraná, é um dos policiais mais antigos do batalhão e era o veterano da Força Tática até a semana retrasada. O “Gomão”, agora, está afastado. Cumpre licença-prêmio e períodos de férias enquanto aguarda a publicação de sua aposentadoria. Ele deixa a PM como aquele com quase 26 anos de Força Tática - que, antes, era Policiamento de Tático Móvel - e a sensação de dever cumprido.
“Sou muito realizado e tive a sorte de ter boas pessoas ao meu lado”, explicou. Para o cabo, o tenente coronel Valdemir Guimarães Dias, comandante do 15º Batalhão, é uma delas. “Trabalhamos juntos em 1996, quando ele veio para Franca, e agora novamente. Minha mulher até brinca que ele veio para me aposentar”, disse ele. Confira a entrevista com o “Gomão do Camburão” e um pouco de sua história.
Por que o senhor decidiu se tornar policial militar?
Diferente de muitos colegas de farda, não foi por ter alguém na família. Eu e um amigo, quando ainda morávamos no Estado do Paraná, gostávamos muito de ver filmes policiais e conversávamos muito sobre isso. Houve uma oportunidade de trabalho em Franca, em 1983, e viemos para cá. Depois, fui para Dourados (MS) e acabei retornando para Franca, onde trabalhei em uma agropecuária e, posteriormente, no Clube de Campo, em meados de 1987. Posteriormente, esse amigo prestou a prova da Polícia Militar e chegou a ser selecionado, mas não passou no último exame. Depois, tentou novamente e eu também fui em 1989. Consegui passar e estou aqui até agora, encerrando minha carreira.
E este seu amigo, conseguiu ser PM?
Não. Depois, ele decidiu seguir novos rumos e apenas eu virei policial militar. Somos amigos até hoje e é muito emocionante ver que, um sonho e desejo de duas crianças inspiradas em filmes, se transformou em realidade.
Quando se formou o senhor já veio trabalhar em Franca? Como foi o processo?
Fui para a 1ª Companhia do 4º Batalhão de São Paulo, na Lapa, em 1989. Lá fiquei até o início de 1991. Depois, fui para São José da Bela Vista, onde trabalhei por um ano e meio antes de ser transferido para Franca. No final de 1992, foi montado o PTM (Policiamento de Tático Móvel). Não existia Força Tática naquela época. Posteriormente, ela foi criada e aqui fiquei desde então.
Havia alguma diferença entre Policiamento de Tático Móvel e Força Tática?
Era o mesmo fim e a mesma forma de policiamento, porém, na época, o Estado foi montando diversos programas e ações, como Ronda Escolar, Proerd, Patrulha Rural e afins.
Para o senhor, há diferença entre os crimes que viu naquela época e os de hoje?
A criminalidade vem crescendo ano a ano e estamos em uma época diferente. Acho que a estrutura criminal está maior. Havia organização, mas hoje está pior e os bandidos estão mais ousados.
Teve alguma ocorrência marcante nesses quase 30 anos de carreira?
Eu poderia elencar várias. Mas vou falar dos tempos de PTM em uma ocorrência emocionante. Aconteceu em 1993. Ouvimos, via rádio, que uma senhora ligou no 190 porque a filha estava em trabalho de parto. Fomos até o local e, ao chegar, fizemos o parto dessa jovem. Foi uma surpresa, claro, e totalmente inesquecível. Coube a mim o momento de segurar a criança nos braços. Essa imagem me marcou e o médico até brincou que nem ele teria feito o parto tão bem quanto nós fizemos. Também teve outra, há alguns anos, no Jardim Paineiras, em que um jovem foi assassinado aos 16 anos. Era dia 24 de dezembro de 1998, véspera de Natal. Não consigo esquecer o desespero daquela mãe. Fiquei muito emocionado ao vê-la debruçada sobre o corpo do filho. Acredito que, além dessas, qualquer policial da Força Tática ficou marcado com a perda do nosso amigo, o cabo Odimar Sartório, em 2011. Ele, que era um policial excepcional, estava trabalhando quando foi atropelado na rodovia Cândido Portinari. No dia, eu estava de serviço e lembro da voz desesperada do cabo Adriano pedindo auxílio.
Em 2016, o senhor foi alvejado em uma ocorrência naMorada do Verde, numa tentativa de assalto. Horas depois, após um grande trabalho da PM, um dos responsáveis foi preso. Tem lembranças desse dia?
Foi muito triste por conta da situação que vivenciei. Cheguei ao condomínio onde moram alguns amigos e me deparei com isso. No confronto, fui atingido. Graças a Deus deu tempo de ser socorrido e da Força Tática e Rádio Patrulha chegarem e me darem o suporte necessário. Eles se dedicaram muito. Foram quase dois dias empenhados na ocorrência para conseguirem encontrar quem fez aquilo comigo. A força que recebi de todos é algo que também não esqueço. Mostrou que sou querido por todos: pela sociedade, pelos policiais, pelo pessoal da imprensa. Recebi tantas flores enquanto fiquei internado no hospital que tem algumas que até hoje, não sei quem mandou. Não tive nem como agradecer.
E agora, Gomão? Quais os planos?
Estou tirando as férias e licença-prêmio no momento. Esperarei a publicação no Diário Oficial dizendo que, oficialmente, sou um aposentado (risos). É a fase mais difícil, porque agora que estou me desligando de fato da polícia. Não terei mais dias de serviço, de levantar, tomar banho, vestir a farda e ir para o trabalho, estar nas ruas junto com as equipes de Força Tática. Tenho minha família, cuidarei dos meus netos, do meu rancho, e dos negócios que tenho. Viverei um pouco minha vida.
O que a Polícia Militar representa para o senhor?
Absolutamente tudo. Desde que comecei não me via fazendo outra coisa na vida. Vivi com intensidade e, graças a Deus, sou querido por gente do bem e odiado por quem quer causar desordem. Meu coração sempre acelera quando visto essa farda e sei que posso ajudar as pessoas através do meu trabalho e tentar melhorar a sociedade. É uma história de amor muito bonita, zelei para que meu nome fosse reconhecido como é dentro da PM. Acho que prestei um serviço de excelência e procurei fazer meu melhor. Minha família até brinca comigo: “É, velhinho, agora você vai sofrer”, por conta da aposentadoria. (risos)
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