Minorias

Um mundo onde todos tivessem chances e oportunidades iguais, onde as diferenças de credo, crenças, ou religião tivessem desaparecido;

05/01/2018 | Tempo de leitura: 2 min

Um mundo onde todos tivessem chances e oportunidades iguais, onde as diferenças de credo, crenças, ou religião tivessem desaparecido; onde fatores como cor de pele fosse absoluto e mero detalhe. Quem não gostaria dele? Um mundo feliz, tranquilo, um mundo onde os valores realmente notáveis, essenciais e valorizados fossem “invisíveis aos olhos”. Quem não gostaria de viver nele? Seres humanos somos membros de sociedades assentadas sobre culturas formadas por complexo e complexos de padrões de comportamento, crenças, instituições e de outros valores espirituais e materiais aprendidos e transmitidos coletivamente. Não fosse isso não teríamos identidade social que nos garante pertencer a determinado grupo, nem garantiríamos nossa personalidade individual, una e peculiar.  
 
Todas as sociedades têm suas singularidades. Brasileiros, aprendemos a desvalorizar qualquer um que não fosse loiro e de olhos azuis, a despeito de discursos inflamados contra qualquer tipo de preconceito racial. Não passamos em testes simples usados para determinar o grau da nossa intolerância: imagine-se caminhando por ruela escura; na sua contramão vêm duas pessoas desconhecidas, uma em cada das calçadas opostas –um é branco, o outro negro. Você precisa sair do meio da rua, qual das calçadas escolhe? Precisa de resposta? 
 
A história da raça negra no Brasil possui episódios desumanos de desvalorização, dos quais não escapam letrados, religiosos, ou o cidadão comum. É comum o brasileiro torcer o nariz para uniformes sujos de graxa ou aventais com manchas de gordura e, concomitantemente, enaltecer e abrir portas de sua casa para profissionais liberais brancos, mesmo que ligados a atos e atitudes de absoluta falta de ética. São quase inexistentes os proprietários de carros top de linha do nosso mercado, exceto artistas ou esportistas. A maioria dos estudantes nas escolas particulares ainda é absolutamente branca. Quantos engenheiros, professores, bancários negros você conhece? Na mídia, quantos modelos negros já apareceram sugerindo charme e luxo? Quem, na maioria das vezes, no cinema e televisão desempenha papéis de subalternidade, de dependência? Tirando Otelo, quantos heróis negros você conhece? 
 
Comecei a pensar nisso com mais seriedade quando vagas para estudantes negros nas universidades foram compulsoriamente preenchidas. A iniciativa pareceu-me naquela época algo inútil como garantir-lhes assentos em aviões comerciais de rota estrangeira, para cumprir roteiro desconhecido, com bagagem inadequada. Porém, as vagas foram preenchidas, muitos descendentes negros estudaram, se formaram. Aguardo informações: o caminho que os levaria ao trabalho estava desobstruído? Houve garantia de seus pré-requisitos para chegar até tais portas? Depois do diploma, houve mercado? Foram bem recebidos, aceitos? Enfrentaram condições e critérios de escolha idênticos? Ainda não tenho,mas estou de olho nas respostas. 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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