“Qual o bairro mais antigo de Franca?” Muita gente responderia a essa pergunta a apontando o Miramontes como o mais antigo bairro de Franca e onde a cidade teria tido sua origem; no entorno da igrejinha daquele bairro. Mas, na verdade, pelos documentos do Arquivo Histórico Municipal “Capitão Hipólito Antônio Pinheiro”, a cidade começou mesmo foi no Centro, em 1805. O Miramontes surge a partir de 1839, com a construção de uma capela que, inclusive, não é a atualmente existente no bairro.
Segundo a historiadora Graziela Alves Corrêa, que trabalha no Arquivo há 28 anos, documentos da Igreja Católica revelam que Franca começa a se formar em 1805, quando os irmãos Antunes doam parte das terras de sua fazenda para a construção da primeira capela. Ela foi feita na área ao lado de onde está construída a Catedral e atualmente funciona uma das lojas da rede O Boticário. Era feita de pau a pique e sediou a primeira missa, celebrada pelo Padre Joaquim Martins Rodrigues, marcando a criação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição. “A primeira missa oficializava o surgimento das Freguesias, que em Franca foi no Centro. Quando surge o subúrbio de Miramontes, o Centro já estava desenvolvido. Outro ponto importante no Centro era a água, com os córregos dos Bagres e Cubatão, encontrada pelos povoados. No Miramontes, não havia”, afirma Graziela.
A igrejinha interina permanece até por volta de 1809, quando é erguida a Capela de Nossa Senhora do Rosário, onde hoje se encontra a fonte luminosa da praça central. Anos mais tarde, acaba desativada com a construção da Catedral Nossa Senhora da Conceição, inaugurada em 1913.
A confusão que envolve o bairro Miramontes é compreensível. O francano Beto Monteiro, pesquisador da história regional há 40 anos, reúne documentos do professor Carmelino Corrêa Júnior e do Arquivo Histórico do Estado de São Paulo que apontam que o município nasce a partir de 1760, 80 no arraial denominado Covas que, posteriormente, ganhou o nome de Bairro Miramontes. “Ali os comboios de carros de bois mineiros, goianos e mato grossenses, em busca do sal, faziam parada”, disse Beto. Mas os historiadores Graziela e Wanderlei Donizete afirmam que a região do Miramontes era apenas passagem. “Pode ser que existiam os pousos lá, mas não era considerado um núcleo urbano. Uma cidade era oficialmente criada quando o governo autorizava, junto com a Igreja, a vinda de um padre para fundar a Freguesia”, afirma Wanderlei.
No livro O Bairro de Miramontes, o professor Chafik Felippe afirma que o bairro nasce a partir de 1839, principalmente com a alteração no Código de Posturas do município, que determina que os comerciantes transfiram o movimento dos carros de boi para a periferia e o núcleo de Covas se tornou local preferencial. Em 1844, surge a primeira capela do bairro, que foi derrubada e hoje o local abriga o centro comunitário. A Igreja de Santa Cruz, existente hoje no Miramontes, é da década de 50.
Curiosidade
Estrada de ferro
O surgimento do Bairro Estação é posterior ao Centro e ao Miramontes. Em 1885, depois de decidida a instalação de uma estação ferroviária em Franca, inicia-se a urbanização com a Praça Sabino Loureiro. À época, é batizado como Bairro do Alto da Bela Vista, mas o nome não se populariza e acaba alterado - e eternizado - para Estação.
A Companhia Mogiana de Estradas de Ferro chega em 1887. A vinda da ferrovia traz prosperidade, status e desenvolvimento para a região. Permanece ativa até fevereiro de 1997, quando circula o último trem entre Franca e Ribeirão Preto.
Capitão Hipólito
Os documentos do acervo do Arquivo Histórico Municipal de Franca revelam que o primeiro grande fluxo de pessoas para a região era da Freguesia do Desemboque - hoje a cidade de Sacramento (MG). Entre eles estava Hipólito Antônio Pinheiro, que foi um capitão de ordenanças e se tornou o fundador de Franca. Ele foi o responsável por articular junto ao governo provincial os primeiros passos para a formação do povoado. Após sua intervenção, é criada, em 1805, a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição, simplificada posteriormente para Franca, homenageando o governador da Capitania, Antônio José da Franca e Horta.
O historiador e professor Carmelino Corrêa Júnior, em trabalho que se encontra no Museu Municipal, também aventa a ideia de que o nome tivesse origem no fato de a primitiva localidade ser uma espécie de cidade ‘franca’, aberta (leia mais nas páginas 18 e 19).
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