Embora conte com farta documentação a respeito de sua história -- hoje, abrigada no Arquivo Histórico Municipal --, os primórdios de Franca ainda são motivo de debates entre vários historiadores, passando por Antônio Constantino, Carmelino Corrêa Júnior, José Chiachiri (pai), José Chiachiri Filho e Alfredo Palermo, entre vários outros que deixaram registradas ao longo do século passado as suas conclusões. Não há ainda precisão histórica a respeito dos primeiros moradores, estimando-se que o povoado teria se iniciado entre 1760/80, conforme texto do historiador, jornalista, advogado e professor Alfredo Palermo publicado neste Comércio, em 1977.
Ele apontava textualmente: “a história da formação de Franca tem início por volta de 1870/80 no Arraial de Covas (hoje Miramontes). Ali, os tropeiros faziam ponto de pouso e, forçosamente, tinham de passar os carros de bois que saiam das províncias de Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, para buscar sal grosso em Campinas. Ao redor, vislumbrava-se o sertão bruto, ‘habitat’ natural dos índios caiapós. Era o ‘Bello Sertam da Estrada dos Goyazes’”. Ainda de acordo com Alfredo Palermo, citando o também jornalista e historiador José Chiachiri (pai), em texto de 1975, por ocasião da instalação da “Freguesia de N. S. da Conceição de Franca e Rio Pardo” (em 3 de dezembro de 1805), já existiam por aqui cerca de 1000 moradores.
José Chiachiri Filho chegou a garantir que Franca é, também, mais velha do que os a história oficial apregoa. Em entrevista publicada pelo Comércio, em edição de 28/29 de novembro de 2005, diz: “Meu pai, quando foi nomeado diretor do Museu Histórico de Franca, salvou toda documentação que foi possível e, com base nos documentos preservados, e publicou o primeiro livro impresso em Franca. Hoje, temos mais de 150 trabalhos a respeito da história da Franca, tanto na área da Unesp quanto na Unifran. Foi assim que descobrimos que Franca completará 200 anos no próximo dia três de dezembro deste 2005, porque o arraial de Franca foi criado a três de dezembro de 1805, exatamente no local onde hoje é a Praça Barão. Ali foi erguida a primeira igreja da região e na frente dela o cemitério”. Diante disso, Franca já teria 212 anos de fundação, conforme o historiador.
Já um texto de Alfredo Palermo publicado em 1975 diz que “Carmelino Corrêa Júnior diz, em sua história das origens da cidade (inédita, datilografada, no Museu Municipal), que Franca nasceu numa encruzilhada: cruzavam-se aqui a ‘estrada dos goiazes’, por onde haviam passado os dois Anhangueras (pai e filho), e a ‘estrada de Mato Grosso’, procurada pelos que, vindos de Minas Gerais, demandavam os confins do país no Oeste mais terroso, em busca de ouro. Boas aguadas e bons pastos nestes altiplanos haviam surgido pousos, estalagens, logo ampliadas em empórios”.
Alfredo Palermo destaca ainda que Chiachiri (pai), “escudado em vários autores, afirma que os primeiros ranchos teriam sido erguidos nas proximidades de Miramontes (antigamente denominada Covas devido às bossorocas). De lá é que aos poucos vieram os ranchos aparecendo no alto das três colinas, depois que, em doação das terras para a Capela de N. S. da Conceição, por aqui começou a ouvir-se o bimbalhar do campanário”.
E prossegue Alfredo Palermo: “o certo é que, segundo os relatos dos historiadores, pessoas de muito prol começaram a se instalar aqui, salientando-se Hipólito Antonio Pinheiro, que algumas referências históricas apontam como o morador número um destas paragens e, praticamente, o grande responsável pela criação da Vila. É exatamente dos primórdios da Franca que versa a tese de Chiachiri Filho, hoje o trabalho mais profundo que se tem sobre a matéria. E é nesse trabalho que vamos encontrar as informações de que, por ocasião da ereção à Vila, já contava Franca com cerca de cinco mil almas e, dez anos mais tarde, cerca de dez mil”.
Os historiadores Graziela Alves Correa e Wanderlei Donizete afirmam que a região do Miramontes é antiga, sim, mas que era apenas passagem. “Pode ser que existiam os pousos lá, mas não era considerado um núcleo urbano. Uma cidade era oficialmente criada quando o governo autorizava, junto com a Igreja, a vinda de um padre para fundar a Freguesia”, afirma Wanderlei. “A primeira missa oficializava o surgimento das Freguesias, que em Franca foi no Centro”, disse Graziela (leia mais na página 27).
O nome da cidade
Em artigo publicado no dia 27 de novembro de 1977, Alfredo Palermo levanta uma questão: qual a origem do nome da cidade? “Num pequeno esboço histórico da lavra de Misseno de Melo Franco, publicado em seu Almanaque, em 1902, fala-se que o primitivo nome desta localidade seria ‘Arraial do Sertão do Capim Mimoso’. No entanto, José Chiachiri (pai), depois de muitas pesquisas, verificou que a região era conhecida pela designação de ‘Belo Sertão da Estrada de Goiás’, como, aliás, se encontra no fecho de uma representação firmada por Hipólito Antônio Pinheiro ao governador da província, Franca e Horta. Não se fala em ‘Franca’. No entanto, aos 29 de agosto de 1805, é criada a ‘Freguesia da Franca e Rio Pardo’ abrangendo toda a região compreendida entre o Rio Grande e o Rio Pardo. Aí já aparece o nome de ‘Franca’. De onde viria?’”
Continua o historiador: “No geral, os historiadores acham que esta designação se origina no nome do Governador da Província de São Paulo, General Franca e Horta, a quem se pediu a criação da Vila. No entanto, o prof. Carmelino Corrêa Júnior, em trabalho que se encontra no Museu Municipal, aventa a ideia de que a denominação talvez proviesse do fato de a primitiva localidade ser uma espécie de homizio de aventureiros, cidade ‘franca’, aberta. E diz que na Europa há várias cidades ‘francas’: Vila Franca de Xira, em Portugal; Villefranche, na França; Vila Franca, na Itália, esta provavelmente a origem dos ‘Franquini’. Quem saberá? De Freguesia da Franca à Vila Franca medearam 19 anos. Não teria uma convergência de sentidos -- ‘franca’ das ‘franquias’ citadinas, tais como nas cidades de Idade Média, à ‘Franca’ do nome do General?’.
Fundadores
Neste mesmo texto, o prof. Alfredo Palermo indaga: quem teriam sido os fundadores de Franca? Ele mesmo procura responder: “Costuma-se dizer que foram os mineiros, tendo à frente Hipólito José Pinheiro, que fundaram a primitiva localidade. José Chiachiri Filho, em tese de doutoramento que precisa ser publicada, mostra que há duas fases no povoamento do ‘Belo Sertão da Estrada de Goiás’. A primeira fase é realmente a fase bandeirante, a fase do Anhanguera, desbravador do sertão dos ‘goiases’. O caminho aberto pelo bandeirante continuou a ser trilhado por seus sucessores, pelos carros de boi que levavam sal, pelos peões levando boiadas. Por aqui havia ‘estalagens’, boas aguadas, bons pastos -- ‘o capim mimoso’. Uma segunda fase foi a dos mineiros: a exaustão das minas, nas gerais, fazia com que moradores passassem a olhar para o Oeste, não apenas para o Mato Grosso, mas para a região do Desemboque, onde ainda se garimpava. Daí chegaram a Franca, atraídos pelas passagens, pelo clima, pela encruzilhada que as ‘estalagens’ representavam, não apenas no caminho de Goiás, mas também para Mato Grosso. Assim, temos raízes bandeirantes que se fortaleceram com a contribuição do sangue mineiro, sangue paulista de segunda linha, como se sabe, pela origem das Gerais.’
CRONOLOGIA
Veja alguns fatos marcantes da história de Franca
> 1760/80 - Criadores de gado vindos de Minas chegam ao arraial de Covas. Mais tarde, devido à falta de água no lugar, os moradores vêm para as margens do Córrego dos Bagres.
> 1804 - É criado, pelo governo da Província de São Paulo, o Distrito de Franca e Rio Pardo.
> 1805 (3 de dezembro) - É instalada a Freguesia de Franca e Rio Pardo, com a doação do terreno pelos irmãos Antunes para a ereção de sua primeira Igreja sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição e com a nomeação do primeiro vigário colado, Padre Joaquim Martins Rodrigues.
> 1810 (27 de julho) - Hipólito Antonio Pinheiro é nomeado 2º Capitão Mor (capitão de ordenanças) do Sertão da Estrada de Goiás e autorizado pelo Governador da Província, Gal. Antônio José de Franca e Horta a construir à sua custa a ‘Caza de Cadêa e Camara‘ para a fundação da Vila Franca do Imperador.
> 1824 (28 de novembro) - É fundada a Vila Franca do Imperador, com seu território desmembrado da Comarca de Mogí-Mirim.
> 1824 (29 de novembro) - Eleita a primeira Câmara Municipal da Vila.
> 1839 (14 de março) - É criada a Comarca de Franca.
> 1852 - Inauguração do 1º edifício da Câmara, no local do atual correio, no centro da cidade.
> 1855 - Inauguração do Cemitério da Saudade.
> 1856 (24 de abril) - A Vila Franca passa à categoria de cidade.
> 1882 - 1º Jornal; O Nono Distrito.
> 1887 - Inauguração da Estação Ferroviária.
> 1888 - Inauguração do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, hoje ocupado pela UNESP.
> 1890 - 1º Prefeito Municipal Republicano: Cel. Francisco Martins Ferreira da Costa.
> 1898 - Inauguração do Edifício da Nova Cadeia e Fórum, que a partir de 1912 serviu de sede da Câmara e prefeitura. Obra de Victor Dubugras em estilo eclético, hoje ocupada pelo Museu Histórico Municipal ‘José Chiachiri‘.
> 1904 - Inauguração da iluminação elétrica.
> 1905 - Instalação do 1º Grupo Escolar no edifício da antiga Câmara, denominado G.E. Cel. Francisco Martins, mais tarde transferido de local.
> 1913 - Inauguração da Nova Igreja Matriz, hoje Catedral Diocesana, estilo gótico.
> 1915 (30 de março) - Sai a primeira edição do jornal Comércio da Franca, hoje um dos mais antigos do País ainda em circulação.
> 1917 - Inauguração do Colégio Champagnat na rua Capitão Canuto, hoje Avenida Champagnat, estilo eclético.
> 1924 - Calçamento em paralelepípedo das primeiras ruas e praças.
> 1932 - Franca participa ativamente da Revolução Constitucionalista. Por esta razão a rua Dr. Jorge Tibiriçá recebeu o nome de Voluntários da Franca quatro anos depois.
> 1957 - Inauguração do 1º arranha-céu, edifício Franca do Imperador, na esquina das ruas Monsenhor Rosa e General Telles, onde existiu o famoso Sobrado Verde, propriedade de Borísio Steimberg.
> 1971 - Criada e instalada a Diocese de Franca, tendo como primeiro Bispo, Dom Diógenes Silva Mathes.
> 1984 - Instalação do Distrito Industrial.
> 1989 - Criada a Região Administrativa de Franca. A região de Governo que é mais restrita já existe desde 1984.
> 2006 - Nomeação do Segundo Bispo da Diocese de Franca, Dom Frei Caetano Ferrari.
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