Meu encontro com Deus

Deus abre caminhos onde não existe nenhum. Torna possível o que parece impossível. Um milagre que me foi concedido é a mais perfeita tradução disso.

27/08/2017 | Tempo de leitura: 5 min

Nunca tive uma relação de muita proximidade com Deus. Meus pais sempre acreditaram que fé e religiosidade são manifestações e escolhas personalíssimas. Assim, na infância, nunca fui “encaminhado” para nenhuma religião, apesar da profunda conexão com o espiritismo que meu pai tivera durante boa parte da vida e das origens católicas de minha mãe. Também jamais fui proibido ou desestimulado de acreditar no que quer que fosse. Seria, num momento apropriado qualquer, uma escolha minha.
 
Curioso desde sempre, li incontáveis livros sobre tudo que se possa entender como religião. Aprendi a rezar com minha avó Dina, que me ensinou os versos do Pai Nosso e da Ave Maria. Foi vovó quem também me explicou como conversar com Deus, a me desculpar pelos meus erros e a pedir respeitosamente o que quer que seja. 
 
Apesar disso, durante anos não me sentia particularmente tocado por Deus. Era como se a fé num ser superior fosse uma dádiva que não tivesse sido concedida a mim, especialmente porque não conseguia aceitar como uma força onipresente, onisciente e onipotente permitia tantos descalabros neste mundo habitado por seres criados, em tese, à sua imagem e semelhança. Se Deus tudo podia, porque ele permitia que crianças sofressem com doenças terminais? Ou porque ele não impedia, pura e simplesmente, guerras, atentados, genocídios? Assim, durante muitos anos, me defini como agnóstico, alguém que acredita que existem tantas razões para se acreditar em Deus como para duvidar dele. Era assim que me encontrava até o final do ano passado.
 
Os últimos tempos não tem sido fáceis. Para mim, especialmente, converteram-se num período de duras provações, desafios, decepções. Ao longo dos últimos cinco anos, sempre que Dezembro chegava, renovava a esperança de que o ano que se aproximava seria melhor, os desafios menores, os momentos de alegria, mais frequentes. Invariavelmente, minhas expectativas fracassavam diante de uma realidade que se impunha de forma implacável. E isso, em todos os níveis. Profissionalmente, pessoalmente, intimamente. 
 
Nem mesmo as conquistas significavam necessariamente tranquilidade, como aprendi no segundo semestre do ano passado. Vitorioso nas urnas e eleito vereador, me deparei com um cenário no qual precisava me afastar do comando das empresas às quais tinha dedicado minha vida. Não que a lei exigisse, mas porque a consciência recomendava. E isso, num momento de extrema dificuldade para qualquer um que trabalhe no mercado da comunicação, por conta de mudanças que impactam a própria natureza do negócio, agravada, no Brasil, por esta interminável crise política e econômica.
 
No final de outubro do ano passado, tinha comprado o novo livro escrito por Abílio Diniz, empresário que transformou o Pão de Açúcar numa gigante do varejo de alimentos e que, mesmo assim, acabou afastado do comando da empresa fundada por seus pais. Essas e outras histórias de mudanças e superações ele prometia contar no livro, que tem o título de Novos caminhos, novas escolhas. Achei que era o que precisava ler naquele instante. Nunca imaginei o quanto isso me transformaria.
 
O livro é muito bom, as histórias são empolgantes, a narrativa parece sincera. Tem altos e baixos, tem sucessos e fracassos, tem lições importantes. Mas é a partir do capítulo 15, “Espiritualidade e Fé”, que alguma coisa acendeu na minha alma. Abílio vai direto ao ponto. “Os acontecimentos incríveis dos últimos dez anos só foram possíveis porque Deus me ajudou”, vaticina. Que Abílio era um homem religioso, eu já sabia. O que descobri é que ele colocava no mesmo patamar de importância sua fé e o conhecimento adquirido, a determinação com que perseguia seus objetivos e a dedicação à oração metódica. O livro termina com seu sucinto discurso de despedida do Pão de Açúcar. Mas há um anexo, “Orações Diárias”, que concentra uma espécie de tesouro. Nesta parte, estão compiladas orações e pensamentos que formam um “Programa Espiritual”. São 63 orações que devem ser feitas diariamente, ao longo de nove semanas, começando por um domingo. Como terminei de ler num sábado, achei que era um espécie de sinal. Na manhã seguinte, comecei a rezar e a fazer as preces.
 
Desde então, admito, muita coisa mudou. Situações que me pareciam desesperadoras e para as quais não via alternativas se resolveram. Problemas ficaram menores. Até desafios que nem sequer imaginava que enfrentaria naquele instante, como alguns episódios na Câmara de Vereadores nos quais minhas palavras e ações foram completamente distorcidas por gente sem escrúpulos ou decência, puderem ser superadas de uma forma que nunca imaginei ser possível. Como ensina o programa espiritual, Deus abre caminhos onde não existe nenhum. Torna possível o que parece impossível. E, posso dizer por experiência própria, suas respostas às nossas demandas são quase sempre bem mais elegantes e eficazes do que o pedido que propriamente fazemos. Um milagre que me foi concedido é a mais perfeita tradução disso.
 
Obviamente, crer em Deus não elimina todos os problemas nem rezar faz da vida automaticamente um mar de rosas. Mesmo porque, encontrar nosso propósito nesta vida é o grande objetivo da existência, ensina Buda. Mas a serenidade resultante da oração persistente melhora muito a nossa capacidade de reação diante dos obstáculos que surgem, assim como a relação profunda e permanente com Deus, independente da religião que se escolha, é capaz de trazer respostas e soluções para obstáculos que pareciam intransponíveis. 
 
Como isso acontece? Não tenho a menor ideia — e esse tem sido o grande aprendizado desse meu mergulho espiritual. Um erro que cometi ao longo dos anos foi tentar compreender e explicar para que pudesse alcançar Deus. Não apenas é simplesmente impossível, tamanha a sua grandeza e complexidade, como também é absolutamente desnecessário. O que vale é sentir. E hoje, sinto Deus dentro de mim. Amém! 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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