
Fabiana Schiavon
FolhaPress
Um ator que fazia filmes de pornochanchada nos anos 1980, mas sonhava atuar em novelas em uma grande emissora transformou o Bozo no palhaço líder de audiência da televisão na época. Essa é a história de Arlindo Barreto, 64 anos, contada em "Bingo - O Rei das Manhãs", que chega nesta quinta (24) aos cinemas e marca a estreia de Daniel Rezende como diretor -ele foi indicado ao Oscar por seu trabalho de edição no filme "Cidade de Deus" (2002).
"Foi um projeto que veio de um encontro com Dan Klabin, um dos produtores do filme. Ele tinha lido uma reportagem sobre a vida do Barreto e falou que daria um filme incrível! Eu me apaixonei pela história, até porque poderíamos brincar com os bastidores da televisão dos anos 1980, época que eu vivi", conta Daniel Rezende.Inspirado na vida real de Arlindo Barreto, mas se valendo de nomes totalmente fictícios por questões de direitos autorais, o filme usa o personagem Bingo para contar a história de Bozo. O palhaço, que na década de 1980 já era sucesso nos sucesso nos Estados Unidos, precisava de um ator para emplacar em terras brasileiras.
Quando assumiu o papel na TV, Arlindo, no filme chamado de Augusto Mendes, abraçou a causa com tudo: mudou o roteiro, fez piadas de duplo sentido com as crianças, colocou a Gretchen (Emanuelle Araújo) para rebolar ao som de "Conga, Conga, Conga" e começou a atender o público infantil pelo telefone. "O que eu mais tentei preservar da figura dele foi o apelido de Febrão, que veio por um depoimento do filho dele, uma figura que está sempre em uma temperatura alta", conta o ator Vladimir Brichta. "Isso me norteava como um farol, mas é claro que o roteiro é mais livre e era a história dele recontada com essa liberdade", completa o ator.
Por trás das câmeras, a fama o afundou nos vícios da cocaína, do álcool e do sexo. Na época separado, ele passou a ver menos o único filho. E o comportamento irresponsável perto criança fez com que fosse proibido de visitá-la.
Por causa das passagens dramáticas da trajetória de Barreto, o roteirista do longa, Luiz Bolognesi, conta que a ideia era fazer uma tragicomédia. "A gente construiu uma ficção inspirada na biografia. Existem vários elementos biográficos, mas a relação com o filho, por exemplo, é totalmente inventada".
Além da história de fama, sucesso e dramas de Arlindo Barreto, o longa de Rezende transporta o público para a vida louca dos anos 1980, com músicas de sucesso e outros programas ícones da história da TV. Era uma época em que tudo era permitido na televisão.
Nomes no longa 'Bingo - O Rei das Manhãs' são falsos, mas a história não
Quase todos os nomes dos personagens de "Bingo - O Rei das Manhãs" foram trocados por outros fictícios, apesar de estar claro que a história é baseada na vida de Arlindo Barreto, o primeiro ator a interpretar o Bozo.
O nome palhaço que animava as manhãs de domingo do SBT nos anos 1980 é, na verdade, uma marca americana criada em 1946 e protegida por direitos autorais. A única pessoa que autorizou o uso de seu nome verdadeiro no filme foi a cantora Gretchen, considerada um ícone pop da época e que ajuda situar a trama no tempo.
Ela e Arlindo se casaram em uma cerimônia de candomblé, mas ficaram juntos pouco menos de dois anos.
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