Nojeira

Em terras distantes, ao percorrer cidades medievais, olho a paisagem e a circunstância imagino como teria sido viver naquelas priscas

11/08/2017 | Tempo de leitura: 2 min

Em terras distantes, ao percorrer cidades medievais, olho a paisagem e a circunstância imagino como teria sido viver naquelas priscas eras em que os prédios que me encantam por sua estrutura e longevidade, estavam recém construídos e inaugurados. Ruas estreitas, costumes estranhos, desconforto, dificuldades, como teria sido?, penso sempre.
 
A grande vantagem: morar lá, naquela época e ficar livre de pessoas que me incomodam, de facilidades que as colocam sob meus olhos. Desvantagens aterrorizantes, porém. Exemplo, perder as benesses do mundo contemporâneo e viver sob o desconhecimento quase total de regras de higiene. Viver naquela época não era fácil, até reconheço. Vejamos. Lidar com dor de dentes. De repente, cárie, nervo exposto, colo do dente descoberto. Tratamento? Retirada do dente imediata e inexoravelmente. Não à toa as moças dos retratos a óleo da época estão todas de boca fechada, sizudas. Vestidas de seda, cobertas de arminho, túnicas de veludo, cheias de jóias, mas emburradas. Nunca se considerou desejável banguelice total ou parcial, independente de época. Outro problema: xixi no meio da noite, coisa complicada antigamente. Usavam-se penico ou urinol – para recolher o, ou os, dejetos. Guardados sob a cama durante a noite, pela manhã eram lançados ou pela janela ou na rua mesmo ou despejados na guia da sarjeta, se houvesse uma. Não sei se entornavam o caldo e, ao fazê-lo gritavam “cabeça de quem cair, diabo de quem fugir”. 
 
Certa vez comprei um folheto intitulado Rotina dos Reis. Tudo bem que os reis se considerassem criaturas divinas — nossos políticos também se sentem assim — e tudo — tudo! — que saia deles ganhava o status de preciosidade. Era subida honra e privilégio limpar seus santos bumbuns, após defecarem, trabalho, aliás, respeitado e cobiçado. Papel higiênico eram folhas de vegetais, que podiam se romper durante o simpático afazer. Espigas de milho, eram mais práticas, embora menos confortáveis. (Que os políticos não me leiam, para não serem seduzidos pela informação!). Trocas de roupa: as pessoas tinham quatro peças em média e trocavam uma roupa por temporada. Talvez a invenção do perfume date dessa época. De 1500 a 1800, os nobres usaram perucas, que ficavam infestadas de piolhos, e lambuzavam o couro cabeludo com sebo e ranço. Esticavam e faziam penteados, com o uso de gordura animal. Absorvente higiênico feminino? Almofadas caseiras feitas com musgo, lã ou fiapos de algodão. Não devia ser fácil. 
 
Uma grande vantagem, porém. E extremamente sedutora. Toda vez que acompanho a atuação de políticos, principalmente do Lindbergh Farias, Gleisi Hoffman, Vanessa Grazziotin, Maria do Rosário e de apresentadores como Reinaldo Azevedo, meu estômago revira e sonho com a possibilidade de fugir e viver em algum tempo do passado. E em algum lugar onde eles não estejam, sem qualquer possibilidade de vê-los. Eles, sim, são nojeira.
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br
 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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