O Terceiro Estado


| Tempo de leitura: 2 min
Um “Terceiro Estado”, que hoje se tenta definir na internet brasileira por “Estado do povo esclarecido” é, na realidade contemporânea, somente jogo de palavras. Não somos um povo esclarecido. Estamos longe de ser. Não estão entre nossos hábitos checar informações, buscar fontes confiáveis. Também não é rotina nossa reunir amigos ou companheiros de trabalho para discutir “o país que somos” versus “o país de ansiamos”, nem o que podemos fazer para dar forma à nação que sonhamos. Correm, por aqui e por ali, “convites” a participar de movimento que “precisa” ter cerca de um milhão de pessoas “na avenida Paulista” da cidade de São Paulo, “ainda sem data”, para incomodar definitivamente “os políticos”, fazê-los “tomar jeito” por medo de não se reelegerem, ou de cadeia. (Convenhamos. Nem receio de não reeleger, e nem cadeia assustam mais. Se isso ou aquilo — dizem confiantes —, sempre haverá um jeitinho.
 
Concentrações como essa perderam o viço ou finalidade por excesso e desorganização. Só por causa própria o brasileiro vai à rua. Afirma que se cansou, ou que causa nacional não é causa sua. Sem espírito de corpo motivado por sentimento coletivo e perfeitamente coordenado, nada feito. O que confere eficiência e eficácia a movimentos sociais é permanência, intensidade e articulação. O “Samba do Crioulo Doido”, escrito pelo jornalista, escritor e compositor Sérgio Porto (o Stanislaw Ponte Preta) em 1966, parece, definiu o Brasil com verbo no passado, “para sempre”: “o bode que deu, vou te contar”. (Vade retro o politicamente correto).
 
Para terminar, dois insights, o primeiro sobre a gênese do termo “Terceiro Estado”. Não há nenhum pai moderno para “essa criança”. Vem do francês état tiers e se utilizava para identificar 98% da população francesa que pagava todos os impostos (lembra a condição brasileira hoje? Pois é!). O “Primeiro Estado” era o clero. O “Segundo”, a nobreza, castas que esbanjavam tudo e não pagavam nada (lembra de novo? Então!!!). Mesmo que historiadores digam que não foi tão simples, o “Terceiro Estado”, baseado em permanência, intensidade e articulação, deu origem à Revolução Francesa. O outro insight, é lembrar de texto escrito por Isadora Alves, 18 anos em 2012 (como é bom ver competência na juventude). Suas palavras continuam explicando o Brasil que nos acomoda, mas não nos faz feliz em razão de nossas próprias deficiências: “Demonstrar indignação em relação a escândalos políticos se torna incoerente se quando há oportunidade de discutir política você opta pela omissão, ou quando o protesto se manifesta pelo voto em b
ranco, nulo; ou quando você foca em seu umbigo e escolhe como seu candidato seu vizinho que lhe prometeu um saco de cimento”. (Leia o texto completo em http://mulheroes.blogspot.com.br/2012/09/pais-rico-e-pais-com-povo-esclarecido.html).
 
Luiz Neto
Jornalista, mestre cerimonialista, editor, tutor e mentor de fala e gesto - luizneto@luiznetocomunicacao.com.br

Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Comentários

Comentários