João e os seus sete anos

Desde sempre, meu caçula é muito parecido comigo. Fisicamente ? das covinhas ao cabelo crespo, da barriga ao riso largo, da mão gordinha ao jeito de andar ? e, também, nos gostos e preferências.

16/07/2017 | Tempo de leitura: 4 min

Meu caçula completou sete anos neste sábado. O bebê que veio ao mundo em 2010, que começou a andar exatamente na véspera de completar o primeiro aniversário, que tagarelava aos dois anos, que tirou as fraldas seis meses depois, que aos cinco executava seus primeiros pratos na cozinha, que antes dos seis já escrevia e lia, é hoje aquilo que os antigos definiriam como “um mocinho”. 
 
Sim, João Toledo Franchini Corrêa Neves nada mais tem de bebê. Aliás, uma das coisas que mais o incomoda é justamente chamá-lo assim. Simplesmente não aceita, não importa que argumento  — daqueles toscos, reconheço, típicos de pais  — a gente apresente. “Não sou bebê não, paaaiiiiiii. Sou crrrri-an-ça”, esbraveja, com o “erre” pronunciado aprendido nos incontáveis exercícios com a fono  — e amiga  — Eduarda Gianecchini. Sim, também o sotaque de “Cebolinha” é cada vez menos acentuado, provocando um misto de orgulho, pelos avanços, e saudades, de uma fase que não volta mais.
 
Desde sempre, meu caçula é muito parecido comigo. Fisicamente  — das covinhas ao cabelo crespo, da barriga ao riso largo, da mão gordinha ao jeito de andar  — e, também, nos gostos e preferências. Adoramos ler, assistir filmes, conversar em outros idiomas, música  — Marron 5, Coldplay, Adele e, enfim admito, para deleite da minha mulher, fã assumida, e também do jornalista Edson Arantes, que primeiro me apresentou aos sertanejos, também Bruno & Marrone —, tomar banho de lua, cachorros e gatos, dinossauros, cozinhar, os planetas e as estrelas, os filmes Star Wars, celebrações de modo geral, videogames, nadar, o mar, abraços e, claro, viajar — para qualquer lugar.
 
Se o assunto é comida, a semelhança segue grande. Amamos massas, queijos  — especialmente, parmesão, gouda e muçarela de búfala —, salame, pão, linguiça, ovos de qualquer jeito  — quentes, mexidos, cozidos, fritos, numa omelete —, molho de tomate, batata frita, estrogonofe, coxinha, pastel, esfiha, coalhada seca, manga, pêssego, uva, mexerica e bolo de chocolate.
 
Obviamente, o componente genético explica muitas dessas “coincidências” entre pais e filhos, especialmente aquelas relativas aos atributos físicos. No que se refere aos “gostos”, impossível deixar de considerar que a proximidade faz com que os interesses de um terminem por seduzir, de alguma forma, o outro. É assim que, imagino, muitos dos hábitos e preferências dos pais acabam, de algum jeito, transmitidos aos filhos. 
 
Mas nesta linda e misteriosa conexão, como explicar determinados comportamentos que se revelam idênticos, ainda que não possam ter sido “transmitidos” simplesmente porque jamais aconteceram no mesmo tempo e espaço? 
 
Aqui em casa, um bom exemplo são os gibis. João é aficionado. Especialmente, se for Turma da Mônica. Gosta tanto que espalha pela casa inteira, o que inclui os banheiros. Onde há uma privada, certamente há um gibi da Mônica ou do Cebolinha por perto. Não há cocô sem gibi. Não há sono sem gibi. Não há café-da-manhã sem gibi. Recolher as revistinhas espalhadas é tarefa que sempre gera os indefectíveis atritos entre a mãe e sua cria. Milena faz com o João exatamente o que minha mãe fazia comigo. Porque também eu espalhava gibis pela casa inteira. Mas João nunca me viu lê-los, no banheiro ou fora dele, porque é um hábito que não preservei. Mesmo assim, meu filho age exatamente da forma como eu agia.
 
Outro desses exemplos percebi num pequeno vídeo de uma recente viagem que minha mulher fez com meu filho — como estou no exercício de um mandato parlamentar e o recesso é só no final do ano, fiquei para trás. Milena filmou o João visitando uma igreja. Ele caminha com passos lentos, as mãos unidas por trás, nas costas. Para diante de uma imagem da via crucis, cruza os braços e fica ali, contemplativo. É tão parecido comigo criança que se me dissessem que era eu mesmo naquela imagem, acreditaria sem pestanejar.
 
Mas o mais engraçado foi um episódio que me empurrou diretamente para os anos 80, quando morava numa chácara onde hoje é o condomínio Villa São Vicente. Cheguei em casa e vi o João com um sorriso maroto. Esperou a mãe se afastar para me dizer que tinha que me mostrar uma coisa “só de meninos”. Sorrateiramente, pegou uma revista e me provocou. “Bonita, né, pai?”. Era um catálogo de mulheres de lingerie. Comecei a rir. Quando tinha exatamente a mesma idade, recortava das revistas Amiga e Contigo, que tratavam dos bastidores da TV, os muitos anúncios de mulheres vestindo lingeries e guardava numa pasta. Uma vez fui flagrado por meu pai enquanto admirava os recortes com aquelas mulheres que me fascinavam. A cara que papai então fez para mim, muito mais de encanto do que de reprovação, foi certamente a mesma que repeti para o João. Uma delícia de experiência tanto quando criança quanto agora. Uma recordação que não tem preço. O que explica essas coincidências? Não tenho a menor ideia. Só sei que elas existem.
 
“A melhor maneira de ter bons filhos é fazê-los felizes”, ensinou o célebre escritor irlandês Oscar Wilde. Por mais difícil que seja, não cabe aos pais outra tarefa que não a de tentar cumprir esta premissa. E enquanto isso, se encantar com seus filhos. Parabéns, João. Que você seja muito feliz hoje e em cada dia dos outros tantos ciclos de 7 anos que há de viver. Te amo, meu filho. Para sempre.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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