Em cima do meu guarda roupa tem uma caixa florida com o a seguinte frase: “antes de eu partir” escrita em caneta de ponta grossa. Minha mãe se deu o cuidado de fazer este presente para mim, lá dentro ela guarda objetos importantes de momentos felizes que passamos juntas, e quando ela partir da vida terrena, já deixou antecipado que gostaria que eu olhasse dentro da caixa quando ficasse com saudade. Dia desses, eu quebrei o combinado e abri a caixa florida, vi que ela guardava todos os jornais impressos que já escrevi.

 

O jornal é um papel tatuado com notícias e lembranças, lá eles colocam quem se destaca no mercado, quem fez uma coisa muito errada e até quem já morreu. Comigo é um pouco diferente, quando vou escrever, pego uma folha em branco e penso que se um dia eu tivesse uma doença que apagasse meu passado da lembrança, o que exatamente eu gostaria de lembrar? Então, falo do meu avô, da vida no campo, das roseiras cheias de abelhas mombucão. Tento chegar bem perto dos detalhes do frango caipira com caldo grosso feito pela avó, do cheiro da fumaça do fogão a lenha, e do gosto do café moído no quintal.

 

A partir disso, às vezes me deparo com desconhecidos nas ruas de Franca, alguns dizem animados que leram meus textos no jornal. Dona Maria das Graças contou que depois do meu texto sobre o cheiro do manjericão, plantou uma horta em sua casa; o Natael, um dos taxistas mais antigos da cidade, leu meu texto sobre a doçura de sua personalidade, e chorou; o Tadeu, dono do restaurante, guarda embaixo dos documentos de seu escritório, a edição impressa que escrevi sobre as doces lembranças de trabalhar lado a lado com o seu afeto. A leitura, e, sobretudo, as lembranças bem colocadas no papel transformam as pessoas.

 

O jornal é um jeito doce de conectar as pessoas e eternizar as lembranças, que seja eterno o Comércio da Franca. Feliz Aniversário.