Mais bolsas de estudo

Para complicar tudo, houve um presente de 'boas-vindas' deixado pelo governo anterior.

09/04/2017 | Tempo de leitura: 4 min

Como conseguir que os estudantes de Franca  - que, em sua maioria, frequentaram a vida inteira as escolas públicas da cidade, começaram a trabalhar cedo e, com muito esforço, conseguiram ser aprovados numa faculdade - tenham condições de arcar com as mensalidades cada vez mais altas dos cursos oferecidos pelas autarquias da cidade, principalmente, pela Uni-Facef? Como garantir que os francanos aprovados no curso de medicina consigam se formar, mesmo aqueles que não têm como pagar R$ 5,6 mil reais por mês?
 
A busca de uma resposta para essas indagações, especialmente após a instalação do curso de Medicina com sua estratosférica mensalidade, me fez debruçar sobre o assunto. De forma mais aguda, a partir do instante em que, empossado vereador, passei a lidar cotidianamente com as dificuldades trazidas por alunos que, apesar de academicamente bem preparados e aprovados nos vestibulares das autarquias, simplesmente não conseguiam seguir em frente por conta do valor da mensalidade – e da escassez de bolsas de estudo.
 
Há muita coisa que tenho discutido. Por exemplo, a quem se destina uma faculdade de Medicina municipal que cobra R$ 5,6 mil de mensalidade, tem 83% dos seus alunos vindos de fora e que até ano passado não oferecia nenhuma bolsa para um jovem que não tivesse condições de pagar? É realmente isso que esperamos de um curso mantido por uma instituição pública municipal? Já que a instituição não visa o lucro e pertence ao município, não seria justo que conseguíssemos ajudar os estudantes da cidade? Depois de alguma briga, finalmente o Uni-facef resolveu conceder duas bolsas para Medicina neste ano. É muito pouco, mas pelo menos é um avanço. Se a batalha fosse apenas na Medicina, já seria dura. Mas há, infelizmente, outros tantos cursos onde a mesma dificuldade se verifica. 
 
Para complicar tudo, houve um presente de “boas-vindas” deixado pelo governo anterior quando da aprovação do orçamento municipal de 2017: o valor previsto para o “Bolsa Universidade”, programa que financia estudantes carentes de Franca, havia sido reduzido para a metade do habitual. Ante R$ 1,3 mi que permitiam 162 beneficiados, apenas R$ 750 mil tinham sido reservados no orçamento deste ano. Era uma medida inaceitável.
 
Junto com meus colegas de Câmara, partimos rumo a uma dura batalha para convencer o novo governo sobre a necessidade de reparar o erro. Foram reuniões e mais reuniões com assistentes sociais da prefeitura, procuradores, a equipe da secretaria de Finanças. No final, deu certo. O valor voltou a R$ 1,3 milhão e 162 novos bolsistas serão atendidos. Valeu a pena o esforço.
 
Desde que tomei posse como vereador, tenho uma meta clara: permitir que os estudantes carentes de Franca, desde que aprovados no vestibular, tenham acesso aos cursos das faculdades municipais e consigam pagar as mensalidades até o final. Fiz inúmeros pronunciamentos sobre isso, como podem testemunhar meus colegas vereadores. Para quem tem muita paciência e algum tempo, vale consultar os arquivos das sessões da Câmara Municipal disponíveis no Youtube. O que disse, quando disse e a forma que disse estão lá, registrados.
 
Infelizmente, a discussão tomou um rumo esquisito. A partir de um post de um repórter da TV Clube, no dia 4, dando conta de que uma fonte ligada ao governo havia confirmado a existência de um estudo sobre privatização, e de uma matéria precipitada do portal GCN, rapidamente corrigida, de uma hora para outra todo esse debate em torno da necessidade de uma maior participação das faculdades municipais na concessão de bolsas de estudo se transformou numa “guerra”, como se houvesse um projeto de privatização em tramitação. Ou, ainda pior, como se eu tivesse proposto a privatização das municipais de forma pura e simples. O fato é que não o fiz. O que questionei – e repito – é que se as faculdades municipais se comportam como particulares, o que implica ser “nossa”? Se for para cobrar preços de mercado e não oferecer mais bolsas do que qualquer outra universidade particular, que diferença faz privatizar? O objetivo, e a luta, é para que ambas cumpram sua função pública, oferecendo ensino de qualidade, a um preço mais acessível e com uma maior oferta de bolsas.
 
Desde que a discussão foi demonizada, virei – junto com minha família, colegas de trabalho, amigos – alvo de todo tipo de ataques. Não tenho o menor problema com as críticas, que acho sempre necessárias. Mas o que vem acontecendo não é isso. Tem-se uma tentativa de linchamento moral, com impropérios, palavrões, ofensas pessoais, ameaças e toda sorte de absurdos, vindos de adversário políticos, alunos e, para meu espanto, até de professores, justamente aqueles que jamais deveriam se furtar a discutir coisa alguma, por mais espinhoso que seja o tema, com equilíbrio e respeito. Obviamente, há quem faça pontuações lúcidas e pertinentes, ainda que duras. Mas são minoria.
 
Dizem que “mexi num vespeiro” ao questionar e tentar fazer avançar a participação das faculdades municipais na concessão de bolsas de estudo para quem não pode pagar as mensalidades. Pode ser. Mas se ao final deste processo houver mais alunos carentes sentados naqueles bancos universitários, se ao longo dos anos jovens talentos saídos da escola pública de Franca vestirem um jaleco branco graças a um programa consistente de bolsas de estudo, terá valido a pena. Cada ofensa. Cada xingamento. E todas as ferroadas.
 
Corrêa Neves Júnior, jornalista e vereador em Franca
email - jrneves@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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