Jeitos diferentes de ver o mundo

Os criminosos precisam ser identificados e levados a responder por seus atos. Não dá para aceitar que, misturados aos moradores de rua, provoquem, perturbem e achincalhem o cidadão de bem.

12/02/2017 | Tempo de leitura: 4 min

Estive na tarde da última quinta-feira no Centro Pop. Atendi convite para participar do que, supunha, seria uma visita destinada a conhecer o espaço, seus profissionais e o trabalho desenvolvido. Não foi. O encontro desta última semana foi um ato em defesa do Centro Pop, com direito a muitos discursos cujo teor variaram do técnico/jurídico ao filosófico/apaixonado. Quase todos, carregados de emoção.
 
Comungavam dos princípios de que o Centro Pop é um instrumento correto, adequado e um imperativo legal os promotores de Justiça, a defensoria pública, os religiosos, as assistentes sociais, um estagiário e os frequentadores. Usaram a palavra para defender posições diferentes apenas duas pessoas. Uma, meu colega de Câmara, o vereador Kaká (PSDB), que com a autoridade de quem já experimentou muito do que não presta nesta vida e sobreviveu para se reinventar, disse que é preciso uma profunda reformulação do serviço prestado. O outro, eu mesmo. Disse - para uma plateia respeitosa, registre-se, ainda que avessa ao que escutava de mim - que apesar de tudo o que vi, dos dados que recebi e dos depoimentos que acompanhei, continuo convicto de que o Centro Pop precisa acabar. Obviamente, não sou contrário à ajuda aos moradores de rua. Apenas acredito que o Centro Pop não produz os efeitos que, imaginei, fossem os desejados por todos. Como descobriria ao final do encontro, este é o grande “nó” da questão. Afinal, para que serve aquele local? Como medir seus resultados? O que dizer para quem vive no entorno e se sente prejudicado? Não falta complexidade nas respostas.
 
O senso comum, derivado daqueles princípios elementares que se extraem do pensamento da maior parte da sociedade, preconiza que nascemos para sermos úteis, produtivos, responsáveis. Somos educados por nossas famílias, frequentamos a escola, amamos, crescemos, nos dedicamos a um ofício através da qual vamos garantir o nosso sustento e, desejavelmente, contribuímos para fazer do mundo um lugar melhor, mais justo, digno, fraterno. 
 
Tem gente que simplesmente não consegue. Sucumbe. Há os dependentes químicos de drogas ou álcool, os que são acometidos de depressão profunda, aqueles que não resistem à ruína financeira ou a uma separação dolorosa. Têm ainda os que sofrem de distúrbios mentais e, por mais que alguns insistam em negar, também os bandidos e gente que simplesmente não gosta de trabalhar. Muitos, fazem da rua seu lar. Tudo isto leva à questão principal: o que fazer com essas pessoas?
 
Para mim, a assistência social tem que fazer uma triagem permanente. Quem é dependente químico deveria ser convencido a se tratar numa comunidade terapêutica. É um grande desafio, mas os melhores resultados vêm justamente das comunidades e sua receita que mescla trabalho, valores religiosos e troca de experiências. Em casos extremos, onde a vontade da pessoa esteja comprometida, não há outro recurso além da internação compulsória, sob ordem médica e acompanhamento judicial. Aqueles que tem distúrbios mentais deveriam receber encaminhamento semelhante para clínicas psiquiátricas. 
 
Quem está deprimido, triste ou derrotado precisa receber atenção e encaminhamento prioritário para uma vaga de emprego. Por que não, na prefeitura, numa frente de trabalho que cuidasse de manutenção de praças e ruas? Uma área do abrigo provisório, ampliado, obviamente, poderia receber estas pessoas que, ainda distantes das famílias, teriam, assim, endereço fixo e um lugar para voltar no fim do dia. 
 
Os criminosos precisam ser identificados e levados a responder por seus atos. Não dá para aceitar que, misturados aos moradores de rua, provoquem, perturbem e achincalhem o cidadão de bem. E os que fazem do ócio uma opção de vida, que tenham respeitados o seu direito de ir e vir, mas não de se fixar nos espaços públicos. Nem que esperem ser sustentados por quem trabalha duro, dia a após, para levar o pão para casa.
 
Aqueles que defendem o Centro Pop acreditam que minhas premissas estão absolutamente erradas. Essencialmente, preconizam que a função primordial daquela instalação não é tirar os moradores das ruas, mas cuidar deles. Ainda que tenha sido oferecido tratamento, mesmo que exista uma oferta de emprego ou que a família esteja disposta a acolhê-lo de volta, entendem os defensores do Centro Pop que se o morador desejar permanecer nas ruas, por qualquer razão, que assim seja. 
 
Por isso, rejeitam a mudança de local para uma chácara fora do perímetro urbano. Tampouco aceitam a obrigatoriedade de exigir trabalho como contrapartida pelo apoio oferecido. Na opinião de seus defensores, o Centro Pop tem que ficar próximo aos moradores, para servir de amparo e oferecer assistência. Defendem ainda que sequer é possível medir sua “eficiência” pelo número de pessoas que tenha retirado das ruas, simplesmente porque esse não é objetivo primordial.
 
Obviamente, é uma discussão complexa que não se esgota aqui. Mas, como disse aos que me ouviram no Centro Pop, me recuso a aceitar que o destino de um ser humano seja viver como zumbi, perambulando pelas ruas de uma cidade, sem trabalho, sem propósito, sem vínculos. Exatamente por ter a mais absoluta convicção de que o Centro Pop não oferece uma porta de saída para estas pessoas é que defendo sua extinção. Para mim, não há erro maior do que contribuir para manter este estado de coisas. E o Centro Pop é, hoje, o maior instrumento deste equívoco. 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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