Um novo tempo

Neste início, cada qual procura se adaptar à estrutura de trabalho disponível, aos procedimentos que devem ser seguidos para que indicações, requerimentos e projetos entrem em discussão.

15/01/2017 | Tempo de leitura: 4 min

"Em política é preciso curar os males e nunca vingá-los"
Napoleão  Bonaparte, imperador francês
 
 
 
Fui empossado na manhã de domingo, 1º  de janeiro, no cargo de vereador em Franca. Ao lado de outros 14 colegas de múltiplas origens e variadas visões de mundo, faço parte da legislatura que cumpre mandato na Câmara Municipal até 31 de dezembro de 2020. Dos 15 vereadores, nada menos de dez — aqui incluído o Diretor Marcos (PSDB), suplente de Adérmis Marini (PSDB)  —fazem sua estreia num cargo eletivo. Foi uma renovação recorde. 
 
Neste início, cada qual procura se adaptar à estrutura de trabalho disponível, aos procedimentos que devem ser seguidos para que indicações, requerimentos e projetos entrem em discussão, ao rito das sessões legislativas, com seus formalismos e peculiaridades. Tudo isso enquanto aguardamos que o próprio Executivo — a quem temos de fiscalizar e votar seus projetos — encontre seu ritmo.
 
Além disso, os novos vereadores precisam também descobrir como conciliar suas atividades profissionais — e pessoais — com o trabalho legislativo, o que não é tão simples quanto parece, quer seja pela imprevisibilidade da duração das sessões, quer seja pelo intenso trabalho que acontece nos corredores e gabinetes quando o plenário está “fechado”. Nada é mais equivocado do que imaginar que vereador trabalha apenas em dia de sessão. Para quem quer  — e digo, sem medo de errar, que a maioria dos vereadores demonstra querer muito — há trabalho todo dia, quer seja na Câmara, quer seja nas ruas. São reuniões com secretários e técnicos da prefeitura, com integrantes do Ministério Público, com associações e entidades, nas comissões permanentes... 
 
Há, também, o atendimento à população. São pedidos de lombofaixas, podas de árvore, recapeamento, denúncias de demora na marcação de consultas, problemas com centros comunitários, falta de creches, de iluminação pública, de limpeza urbana, atrasos em obras... Analisar a pertinência de cada reclamação e acionar os mecanismos institucionais adequados  —  pode ser uma simples indicação, um requerimento de informações, uma reunião com áreas específicas da prefeitura ou um discurso contundente na tribuna  —  consome muito tempo. Para dar conta de tudo, o vereador tem a ajuda de dois assessores — um político, de livre nomeação, e um assistente legislativo, escolhido entre o quadro de servidores de carreira. O gabinete é uma sala espartana dividida em dois ambientes, com uns poucos armários, dois computadores e um notebook. Nada mais. 
 
Para dar conta de honrar os votos e a confiança que recebi de milhares de eleitores, decidi fazer o que muitos julgavam impossível: me afastar das funções de direção que exercia no Comércio da Franca e na rádio Difusora. É uma pausa, enquanto durar o exercício das funções eletivas. Fiz isso muito mais por dever de consciência do que por obrigação legal. Quero ser avaliado, cobrado e julgado como qualquer outro vereador. Mesmo assim, não foi uma decisão fácil, ainda mais considerados os enormes desafios que se impõem neste instante sobre os negócios de mídia. Mas tenho a mais absoluta convicção de que há um time preparado à frente das distintas empresas capaz de tomar as melhores decisões possíveis em cada cenário. No jornalismo, sigo como comentarista do Hora da Verdade, na Difusora. Aos domingos, escrevo neste espaço, não necessariamente sobre política  — nem sobre Câmara. Falo sobre qualquer assunto do cotidiano, de um conflito no Oriente Médio às peripécias de meus gatos e cachorros, de um lugar que tenha 
visitado às conquistas de meus filhos, de um drama que tenha me comovido a uma situação que me indigne. 
 
De resto, estou vereador. Farei o impossível para corresponder à confiança e expectativa de tanta gente que apostou em mim. Sei também que não estou sozinho nesta luta para derrubar a premissa de que político é tudo “farinha do mesmo saco”, de que a Câmara “não serve para nada” e de que vereador só funciona para arrumar caminhão de terra. Tenho visto com orgulho e entusiasmo a atuação de meus colegas, muitos deles preocupados com discussões relevantes. Se é fato que já propus o congelamento da tarifa de ônibus por um ano, pedi informações sobre a Faculdade de Medicina da Uni-Facef e eventuais contrapartidas que ela ofereça aos estudantes de Franca, relatórios sobre as verbas municipais repassadas à Apae, sobre os convênios com atletas e outras tantas coisas, há colegas que não ficam atrás.
 
Cristina Vitorino (PRB) quer detalhes sobre os camelôs que operam nas praças do Centro e a relação dos funcionários que fazem parte da secretaria de Ação Social. Kaká (PSDB) quer informações sobre a fila de cirurgias eletivas. Della Motta (PTN) está atrás dos eventuais resultados, se é que existem, do Centro Pop. Claudinei da Rocha (PSB) procura tudo sobre o funcionamento dos Ecopontos. Não são assuntos banais. E esses, são apenas alguns exemplos. Cada um desses requerimentos vai ensejar uma resposta do Executivo  —  e, a partir daí, um trabalho específico. Há muito a ser feito. E, aposto, vamos fazer. 
 
PS: para não dizer que não falei do “bonde da Couromoda”, achei exagerada a ida de nove colegas hoje a São Paulo para a cerimônia de abertura, muitos acompanhados de seus assessores. Não é ilegal mas, certamente, é inconveniente. Uma pequena comitiva, de dois ou três vereadores que sejam integrantes de comissões afins, cumpriria idêntico papel. E com muito menos desgaste. 
 
Corrêa Neves Júnior, jornalista e vereador em Franca
email - jrneves@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

Fale com o GCN/Sampi! Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Receba as notícias mais relevantes de Franca e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.