Mudar para prosseguir

Seguimos lutando com todas nossas forças e energia para que Franca mantenha sua voz mais tradicional.

13/11/2016 | Tempo de leitura: 4 min

“A mudança é a lei da vida. E aqueles que confiam somente no passado ou no presente estão destinados a perder o futuro”
 
John F. Kennedy, político americano
 
 
O jornal Correio de Uberlândia tem sido a principal voz do Triângulo Mineiro, uma das mais ricas e desenvolvidas regiões do Brasil. Circula há 80 anos. Seus proprietários, os acionistas-controladores do Grupo Algar, um dos maiores conglomerados empresariais do país, escolheram o último 2 de novembro, Dia de Finados, para um triste comunicado: em 31 de dezembro de 2016 o Correio vai circular pela última vez, tanto em suas versões impressas quanto online. “A decisão é fruto de reconhecidas dificuldades do mercado mundial de mídia e de meses de estudos de viabilidade (...)”, diz trecho da mensagem. A partir de 1º de janeiro de 2017 a cidade de Uberlândia, que com seus 750 mil habitantes é a segunda maior de Minas Gerais, não terá mais nenhum jornal diário para registrar sua história, debater seus problemas, denunciar abusos, reivindicar soluções. Nem no papel, nem na internet.
 
O triste fim do Correio não é um evento isolado. Nos últimos meses, têm se multiplicado os casos de jornais que cessaram suas operações, deixando órfãos milhares de leitores. Apenas neste ano, sucumbiram o Jornal de Londrina (começo de janeiro); o Jornal da Paraíba (10 de abril) e o Jornal do Commercio (29 de abril). Este último, simplesmente, o mais antigo jornal do Brasil. Fundado em 1828, circulou por impressionantes 188 anos.
 
Outros jornais, alguns entre maiores do Brasil, caso da Zero Hora (Porto Alegre-RS), extinguiram suas edições de domingo. No lugar, “lançaram” edições condensadas de final de semana, o que na prática significa juntar os jornais de sábado/domingo numa única data. Fazem parte desta lista o Valeparaibano (São José dos Campos-SP), Folha de Londrina (PR), Diário de Pernambuco (Recife-PE), Diário do Nordeste (Fortaleza-CE) e Estado do Maranhão (São Luis-MA), todos agora sem edições dominicais.
 
No resto do mundo, o drama não tem sido diferente. Exceção feita à Índia, no restante dos países os jornais enfrentam dificuldades para sustentar suas operações, num paradoxo difícil de explicar – e mais ainda, de administrar: apesar da queda da circulação, os principais jornais ainda têm dezenas de milhares de leitores fiéis, que esperam ansiosamente pelas notícias estampadas nas páginas de seus títulos preferidos a cada manhã. Além disso, as operações online destes mesmos jornais são habitualmente líderes, atraindo, não raro, centenas de milhares de leitores por dia, num alcance que os impressos sozinhos nunca tiveram. 
 
Mesmo assim, falta dinheiro. A publicidade no impresso recuou – e na internet, apesar de estar em crescimento, ainda é insuficiente frente às despesas dos portais de informação. Assim, ainda que os publishers nunca tenham atingido antes tantos leitores, jamais tiveram tão poucos recursos para bancar suas despesas como agora.
 
O problema é tão profundo que, nos Estados Unidos, muitos jornais hoje sobrevivem do mecenato. O caso mais emblemático é o do bilionário Warren Buffet, segundo homem mais rico do mundo, que adquiriu o controle de 69 jornais regionais americanos – 20 deles, apenas nos últimos três anos. Por que Buffet faz isso? Por um misto de gratidão e senso de dever. Segundo Buffet, as informações precisas e relevantes fornecidas por jornais foram fundamentais para que ele conseguisse construir sua fortuna no mercado de ações. Sem que houvesse fontes de informação independentes e confiáveis - muito diferente do tiroteio irresponsável que hoje se vê em certas comunidades de Facebook - Buffet avalia que dificilmente teria chegado aonde chegou. É exatamente por este tipo de jornalismo que Buffet está disposto a lutar.
 
Alguns colegas bilionários de Buffet também tomaram decisões semelhantes. John Henry, dono do Red Sox, equipe de baseball de Boston., e do Liverpool, time de futebol inglês, decidiu investir R$ 250 milhões para assumir o controle do diário The Boston Globe. Jeff Bezzos, fundador da gigante de internet Amazon, gastou mais – cerca de R$ 875 milhões – para comprar o icônico The Washington Post. Sorte dos editores, jornalistas e leitores americanos, que podem contar com o tipo de apoio que Buffet, Henry e Bezzos estão dispostos a oferecer.
 
Por aqui, onde a crise teima em seguir provocando danos e as perspectivas indicam uma lentíssima recuperação, a alternativa que resta aos editores de jornais é trabalhar cada vez mais duro, cortando despesas até onde pareceria impossível, e ainda apelar para soluções criativas que gerem economia sem prejudicar o conteúdo.
 
Uma dessas soluções o Comércio adota a partir de terça-feira, quando passa a circular no formato berliner, menor e mais compacto. A medida vai resultar numa economia imediata de 32% nos custos de impressão e de 50% no consumo de energia elétrica. Não é pouca coisa, ainda mais se considerado que, apesar da redução do formato, não há qualquer prejuízo no volume do noticiário. 
 
Seguimos lutando com todas as nossas forças e energia, ao lado de uma equipe engajada e batalhadora, para que Franca mantenha sua voz mais tradicional e valente. Uma voz que há quase 102 anos se ergue sem medo para denunciar o que há de errado, cobrar providências, resistir às tentativas de intimidação, estimular o debate, registrar a cotidiano – e que, exatamente por isso, tem sido tão fundamental para Franca e região. No que depender da gente, o Comércio vai continuar a ser essa voz, qualquer que seja a plataforma, por muito tempo. Esforço, dedicação, coragem e empenho não vão faltar. Nunca.
 
 
Corrêa Neves Júnior, diretor executivo do GCN 
email - jrneves@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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