Quando a disputa política vira baixaria

Dentro de quinze dias os francanos voltam às urnas. Sente-se que a disputa está parelha. Especialmente por isso, bom senso, prudência, respeito e educação não fazem mal a ninguém.

16/10/2016 | Tempo de leitura: 4 min

“Os problemas da vitória são mais agradáveis do que aqueles da derrota, mas não são menos difíceis”
Winston Churchill, político e escritor inglês
 
 
O Brasil é tido como um país tolerante, de gente pacífica e agradável, onde as diferenças são respeitadas e a convivência é harmônica. Ou, pelo menos, costumava ser. De uns tempos para cá, brasileiros de distintas idades, classes sociais, credos e, obviamente, ideologias, têm se revelado tristemente agressivos e desrespeitosos quando se propõem a falar sobre política. Se a discussão acontece num ambiente virtual – área de comentários de um portal de notícias, Facebook ou Whatsapp– tem-se então um vale-tudo onde o primeiro compromisso é com a ofensa e o último, com a verdade. 
 
Tome-se como exemplo o recente imbróglio do desastrado professor Frank, candidato a vice na chapa encabeçada por Gilson de Souza (DEM). Diz o professor, num dos áudios que vazaram nas redes sociais na tarde da última quarta-feira, que “se roubar, roubou, se não roubar, beleza”. Num segundo áudio, vaticina: “eu, ficar correndo atrás (do eleitor), ficar fingindo de legal, pegar na mão do povo, aí não, eu não gosto disso não”, afirma.
 
O áudio foi gravado pelo próprio professor, que conversava com alguma interlocutora que não foi tão discreta quanto ele, certamente, esperava. Mas a gravação é autêntica, como o próprio Frank admitiu, e não foi editada. Teria sido muito mais simples se desculpar, lamentar as frases infelizes e seguir a vida. Mas o que fizeram seus apoiadores? Exatamente o contrário.
 
Passaram a violentamente atacar qualquer um que comentasse sobre o assunto. Mais realistas que o rei, insistiam, num primeiro momento, que não era “verdade”. Depois, sustentaram a versão da “montagem”. Como nem uma coisa nem outra colou, foi hora de exaltar as virtudes de Frank, como sua honestidade, caráter, competência, origem humilde, etc.
 
Fica a pergunta elementar: o que uma coisa tem a ver com outra? Quem criticou a conduta em sala de aula do professor Frank? Desde quando ser honesto exime alguém de dizer bobagens? Frank disputa neste instante um cargo público. Quando ele mesmo diz que detesta fazer isso, têm-se um assunto relevante. Se insinua que o candidato principal de sua chapa pouco se importa quando é acusado de qualquer coisa, é igualmente relevante. Cabe à imprensa perguntar. E ao eleitor, decidir. O que não tem cabimento é tratar todo mundo que achou a conversa constrangedora como “inimigo”.
 
Nas trincheiras tucanas, também nem tudo são flores. A frustração com a falta de definição da disputa ainda no primeiro turno elevou o nervosismo a níveis mais altos que os desejáveis. Iniciado o segundo turno, houve gente atrapalhada recorrendo a montagens absurdas com a filha do candidato Gilson de Souza e, ainda mais insano, espalhando pelas redes sociais cópias de um contrato de empréstimo. O que queriam provar? Que ele apoiou a carreira da filha cantora? Quem não sabe disso? Se há ilícito, que mostrem provas. Ou então, que parem as ilações. 
 
Há ainda o tal contrato, onde o “crime” de Gilson teria sido atrasar duas prestações. O mais curioso é que nos documentos exibidos como troféu é o próprio candidato que aciona o banco na Justiça para tentar pagar o que deve, enquanto o credor parece dificultar o recebimento. Mas ainda que houvesse pura e simplesmente as parcelas em atraso, o que isso provaria? Que Gilson de Souza deu um imóvel em garantia para obter um empréstimo? Só rico pode ser prefeito? É um ataque covarde e indevido. Fico apenas pensando em como um documento sigiloso de uma cooperativa de crédito foi parar numa rede social...
 
Há por fim o post-manifesto de Alexandre Ferreira (PSDB). O texto é um compêndio de ódio, amargura e rancor, com Alexandre insinuando que abrigou apadrinhados de Sidnei Rocha no seu governo. Pior, mesmo, é a “lembrança” que resgatou de quando teria acompanhado Sidnei Rocha em consultas médicas para avaliar a evolução dos “pólipos intestinais”, insinuando que o candidato teria câncer, bem como precisaria de uma espécie de respirador artificial para não sofrer paradas cardíacas. 
 
De novo, o que dizer de um despautério desses? Alexandre, como prefeito, tem a caneta na mão. Se os “apadrinhados” não eram competentes, porque não os demitiu? Sobre a saúde, Sidnei Rocha já disse que não tem câncer e explicou que o tal “respirador” é uma engenhoca para diminuir roncos. Mas e se tivesse câncer? Lula teve e seu vice, José Alencar, também. O primeiro venceu a doença. O segundo sucumbiu a ela, mas só depois de cumprir seus oito anos no cargo. Dilma Rousseff sofreu do mesmo mal, mas não foi um tumor que a tirou do Planalto. Doentio, mesmo, só o raciocínio de Alexandre, que pelo menos fez o favor de deixar explícito que não há clima entre ele e Sidnei para a mínima convivência – e, muito menos, para indicação a cargos - se o tucano for o escolhido para governar a cidade. 
 
Dentro de quinze dias os francanos voltam às urnas. Sente-se que a disputa está parelha. Especialmente por isso, bom senso, prudência, respeito e educação não fazem mal a ninguém. O eleito representará um pouco mais de 50% da população. O derrotado, um pouco menos da metade. Um grupo fez oito vereadores. O outro, sete. De um jeito ou de outro, todos terão que conviver a partir de segunda-feira, 31 de outubro. Quando maior o respeito e menores os danos, melhor para Franca. 
 
 
Corrêa Neves Júnior, diretor executivo do GCN 
email - jrneves@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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