Eleições

Pode ser que o alerta esteja há algum tempo na televisão, mas eu só ouvi agora: “Os próximos quatro anos começam com seu voto de domingo”.

30/09/2016 | Tempo de leitura: 3 min

Pode ser que o alerta esteja há algum tempo na televisão, mas eu só ouvi agora: “Os próximos quatro anos começam com seu voto de domingo”. Óbvio, claro. Todavia bateu no canto do meu coração onde mora o medo. Medo dos resultados que serão apresentados no final das apurações. Talvez sentisse apenas insegurança, pensei, porque voto é coisa séria. Melhor pesquisar o perfil dos candidatos, embora já tenha escolhido aqueles em quem depositarei minha confiança de eleitora. Fiz a pesquisa. Resultados no mínimo interessantes. Começa que são seis candidatos a prefeito; duzentos e quarenta e um candidatos a vereador. Escolaridade, muitos têm ensino médio completo e quase nenhuma experiência política, coisa de pouquíssimos. Profissionalmente, nas declarações se dizem bancários, profissionais liberais, comerciários, professores, empregados nas indústrias francanas e até “outros”, que não sei bem o que significa. Imaginei alguém perguntar ao candidato: qual sua ocupação profissional? E ele responder “outros”. Acho que não precisa estudar para ser “outros”. 
 
Maioria dos candidatos se revela quase sem formação escolar. Lembro-me, dos argumentos usados quando, numa das grandes mudanças do sistema eleitoral, discutia-se sobre o direito de voto do analfabeto. Lembro-me em especial da resposta à pergunta: analfabeto trabalha e contribui pagando impostos? Sim. Então ele tem direito de escolher seus representantes. Entendi naquela ocasião que não saber ler e escrever não eram por si só indicativos de analfabetismo. Analfabetismo era a situação de letrados incapazes de interpretar sua circunstância. Por exemplo, diante de evidências de corrupção, manipulação das leis ou favorecimentos pessoais em detrimento da coletividade, muitos que sabem ler e escrever ainda defendem os acusados de tais crimes. Isso é ser analfabeto. Diante disso, muitos candidatos a vereador, quase sem escolaridade, não podem ser considerados incapazes ao cargo. Outra parte, mesmo com diploma, é analfabeta de pai, mãe e parteira. 
 
Pudesse, sabatinaria os candidatos à vereança. Primeira pergunta: se o cargo não fosse remunerado, ainda se candidataria para servir a comunidade, mesmo com sacrifício da vida particular? Segunda: sabe quais são as atribuições do vereador? Já foi eleito para assumir algum cargo de direção em associação estudantil no tempo de estudante secundário ou universitário? De outra associação qualquer? Tem noção do que seja estatuto ou regimento? Sabe o que é plano de governo? Já leu alguma páginas da Constituição Brasileira? Lembra nomes nos quais votou a deputado federal, estadual, e senadores nas últimas eleições? O texto faz sentido; sabe onde se encontra? Já o leu ou interpretou alguma vez? Veja: “Art. 1º) O Poder Legislativo local é exercido pela Câmara Municipal e se compõe de Vereadores eleitos pelo voto direto e secreto, com funções legislativas, de fiscalização financeira e de controle externo do Executivo, de julgamentos político-administrativo, desempenhando ainda as atribuições administrativas, atinentes à gestão dos assuntos de sua economia interna.” (É modelo das disposições preliminares de um Regimento Interno de Câmara Municipal.) Teria muitas outras questões a fazer, mas começaria com essas. Não sei que respostas seriam dadas, mas posso presumir. 
 
O país está mergulhado em crise sem precedentes que mistura inflação; recessão; desemprego; caos na saúde; retrocesso na educação; segurança pública temerária; crescimento econômico pífio; sobejam  provas de corrupção desenfreada; empreendedores e empresários, pequenos e grandes, estão descrentes de solução de curto ou médio prazo, como de medidas econômicas que minimizem negras perspectivas. Não é hora de brincar de ser vereador. Ou prefeito. É nas prefeituras e câmaras que começam os descalabros brasileiros, que se avolumam até chegar naqueles do governo federal. Lembremo-nos disso neste domingo, na hora de votar.
 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
jornalista, escritora, professora - luciahelena@comerciodafranca.com.br
 

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