Caseiro, ‘profissão perigo’


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Outro dia, em nossas andanças pela cidade, nos deparamos com senhor, já de certa idade, procurando emprego. Havia se mudado da área rural onde era caseiro em sítio. Não conseguia mais dormir frente aos constantes atos de violência ocorridos na sua região. Bem, vamos à análise das questões sociais que definem esse problema: como é que pessoa de idade já avançada, que sempre viveu na zona rural, não possui qualificação funcional, vai arrumar emprego que lhe dê sustento mínimo na cidade?
 
O elevado grau de insegurança e o aumento da criminalidade na zona rural aumentaram muito. São assaltos a fazendas, a cargas de produtos colhidos, além de dinheiro, maquinários e equipamentos agrícolas, produtos estocados nas propriedades, veículos, eletrodomésticos, eletroeletrônicos etc. E os criminosos são cruéis. Mesmo que suas vítimas não reajam, eles agridem e matam.
 
Na realidade, a insegurança muda a rotina no campo e produtores acumulam prejuízos e se dizem reféns da criminalidade. Muitos estão investindo em equipamentos de segurança, como monitoramento, alarmes e cães. A ilusão de que o crime reside somente nos grandes centros não se sustenta há muito tempo. Só nossas autoridades não querem ver.
 
Além de causar prejuízos enormes, causa muita frustração a produtores e moradores do campo, uma vez que, mesmo os ladrões sendo presos, raramente é possível reaver o que lhes foi subtraído. A impunidade e a falta de policiamento preocupam. O patrulhamento rural que funcionava bem em nossa região até anos atrás, foi desmantelado. O governo do Estado não investe no aumento do número de policiais. O número de viaturas é insuficiente frente ao aumento da demanda de patrulhamentos. Rurícolas estão trancafiados dentro de suas casas com medo, e a bandidagem corre livre pelos campos. 
 
A propriedade rural virou alvo de quadrilhas ou bandos. As autoridades não dão conta do crescente número de atos ilícitos devido à distância entre propriedades rurais e a sede dos efetivos de segurança. O homem do campo está meio que abandonado. Por outro lado, fazendeiro, sitiante ou caseiro que almeja portar arma de fogo para se proteger ante a inércia do poder público, pode ser considerado criminoso se não tiver porte legal e arma registrada. O homem rural está rendido aos meliantes. Enquanto isso o Projeto de Lei Federal 3.722/12, que altera o Estatuto do Desarmamento, ampliando a utilização de armas em propriedades rurais, encontra-se parado, sem, ao menos, ser debatido. É evidente que o morador do campo tem que tomar medidas preventivas: manter sempre alguém na propriedade; não deixar materiais e gado próximos a vias de tráfego; manter cães de guarda; possuir equipamentos de segurança; selecionar rigorosamente os profissionais contratados etc. Como diz o adágio popular, ninguém pode dar ‘sopa para o azar’.
 
Há anos estamos reivindicando a reativação de postos e barreiras de fiscalização em estradas, coibindo o livre trânsito e cargas roubadas. Também estamos pedindo mais investimentos em telefonia móvel e acesso à internet na área rural, evitando isolamento do produtor e de sua família. A propósito por que as autoridades locais não questionam a Anatel sobre a falta de sinal que se verifica a poucos quilômetros da cidade?
 
A insegurança na zona rural é preocupante e continua sempre tratada com certo descaso e demagogia por algumas autoridades. Desestimulados, muitos nem vão às delegacias para denunciar crimes já que. enfrentam dificuldades até para registrar Boletim de Ocorrência. Moradores da zona rural merecem respeito e atenção imediata! E, como morar e trabalhar no campo se tornou ‘profissão perigo’, está ocorrendo migração para as cidades, fonte de problemas econômicos e sociais. Enfim, será que não há dinheiro para proteger um setor que gera tanta renda e emprego?
 
 
Toninho Menezes
advogado, professor universitário - toninhomenezes16@gmail.com
 

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