Morreu Maria Ignez Figueiredo


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Maria Ignez Figueiredo foi sepultada no Cemitério da Saudade, dia 7
Maria Ignez Figueiredo foi sepultada no Cemitério da Saudade, dia 7

“Ela me melhorou como pessoa, e a tantos que com ela conviveram. Sua maior lição foi a de que neste mundo materialista, é preciso se dedicar a quem não tem nada”

Morreu na madrugada do dia 7, em sua casa, a senhora Maria Ignez Figueiredo, conhecida modista/costureira que atuou por décadas em Franca. Tinha 93 anos. Nos dois últimos anos, apenada pela morte de seu irmão Moacir, que com ela viveu por quase 70 anos, entregou-se a profunda tristeza, o que fez recrudescer Alzheimer que portava. Seu organismo não resistiu.

“Titia residiu, no último ano e meio, em casinha que, com minha prima Ana Maria Figueiredo, preparamos para ela. Duas cuidadores nos ajudaram a minorar o sofrimento da perda de seu irmão. Na madrugada de sua morte, a acompanhei até o final. Foi muito triste. O que ela mais queria era reencontrar o irmão”, disse a sobrinha Elaine, mulher de Marcelo Marques Martinez Gouvêa e diretora da Escola Mundo Mágico, Colégio Gandolfi.

Maria Ignez era filha de tradicional casal de agricultores de Patrocínio Paulista (MG), João Justino Figueiredo e Maria Carolina do Nascimento. Foram seus irmãos, além de Moacir, Geraldo, casado com Beatriz; João, casado com Raquel; José, casado com Aparecida; Conceição, casada com José Miné; Maria de Lourdes, casada com Roque; Emília e Anézia.

Ela e ele se mudaram para Franca em 1947. Não formaram família e se tornaram inseparáveis. Ele trabalhou por décadas como taxista, seu ponto estabelecido à frente da Catedral Sé de Nossa Senhora da Conceição. Maria Ignez, dons especiais para a costura, formou grande clientela dentre senhoras francanas e de várias cidades da região. “Ela trabalhou por anos com dona Mercedes, também modista, cujo atelier ficava na rua Libero Badaró, em Franca”, disse Elaine.

Maria Ignez e seu irmão Moacir foram inseparáveis. Onde um ia, o outro também seguia. “Até a morte dele, residiam ambos nas proximidades do DER e Hospital Allan Kardec, região onde teve um bar em outra época de sua vida. Eram caseiros ao extremo. Já na velhice, tornaram-se personagens da mesma região. Podiam ser vistos, todos os dias, fazendo pequenos passeios, geralmente terminados no supermercado Peg Lev da Vila Nossa Senhora Aparecida (hoje Rafa’s), onde faziam suas comprinhas. Voltaram ao supermercado várias vezes ao dia, algo bem próprio da idade. Ele ia à frente, e ela, mais atrás. Todo mundo os conhecia e cumprimentava. Muitos pensavam que formavam um casal, mas eram irmãos completamente apaixonados um pelo outro”, disse Elaine.

“Depois da morte de Moacir, era preciso cuidar dela, de sua tristeza, de sua necessidade de companhia, e companhia de dia todo. Reformei pequena casinha de minha família, vizinha de onde moramos, e a levei para lá. Cuidadoras foram essenciais, e aí, Ana Maria (viúva do juiz Rafael Infante Faleiros), foi determinante para que nossa tia tivesse toda a atenção que estava a exigir”.

“Titia também foi pela vida, grande professora. Aprendi muito com ela. Ensinou-me que dinheiro não compra tudo, que é preciso fazer caridade, que é indispensável olhar para o outro em suas necessidades. Quando percebi que tinha que cuidar dela em tempo integral, nosso relacionamento cresceu ainda mais. Tornou-se, primeiro, a ‘avó paterna’ que não tive. O que fosse que lhe pedissem, dizia que precisava me consultar. Depois, pela tristeza e pela doença, virou um bebê inseguro. Eu e Ana Maria, literalmente, a pegamos no colo. Ela me melhorou como pessoa, e a tantos que com ela conviveram. Sua maior lição foi a de que, neste mundo materialista, é preciso se dedicar a quem não tem nada. Queria muito partir ao encontro de seu irmão. Sem ele, era como se tivesse perdido as duas pernas e os dois braços. Estamos conformados. Sei que estão juntos agora, e continuarão pela eternidade”, concluiu, emocionada, a sobrinha.

Velório foi realizado no São Vicente de Paulo. Sepultamento, com serviços da Funerária São Francisco, foi realizado no túmulo da família — onde descansam todos os irmãos dela — no Cemitério da Saudade de Franca, dia 7, 16 horas. 

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