A verdadeira história


| Tempo de leitura: 3 min
Acamado em razão de probleminhas de saúde, assistimos entrevistas, na televisão, sobre o governo militar de 1964 a 1985. Ficamos estarrecidos com entrevistados dizendo que tudo foi ruim naquele período. Assim, resolvemos abordar o tema, mesmo sabendo que vamos ser ‘bombardeados’ como em outras oportunidades, em razão de contradizermos o que se tornou comum afirmar, especialmente aos jovens, sobre aquela era. O período não foi impopular, como se afirma.
 
Reiteramos o que já escrevemos várias vezes: nada justifica a ruptura com a democracia que se prolongou, naquele período, por mais de duas décadas; nem casos de excessos e desrespeito a direitos para enfrentar a esquerda e o terrorismo. Há, porém, fatos que não podem ser negados como fizeram entrevistados no programa que vimos. Naqueles 21 anos, o Brasil se tornou a 8ª economia do mundo e toda a sociedade foi beneficiada. Pela primeira vez na história, vivemos período de pleno emprego. Salários subiam por pressão de demanda. Havia mais postos de trabalho que trabalhadores desocupados. O PIB cresceu, em média, 6% ao ano. Apesar disso, nossa abordagem de hoje, é outra.
 
Queiramos ou não, a história verdadeira conta que foi com forte apoio popular que militares ocuparam o poder em 1964. Em 1965, houve eleições diretas para governador em onze Estados. A oposição só venceu na Guanabara e em Minas Gerais. No mesmo ano implantou-se o bipartidarismo (ARENA,do governo; e MDB, da oposição). Em 1966 houve eleições para o Congresso Nacional. A ARENA fez 19 senadores e o MDB, quatro; a ARENA elegeu 277 deputados federais e o MDB, 132. 
 
Em 1968 foram disputadas as primeiras eleições majoritárias municipais. A ARENA venceu com folga o MDB, no cômputo nacional. Em 1970, já em vigência o AI-5, houve nova eleição para renovar dois terços do Senado e a ARENA obteve sua maior vitória: elegeu 41 senadores enquanto o MDB (que diante da fragorosa derrota chegou a pensar em auto-extinguir-se) conseguiu apenas cinco cadeiras. 
 
Em 1972, ainda sob AI-5, nova eleição municipal e nova vitória da ARENA. Só em 1974, nas eleições para renovar um terço do Senado, ocorreu a primeira vitória do MDB, que fez 16 senadores contra seis da ARENA. Mas, em 1978, revogado o AI-5, a ARENA voltou a vencer as eleições para o Congresso: fez 15 cadeiras contra oito do MDB; e 231 cadeiras na Câmara dos Deputados contra 191 do MDB. 
 
As eleições de 1980 foram postergadas para 1982. Nesse pleito, que antecedeu a redemocratização, o regime já contabilizava absurdos 18 anos, mas ainda contava com surpreendente apoio popular. Sob nova lei, que fez retornar o multipartidarismo, ocorreram, naquele ano, eleições gerais que incluíam, pela primeira vez no período, as diretas para governador. Resultado: o PDS, que sucedera a ARENA, elegeu 12 governadores; o PMDB, nove; e o PDT venceu no Rio de Janeiro com o gaúcho Leonel Brizola. Para o Senado, o PDS fez 15 senadores (incluídos três de Rondônia que se transformara em Estado), o PMDB, nove; e o PDT apenas um. Na Câmara dos Deputados, o PDS conquistou 232 cadeiras, o PMDB, 200; o PDT, 23; o PTB, 13; e o PT, 8. Foi esse plenário que comandou a última eleição presidencial indireta, com a vitória de Tancredo Neves.
 
Caro leitor. Como se vê, em contradição ao que se tornou senso comum, o regime nunca foi impopular. A luta armada só retardou a redemocratização que nunca esteve entre os objetivos de esquerdistas, dada a ideologia comunista de suas milícias. Malgrado erros inaceitáveis, casuísmos, cassações de mandatos, absurdas ‘áreas de segurança nacional’, a arrogância da ‘linha dura’ e descabido continuísmo, a sociedade reconhecia méritos na hora de votar. Apesar de nossas ideologias, não gostamos de mistificações como forma de colher dividendos políticos com acirramento de ânimos através da mentira e da omissão da verdade.
 
 
Toninho Menezes
advogado, professor universitário - toninhomenezes16@gmail.com
 
 

Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Comentários

Comentários