Réquiem para o prefeito Alexandre Ferreira

O prefeito Alexandre Ferreira sofreu uma derrota acachapante na última terça-feira.

24/04/2016 | Tempo de leitura: 4 min

“A soberba precede a ruína; 
e o orgulho, a queda”
 
Provérbios, 16:18

 
O prefeito Alexandre Ferreira (PSDB) sofreu uma derrota acachapante na última terça-feira, quando a Câmara Municipal aprovou, por 12 votos a 2, a instauração de uma Comissão Processante para julgá-lo e, no limite, cassar seu mandato por crimes de responsabilidade cometidos na contratação do ICV (Instituto Ciências da Vida). 
 
Diante da gravidade das acusações e do placar da votação, era de se esperar que Alexandre enfim passasse a entender a dramática realidade que se impõe. Mas, tal qual Dilma Rousseff (PT), de quem é um arremedo, o prefeito de Franca insiste em viver dentro de uma ilusão, apelando a argumentos falaciosos para tentar se justificar. As duas únicas manifestações públicas que fez desde terça-feira confirmam de forma deprimente tais premissas. 
 
A primeira, poucas horas após o fim da sessão, por meio de uma Nota Oficial. Em poucas e mal redigidas linhas, Alexandre diz, textualmente, que “considera ser importante mais uma frente de apuração dos fatos relativos ao objeto de instalação da CP (Comissão Processante), que já estão sendo investigados por outros órgãos, como Ministério Público e Polícia Civil”. 
 
É uma mentira deslavada. Se de fato considerasse importante a investigação, não teria feito o que fez para tentar impedir a aprovação da Comissão Processante. O prefeito fez pessoalmente reunião com vereadores e cobrou “reciprocidade” dos que tinham sido agraciados com caminhões de terra, semáforos, lombofaixas ou, moeda mais cobiçada da atual gestão, academias ao ar livre. Durante a sessão, seu líder, Luiz Carlos Vergara, fez o que pode para dificultar a votação. De alegar que o blogueiro Marcelo Bomba, um dos denunciantes, não havia comprovado domicílio eleitoral em Franca, até tentar invocar o quórum de 2/3 no lugar de maioria simples para que fosse aprovada a Comissão Processante. Suas manobras foram anuladas pela firme e correta condução do presidente Marco Garcia (PPS), que manteve o rito da sessão, sem se deixar levar por chorumelas. 
 
A segunda manifestação de Alexandre veio numa participação no programa Balanço Geral, da TV Record – ao Comércio, ele se recusa a falar. Na entrevista, despeja um balaio de absurdos. “Nós aguardaremos os cinco dias para que eles nos notifiquem e nos digam do que nós estamos sendo acusados. Se for pela licitação, o Ministério Público e o Tribunal de Contas já disseram (…) que as contratações foram feitas de maneira legal. Se for em função dos supostos falsos médicos que trabalharam aqui, nem o Conselho Regional que fiscalizou, nem o Cremesp (…) nem o Ministério Público que também fiscalizou durante o processo, que foram no pronto-socorro fiscalizar durante os trabalhos, ninguém sabia que os médicos não tinham a documentação correta”. Não satisfeito, ainda arrematou com uma das maiores manifestações de miopia política da história desse país. “Se acontecer a cassação, é meramente política, para evitar que eu seja novamente candidato a prefeito”, afirmou.
 
Poucas vezes se viu tanta bobagem reunida numa entrevista tão curta. Para começar, sobre a licitação que teria sido validada pelo Ministério Público, o que houve foi exatamente o contrário. O MP entrou com medida cautelar para que houvesse suspensão de qualquer pagamento remanescente ao ICV por parte da prefeitura, o que foi deferido pela justiça. Cerca de R$ 1,5 milhão que seriam pagos ao instituto ficaram bloqueados, exatamente por conta de falhas e omissões na “contratação” dos falsários. 
 
Pior ainda é o “argumento” de que o Cremesp e o MP fiscalizaram e não encontraram nada. O Cremesp encontrou os plantões fantasmas que sangravam os cofres públicos e encaminhou aos responsáveis. Nem assim a prefeitura agiu. Além disso, como já reforçado, o MP investigou e denunciou o prefeito por omissão nos casos relativos aos falsários. 
 
Como se não bastasse, há que se recordar que o Comércio foi o primeiro a denunciar que Pablo Mussolin, que atendia como Dr. Pablo Galvão, era um falsário. Na sequência dele viriam outros oito. Mesmo depois destas denúncias, o prefeito Alexandre Ferreira seguiu renovando o contrato com o ICV, como se não houvesse problema algum. Foram cinco contratos no valor total de R$ 22 milhões. 
 
Por fim, há que se lembrar ainda que além das denúncias feitas pela imprensa, três ocupantes de cargos de confiança da prefeitura – Claudia Poubel, Ricardo Veríssimo Jr e Renato del Bianco – tinham alertado, formalmente, a secretária de Saúde, Rosane Moscardini, de que os médicos do ICV não tinham a documentação exigida, além de fraudarem os plantões e se comportarem de forma errática. Nada foi feito.
 
Até o seu último argumento na entrevista, quando diz que a comissão processante tem como objetivo “impedir” que ele seja candidato a prefeito, beira a alucinação. Só faltou gritar “não vai ter golpe”. Se Alexandre Ferreira ainda não se deu conta, para que seja candidato a prefeito é preciso que ele vença neste sábado as prévias do PSDB contra Sidnei Rocha. Se perder, o que é mais do que provável, ele automaticamente estará fora da disputa, independente do que venha a concluir a comissão processante. Se for cassado, será como consequência dos atos que praticou. Nada além.
 
A operação do ICV em Franca é a mais perfeita síntese daquilo que os brasileiros não aceitam mais. Milhões de reais foram roubados. Milhares de pacientes foram atendidos por quem não podia clinicar, inclusive crianças. Gente morreu. Que os vereadores tenham coragem para julgar com seriedade. Que Alexandre pague por seus erros. A justiça precisa ser feita. Custe o que custar.
 
 
Corrêa Neves Júnior, diretor executivo do GCN 
email - jrneves@comerciodafranca.com.br

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