Gazetilha: A sessão do 'tudo ou nada' para o governo

O resultado é imprevisível, em que pese o crescente apoio Fora Dilma no Congresso.

10/04/2016 | Tempo de leitura: 5 min

“Nada é mais difícil, e por isso mais precioso, 
do que ser capaz de decidir”
 
Napoleão Bonaparte, general francês
 
 
O processo de impeachment em discussão na Câmara dos Deputados, que pode resultar no afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) de suas funções ainda em abril, chegou a um momento crucial. A sessão do “tudo ou nada” para o governo deve ser realizada entre domingo e segunda-feira próximos, com transmissão ao vivo pela TV aberta, votação nominal dos deputados – quando são obrigados a dizer ao microfone como se posicionam – e muita tensão nas ruas de todo o país. 
 
Se 342 deputados votarem com o relator Jovair Arantes (PTB-GO), que apontou para o necessário afastamento da presidente, Dilma Rousseff tem que sair da presidência – há uma formalidade a ser seguida pelo Senado, mas ninguém acredita que haja espaço para contrariar a Câmara – e passa a ser julgada. O vice, Michel Temer (PMDB), é quem assume em seu lugar. 
 
Para tentar sobreviver, Dilma, Lula e os caciques petistas têm oferecido desavergonhadamente tudo o que se puder imaginar em termos de cargos – ministérios, diretorias de autarquias, superintendências de órgãos federais, conselhos de estatais – aos deputados que se dispõem a votar com o governo ou, no mínimo, a faltar da sessão decisiva. Se, entre contrários ao impeachment e ausentes da sessão, houver pelo menos 172 deputados, quem ganha é Dilma. 
 
O resultado é imprevisível, em que pese o crescente apoio ao “Fora Dilma” dentro do Congresso Nacional, eco direto do que se sente nas ruas. Mesmo assim, ninguém discorda de que a disputa será intensa. Outra coisa de que ninguém discorda é que o Brasil que vai emergir desta crise, qualquer que seja o resultado, em nada lembra a nação de consumo acelerado, dos investimentos vultosos, da inclusão social ou do crescente protagonismo nas discussões globais. 
 
Tudo isso evaporou tão rápido quanto os bilhões que desapareceram dos cofres da Petrobrás e das grandes obras de infraestrutura, surrupiados através dos dutos da corrupção comandada por gente graúda do PT instalada em postos chaves do governo federal. O Brasil de tanta esperança é hoje capítulo encerrado. E o novo, que será escrito a partir do resultado da discussão do impeachment, tem contornos bem mais sombrios. 
 
O desemprego disparou em ritmo alucinante. Hoje, cerca de 9,5% dos brasileiros estão sem trabalho. O número de falências cresceu 14,3% nos três primeiros meses do ano – o de concordatas, agora batizadas de “recuperação judicial”, saltou 114,1% no mesmo período. Ou seja, mais que dobrou. 
 
As montadoras deram férias coletivas, depois fizeram acordo para reduzir a jornada, fecharam unidades e, por fim, demitiram. Não há o que produzir porque ninguém mais compra carro novo. A queda chega a 40%. Na esteira disso, as concessionárias também demitiram, fecharam as portas de algumas unidades e, não raro, fizeram ambas as coisas.  O varejo, que teve em 2015 o pior recuo da história, com vendas 4,3% menores do que no ano anterior, começou 2016 com grandes dificuldades. E, claro, com resultados em queda. 
 
O mercado imobiliário travou. No último trimestre avaliado, encerrado em janeiro, houve queda de 14,8% no volume de lançamentos imobiliários em comparação com o mesmo período do ano anterior. As vendas caíram 16,2%. Quando se avaliam as entregas de imóveis, o resultado é assustadoramente pior, com recuo de 39,2% - na prática, os canteiros de obras simplesmente pararam. 
 
Estados como o Rio de Janeiro estão com salários atrasados a ponto de não terem liquidado ainda nem mesmo o décimo-terceiro, que foi parcelado. Economistas projetam situação de colapso em boa parte dos Estados e das prefeituras de capitais antes do final do ano. As empresas sobrevivem com enormes dificuldades e difícil é  aquela que consegue honrar todos os seus compromissos em dia.
 
Para piorar tudo, a maneira como Dilma, Lula e demais “companheiros” se agarram ao poder - incitando o ódio e apelando a justificativas e argumentos sem sentido  – deixa o cenário ainda mais sinistro. O exemplo mais emblemático deste quadro é a repetição do mantra “não vai ter golpe”, como se houvesse qualquer tipo de ilegalidade num instrumento previsto na Constituição. É remédio amargo, mas necessário. Quando aplicado a Collor de Mello, teve nos petistas entusiasmados defensores. Há que se lembrar que a justificativa para tirar Collor da presidência foi o recebimento de um Fiat Elba de “presente” de uma montadora. Perto do que Dilma fez, dinheiro de pinga. Ainda assim, Collor foi cassado – merecidamente. Depois, acabou absolvido pelo STF. Jamais retornou ao cargo, bem como jamais petista algum chamou o que houve de “golpe”.
 
Agora, os críticos de antes apelam desesperados ao argumento do “golpismo”, ainda que o afastamento da presidente esteja sendo discutido no Congresso Nacional, mesmo com seus advogados atuando em todas as fases para apresentar a versão do governo, e considerando que o STF (Supremo Tribunal Federal) definiu criteriosamente as regras do jogo. Hipocrisia maior, impossível.
 
O Brasil está quebrado. Virou terra arrasada. Perdeu o otimismo, o entusiasmo, a perspectiva de crescimento rápido. Dilma Rousseff, obviamente, precisa sair rápido. A quadrilha que sob sua complacência instalou-se nos mais altos cargos da República tem que ser responsabilizada – e dizimada. A Lava Jato deve avançar até as ultimas consequências, denunciando e punindo corruptos de todos os partidos. Mas, que ninguém espere um milagre. A recuperação do Brasil será lenta e dolorosa. O estrago foi profundo demais. Virão tempos ainda mais difíceis. Para todos, e sem exceção.
 
Corrêa Neves Júnior, diretor executivo do GCN 
email - jrneves@comerciodafranca.com.br

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