Verdades e mentiras

Quem tem filhos pequenos sabe que sempre que uma criança começa a se alongar demais nas explicações para uma confusão qualquer, muito provalvelmente é porque está mentindo.

03/04/2016 | Tempo de leitura: 5 min

“Qualquer verdade passa por três estágios. Primeiro, é ridicularizada. Segundo, é violentamente combatida.  Terceiro, é aceita como óbvia e evidente”
 
Arthur Schopenhauer, filósofo alemão
 
 
Quem tem filhos pequenos sabe que sempre que uma criança começa a se alongar demais nas explicações para uma confusão qualquer, muito provavelmente é porque está mentindo. É assim nas brigas entres irmãos, nas brincadeiras com os primos, nas disputas com os colegas da escola. A verdade invariavelmente está com quem tem a versão mais curta e direta para o conflito. É uma regra com raríssimas exceções.
 
Ao longo dos meus mais de vinte anos de jornalismo, aprendi que a mesma lógica se aplica também ao universo adulto. Depois de acompanhar milhares de casos em que distintos personagens apresentavam versões diferentes para o mesmo fato, nunca vi a explicação mais complexa ser a correta. Quase sempre, quem tinha a versão mais simples é que estava ao lado da verdade. 
 
A cada dia que avançam as investigações da Operação Lava Jato, mais me convenço do acerto de tais premissas. A ginástica retórica a que recorrem os acusados para tentar negar o óbvio faz lembrar a criança de três anos flagrada ao lado da geladeira, com a boca lambrecada e diante do pote de sorvete esparramado no chão, insistindo que “nada tem a ver” com a bagunça. Não raro a criança repete, com veemência: “não fui eu”. Os acusados pela roubalheira sem precedentes agem do mesmo jeito. A diferença é que, nas crianças, há inocência, ternura e tempo para aprender. Nos ladrões do Brasil, sobram mau-caratismo, cretinice e covardia.
 
Tome-se como exemplo o caso do sítio Santa Bárbara, em Atibaia. Lula diz que não é dele, apesar de ter ido ao local 111 vezes nos últimos cinco anos. Insiste na tese de que o filho de seu amigo  Jacó Bittar comprou a propriedade para que ele e sua família usassem, como se fosse a coisa mais comum do mundo. Diz também que não sabe porque a construtora OAS investiu R$ 1 milhão na reforma do sítio que, afinal, nem mesmo seria dele. Lula garante ainda que nunca pediu para a Oi instalar uma antena de celular que custa outro R$ 1 milhão, tão pertinho que não serve a ninguém mais a não ser ao sítio. Há quem acredite nesta versão, assim como tem gente que jura conviver com duendes. Fico com a tese mais simples: o filho de Jacó Bittar foi laranja de Lula na compra do imóvel porque o ex-presidente não queria ser visto como alguém que enriqueceu durante o governo. A OAS bancou a reforma e a Oi instalou a antena porque desejavam agradar o então presidente Lula, já que têm bilionários negócios que dependem de autoridades federais. Isso, sim, faz sentido. 
 
Há a indigesta conversa entre Lula e Dilma Rousseff. A presidente diz que iria mandar um tal de “Bessias” levar ao ex-presidente, que estava dentro de um jatinho no aeroporto de Brasília, o termo de posse, para ser usado “em caso de necessidade”. A presidente insiste que o diálogo foi absolutamente “republicano”. Será mesmo? Segundo ela, a ex-primeira-dama Marisa Letícia estava gripada e Lula poderia estar impossibilitado de retornar a Brasília para ser empossado com os demais ministros. Assim, ela se antecipou e enviou o documento para que Lula pudesse ser empossado “a distância”, caso fosse obrigado a se ausentar. Qual o sentido disso? Por que Lula não poderia esperar mais um dia para tomar posse?  Em que outros casos ministros receberam o termo de posse desta forma? É mais uma falácia. A verdade, óbvia, é que havia o temor de que o juiz Sérgio Moro decretasse a prisão do ex-presidente. Assim, Dilma enviou o termo de posse para que Lula o devolvesse assinado e, assim, o documento permaneceria no Palácio à espera apenas da chancela da presidente, o que poderia ser feito “em caso de necessidade”. Se o japonês da Federal baixasse no apartamento de Lula, o Palácio do Planalto divulgaria o termo de posse e o “foro privilegiado” livraria o ex-presidente da cadeia.
 
O que dizer então do “golpe”, termo a que apoiadores de Dilma têm recorrido para se referir ao impeachment? Na opinião deles, há uma conspiração da “direita reacionária” para tirar Dilma da presidência. A tal “conspiração” juntaria, num mesmo saco, o juiz Sérgio Moro; procuradores da República; delegados e agentes da Polícia Federal; magistrados do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal; centenas de deputados e senadores; líderes de entidades empresariais; a Ordem dos Advogados do Brasil; o jurista e ex-petista Hélio Bicudo; alguns religiosos, a “mídia golpista”; o vice-presidente Michel Temer e milhões de “coxinhas” que foram às ruas protestar. Nada poderia ser mais distante da realidade. O que existe, de fato, é que sobram indicativos de que Lula roubou e de que Dilma permitiu que roubassem. Há ministros e ex-ministros envolvidos até o último fio de cabelo nos bilionários desvios de recursos dos cofres públicos. Por tudo isso,  sobram motivos para o impeachment da presidente, exatamente como previsto pela Constituição. O resto, é pura vitimização para tentar justificar o que é injustificável.
 
Há anos, Lula, Dilma e seus asseclas mentem desavergonhadamente para os brasileiros. Ninguém suporta mais governos que buscam se equilibrar entre mentiras e falácias. Que a verdade, nua e crua, venha à tona. Doa a quem doer, atinja quem atingir. Sem choro infantil, sem desculpa esfarrapada.
 
 
Corrêa Neves Júnior, diretor executivo do GCN 
email - jrneves@comerciodafranca.com.br
 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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