Que o protesto seja amplo, geral e irrestrito

É certo que milhões de cidadãos, espalhados por centenas de municípios de todos os Estados da federação, vão às ruas hoje protestar.

13/03/2016 | Tempo de leitura: 4 min

“Com a corrupção morre o corpo, com a impunidade morre a alma”
 
Santo Agostinho, filósofo católico
 
 
É certo que milhões de cidadãos, espalhados por centenas de municípios de todos os Estados da federação, vão às ruas hoje protestar. A multidão vai gritar o “Fora, Dilma”, pedir “cadeia para Lula”, vociferar contra os petistas que usaram suas posições e influência para um assalto aos cofres públicos como nunca se viu em parte alguma do mundo.  É ótimo que seja assim.
 
Tenho a mais absoluta convicção de que não faltarão cartazes com demonstrações de apoio ao juiz Sérgio Moro, aos procuradores da República encarregados das investigações da Laja Jato, aos agentes da Polícia Federal que cumprem as determinações judiciais sem medo, e aos membros do Ministério Publico de São Paulo que tiveram a coragem de pedir a prisão de Lula. É importante que aconteça desta forma.
 
Emociona imaginar que haverá entre os manifestantes gente de todo o tipo, das mais variadas faixas de renda, com distintos graus de instrução e das mais diversas idades, unidos com o propósito de manifestar seu inconformismo com este estado de degradação ética e moral que tomou conta das mais altas esferas do poder no Brasil. A nação tem neste instante a presidente da República, Dilma Rousseff; seu antecessor, Lula; o presidente do Senado, Renan Calheiros; da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha; além de ministros de Estado e de alguns dos homens mais ricos do país acusados de tudo quanto é tipo de crime que se possa imaginar. De corrupção passiva a ativa, de ocultação de patrimônio a lavagem de dinheiro, de formação de quadrilha a fraude em licitação, de favorecimento ilícito a falsificação ideológica e doações eleitorais ilegais, sobram acusações tão sérias que, em muitos casos, a robustez das provas já resultou na condenação de peixes graúdos a penas que se medem em décadas de cadeia. É imperativo que seja assim. 
 
O que não pode acontecer é permitir que esta depuração tão fundamental - do país, de algumas de suas instituições e de muitos de seus líderes – seja reduzida a uma faxina seletiva e sectária, focada numa única legenda ou cor partidária. O objetivo tem que ser a luta permanente contra a corrupção em todos os níveis, independente dos atingidos serem de direita ou de esquerda, importantes senadores da República ou modestos vereadores de uma pequena cidade do interior, empresários bilionários que formem cartel para direcionar as obras de uma hidrelétrica ou comerciantes que façam acerto para decidir quem leva o fornecimento de carteiras escolares. É uma questão de princípio, não de escala. E o grito, tem que valer para todos.
 
Afinal, se o assalto aos cofres do governo federal intensificado nos últimos doze anos – e tornado público em esquemas como o mensalão, o petrolão, as fraudes das empreiteiras e os recursos públicos desviados para campanhas eleitorais sujas - nos dá tanto nojo e revolta que o desejo de ver Dilma fora do governo e Lula na cadeia é sentimento generalizado, não pode ser menor o asco dos francanos diante das inúmeras denúncias de corrupção que pesam contra o governo Alexandre Ferreira (PSDB), como o milionário desvio de recursos da construção de creches, a “fábrica” de horas extras falsas na Saúde, o dinheiro dos curtumes que alimentou sua campanha e foi retribuído com fraude nas licenças ambientais, a falsificação de documentos para comprar o silêncio de servidores municipais, e por aí vai... Para detalhar apenas o exemplo mais gritante, há o contrato que destinou inacreditáveis R$ 22 milhões ao ICV (Instituto de Ciências da Vida), com sucessivas renovações mesmo após as denúncias na imprensa dos falsos médicos, dos plantões fantasmas, da ausência elementar de controle do serviço prestado e, tanto pior, das mortes decorrentes deste estado de coisas. Se o lugar de Lula; do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto; do empreiteiro Marcelo Odebrecht e de tantos outros é atrás das grades, não consigo imaginar destino diferente para Alexandre Ferreira e sua inepta secretária de Saúde, Rosane Moscardini.
 
Se dão orgulho a dedicação e o caráter do juiz Sérgio Moro, dos ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e do STF (Supremo Tribunal Federal) que tem confirmado a legitimidade das investigações, dos promotores Carlos Conserino, Fernando Araújo e José Carlos Blat que denunciaram Lula e outros tantos, não podemos ter sentimento de respeito e admiração menores pelo fantástico trabalho desenvolvido em Franca e região no combate à corrupção pelo promotor Paulo César Corrêa Borges; por seus colegas do Gaeco (Grupo de Ação Especial contra o Crime Organizado) Cláudio Escavassini, Rafael Piola, Alex Pires e Erton David; pelos procuradores da República Sabrina Menegário e Wesley Miranda; pelo juiz da Vara da Fazenda Pública, Aurélio Miguel Pena, e por tantos outros bravos integrantes do judiciário que o pouco espaço não me permite mencionar. São pessoas de grande fibra, que merecem o mais profundo apoio e reconhecimento.
 
Que a limpeza profunda siga em frente, acelerada pelo grito da multidão que promete ganhar as ruas neste domingo,  independente da empáfia dos envolvidos, por mais dramático que seja o choro dos acusados. E, mais importante, que o protesto – pacífico e sem violência - seja contra todo malfeitor, quer seja filiado ao PT, quer seja integrante do PSDB ou de qualquer outra legenda, esteja ele instalado na esplanada dos Ministérios ou no paço de uma prefeitura do interior. A hora é agora. 
 
 
Corrêa Neves Júnior, diretor executivo do GCN 
email - jrneves@comerciodafranca.com.br

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