Liliko: O Embaixador das flores. Conheça a sua história


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Aureliano de Paula Borges, o Liliko, diz que ‘viaja’ enquanto monta  seus arranjos
Aureliano de Paula Borges, o Liliko, diz que ‘viaja’ enquanto monta seus arranjos
Aureliano de Paula Borges descobriu ser esse o seu nome de registro somente aos 7 anos de idade. Até então, todos de sua família, com exceção única de seu pai, acreditavam ser o seu nome este pelo qual é conhecido até hoje: Lilico. “Minha mãe, dona Antonieta, havia recomendado a meu pai que me registrasse desta forma mas, sendo eu seu nono filho, ele imaginou que não teria mais oportunidade de dar a outro o seu próprio nome e, sem que minha mãe soubesse, me registrou como Aureliano”, disse o proprietário de uma das floriculturas mais tradicionais de Franca, a Liliko Decorações e Flores.
 
A descoberta do “feito” só se deu quando a mãe foi matriculá-lo na escola e reuniu vários documentos do filho.
 
Liliko, que adotou o ‘k’ anos mais tarde para sua assinatura comercial, nasceu em Passos, Minas Gerais, em 1943. Filho de um oficial de justiça com uma dona de casa, diz que teve uma infância pacata ao lado dos nove irmãos. As divergências aconteciam mesmo quando o assunto era sua vocação artística. “Para meu pai, era um absurdo um de seus dez filhos trabalhar com decoração. Sempre que me flagrava em atividades como enfeitar carrocinhas com coelhos para ovos de Páscoa, me colocava de castigo num canto e ali me deixava até se lembrar que eu estava ali”, disse Liliko. “Havia muito preconceito, na época, em relação à decoração. Os meninos me apontavam na rua e me chamavam de marica. A minha mãe é que sempre me apoiava”.
 
A discriminação e os castigos não foram suficientes para afastá-lo de seu dom e, aos 12 anos, a atividade de decorador começou a lhe render dinheiro. Nas lojas, era conhecido por organizar vitrines; nas igrejas, os presépios e nas residências, decorações de festa. “Foi assim até meus 18 anos, quando uma família de Passos achou que eu tinha potencial e que não deveria trabalhar com decoração. Me convidaram então para morar em Santos e lá fui ser escriturário em uma multinacional. Minha mãe me deu sua benção e 24 dias depois que parti, ela morreu”, conta. “Nessa época, meu pai já havia morrido fazia um ano.”
 
Em Santos, o emprego formal também não foi capaz de aplacar a ligação com o universo da decoração e Liliko fez contato com escolas de samba para fazer o que mais gostava. Na cidade praiana, ficou por dois anos e, em 1964, seu destino teve nova reviravolta.
 
Nasce um decorador
Em 1964, outra família para quem Liliko havia trabalhado anos antes, em Passos, o convidou para que viesse a trabalhar em uma madeireira em Franca. O pedido foi aceito mas o negócio não prosperou e, pela primeira vez na vida, Liliko assumiu como profissão a decoração. “Fui o primeiro decorador de Franca. Passei a fazer as vitrines de lojas, bailes de debutantes, desfiles e fui o responsável por cuidar das lojas Samello no Brasil. Fiz também a inauguração da loja do Centro do Magazine Luiza”, disse o decorador.
 
Na cidade, fixou raízes. Casou-se em 1973 com Maria Magda Ferri de Paula e teve sua única filha, Cristiane, mãe de seus dois netos. “São a felicidade da minha vida”.
 
Embaixador das Flores
Descoberto enquanto decorava a Catedral por um médico que se casaria em Assunção, Liliko seguiu para a capital paraguaia e lá fez fama. Os convites internacionais vieram e logo ele foi chamado a se apresentar na Convenção Nacional da Arte Floristas, em Recife. “Lá, fui abordado por um senhor que mais tarde viria a me nomear embaixador brasileiro da arte floral. Recebi a comenda nos Estados Unidos, em 1994. Com esse título, deveria viajar 153 países mas parei no 30º, conhecendo toda a América Latina, a Central e parte da Europa. Parei porque já tinha meus 50 anos e queria um ritmo mais tranquilo de vida. Foi quando abri a Floricultura Francana”.
 
A loja sobreviveu pouco tempo com este nome e, em parceria com a colunista do Comércio, Patrícia, abriu a Patrícia Flores. “Essa loja doei à minha cunhada e abri a Liliko. Chego aqui às 5h30 e fico com minhas flores. ‘Viajo’ enquanto trabalho em arranjos e deixo aceso o cigarro na boca, sem tragar”, afirma. “Não me arrependo de ter abdicado de oportunidades e dinheiro para ter sossego. Hoje, não tenho solidão, não tenho tristeza e nem saudade. Tem uma frase de que eu gosto muito e que resume o que eu acredito: Vida pobre é aquela que você vive e no final percebe que só juntou dinheiro”.

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