O ex-gerente do Banco do Brasil Rafael Garcia Spirlandeli, 29, foi preso pela Polícia Federal em sua casa em Franca, na manhã de ontem, durante a operação Golden Boy. Ele é acusado de liderar um esquema de fraudes em financiamentos rurais do BB, que pode chegar a R$ 35 milhões desviados. As investigações foram liberadas pelo delegado da Polícia Federal em Ribeirão Preto, Flávio Reis.
Além de Spirlandeli, foram presos Alexandre Rosato (ex-gerente da agência do BB de Guará), Guilherme Badran Abdala (engenheiro ambiental), Diego Junqueira Pereira e Thaylisson Ribeiro Pereira (apontados como aliciadores de “laranjas”).
Segundo o procurador da República em Franca, Wesley Miranda, as investigações começaram a partir de uma denúncia anônima feita à Polícia Federal e duraram cerca de três meses. Uma equipe da PF foi especialmente destacada para cuidar do caso.
De acordo com as acusações, o esquema era liderado por Spirlandeli e Rosato, que eram gerentes da agência do BB em Guará. Com a utilização de documentos falsos (contas de água e energia elétrica com endereços e nomes adulterados), eram abertas contas correntes em nome de “laranjas”.
Com as contas já abertas, os criminosos apresentavam no mesmo dia ou no dia seguinte pedidos de financiamentos rurais. Era, então, apresentado um laudo técnico, assinado por Badran, atestando a capacidade produtiva, a capacidade financeira e experiência no cultivo agrícola desses “laranjas”. O laudo era conferido pelo então gerente-geral do BB, Spirlandeli. “As investigações confirmaram que os laudos eram ideologicamente falsos, porque se referiam a uma mesma propriedade rural e porque os ‘laranjas’ não eram e nunca foram produtores rurais. Alguns deles, inclusive, eram empregados rurais que recebiam o Bolsa Família. Outros eram adolescentes nas épocas em que o laudo atestava que eles eram produtores rurais, com safras que tinham produção consideravelmente superior à média nacional”, disse o procurador.
Os valores dos financiamentos liberados chegavam a R$ 200 mil. Em seguida, eram liberados também empréstimos pessoais. “Tudo sem que os titulares das contas apresentassem qualquer garantia. Esses valores eram sacados e depois depositados em contas dos membros da organização criminosa ou em contas de terceiros, inclusive de familiares dos investigados, numa tentativa de ocultar ou dissimular a origem e localização do dinheiro.”
Até o momento, já foi comprovado o desvio de quase R$ 5 milhões. Mas com base nos documentos apreendidos e na delação premiada feita por um dos presos na operação (o nome não foi divulgado pela polícia), a estimativa é de que os contratos de empréstimos e financiamentos fraudulentos totalizaram o prejuízo de R$ 35 milhões.
Na manhã de ontem, em Franca, a Polícia Federal cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa de Spirlandeli. “Ele era o gerente-geral do Banco do Brasil em Guará e um dos mentores intelectuais do esquema. Em sua residência, foram apreendidos documentos que podem revelar o modo preciso como as fraudes eram praticadas e o destino que foi dado ao dinheiro desviado”, disse o procurador. Segundo Miranda, depois de descoberto o esquema, Spirlandeli pediu demissão do banco, abrindo mão de um salário de aproximadamente R$ 12 mil.
Como Spirlandeli, Rosato também se demitiu do banco assim que o esquema foi descoberto. Em Guará, ele ainda atua como pastor da Igreja Assembleia de Deus e é muito conhecido.
O procurador afirmou que, até o momento, não há nenhum indício de envolvimento de outros funcionários do Banco do Brasil em Franca no esquema. “Mas somente depois da análise da documentação apreendida será possível afirmar, categoricamente, que pessoas de outras agências não participavam da organização criminosa.”
Até o momento, os envolvidos devem responder pelos crimes de estelionato, gestão fraudulenta e gestão temerária, lavagem de dinheiro e de formação de organização criminosa. “Os investigadores apuram também denúncias de que membros da organização criminosa teriam ameaçado e intimado empregados do Banco do Brasil que relataram as fraudes aos seus superiores ou mesmo pessoas que tinham mero conhecimento ou suspeita do esquema”, disse o procurador.
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