O que não é e o que pode ser

Desde a madrugada da última segunda-feira, quando o prédio que abrigava a Crazz Publicidade, uma empresa do GCN, foi incendiado

04/10/2015 | Tempo de leitura: 4 min

“A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas”
 
Horácio, poeta romano
 
 
Desde a madrugada da última segunda-feira, quando o prédio que abrigava a Crazz Publicidade, uma empresa do GCN, foi incendiado, milhares de pessoas têm feito as mesmas perguntas. O que aconteceu? O que foi destruído? Quem fez isso? Por que fez isso?
 
Uma semana depois, ainda há pouquíssimas explicações. Sabe-se que o incêndio foi criminoso, que o bandido agiu sozinho, que ele demonstrava calma absoluta e que transitou por pelo menos três prédios distintos para executar sua ação. É possível afirmar que ele passou às 3h13 em frente à agência, que às 3h20 estava lá dentro depois de acessar o local por uma madeireira localizada à esquerda e que, às 3h28, saiu por um prédio em construção à direita carregando uma TV debaixo do braço. 
 
Voltou duas horas depois. Eram 5h22 quando ele entrou de novo na Crazz, desta vez pelo prédio da direita. Ficou cinco minutos lá dentro, possivelmente espalhando algum tipo de material inflamável. Às 5h27, os primeiros clarões de fogo foram registrados e, às 5h31, ele deixou o local, já em chamas, usando mais uma vez a construção da direita. Os bombeiros chegaram exatos 19 minutos depois. A reação foi rápida e eficiente o bastante para impedir que o fogo se alastrasse para os prédios vizinhos, mas não o suficiente para evitar que tudo que havia dentro da Crazz acabasse reduzido a cinzas.
 
O prejuízo foi total. Computadores, mesas, cadeiras, armários, divisórias, o telhado, piso, janelas, eletromésticos, material de escritório e câmeras de segurança viraram pó. Tudo que seria utilizado na exposição dos 100 anos do Comércio, o que inclui utensílios antigos, trajes de época e outros tantos objetos cenográficos, acabaram consumidos pelas chamas. 
 
Todo o material promocional do próprio Comércio, da rádio Difusora e do portal GCN foi destruído. A estrutura de barracas, bancos e mesas utilizada nas edições do programa Hora da Verdade Itinerante virou alumínio retorcido e entulho. Os equipamentos utilizados pelo telemarketing do Comércio derreteram. Toneladas de documentos das áreas jurídica, de recursos humanos e de departamento pessoal viraram pó. Boa parte dos arquivos digitais de campanhas criadas pela Crazz está perdida. 
 
Felizmente, ninguém ficou ferido. Há muitas casas nas cercanias. Se as chamas tivessem se alastrado, uma tragédia muito maior poderia ter acontecido. Graças à competência do Corpo de Bombeiros, o pior foi evitado. Os prejuízos financeiros serão minimizados com mais trabalho - e com a ajuda do seguro, que cobre boa parte dos danos materiais.
 
Resta agora encontrar respostas para as perguntas mais difíceis. Quem fez e por que fez isso? Por enquanto, só é possível atestar do que não se trata. Obviamente, não foi um acidente. Quem ateou fogo, agiu com a intenção deliberada de incendiar. Basta assistir às imagens, disponíveis no portal GCN, para chegar a idêntica conclusão. 
 
Outro ponto importante é que a ação da madrugada de segunda se parece com qualquer coisa, menos com um furto. Primeiro, porque é tão raro um evento do tipo que praticamente inexistem registros, em qualquer lugar, de ladrão que incendeia propositalmente o lugar que roubou. Claro, há uma televisão furtada, mas ainda assim é imperativo observar o que ele não levou. Havia computadores sofisticados para os quais o incendiário nem deu bola. Utilidades domésticas. Videogame. Nada disso interessou. Ainda por cima, o marginal foi embora com a TV - mas voltou. Quando ateou fogo, não levou nada. A impressão que fica é que a TV foi uma distração. O objetivo era destruir.
 
Sobra, portanto, o que poderia ser. Incêndio criminoso usualmente tem apenas duas motivações. Tentativa de intimidação - ou vingança. O jornalismo combativo é fundamental para uma sociedade democrática, gera respeito e muitos admiradores, mas também resulta em opositores ferozes. 
 
Nos últimos meses, reportagens publicadas pelo GCN e que ganharam repercussão em todo o país expuseram atitudes ora bárbaras, ora vergonhosas, de políticos e empresários de Franca e região. Revelaram também esquemas de fraudes milionárias de recursos públicos, mostraram quadrilhas em ação dilapidando o erário, expuseram pessoas que se julgavam acima da lei, desnudaram brigas viscerais em entidades sindicais, comprovaram falsários agindo dentro do sistema de saúde. Tudo isso resultou em ações judiciais, em denúncias do Ministério Público e na cobrança da população. Há muitos descontentes, com interesses feridos. Há gente com ódio. Não tenho a menor ideia se alguma dessas pessoas seria capaz de uma ação tão violenta. Isso é dúvida para a Polícia esclarecer.
 
Além da dedicação do delegado Márcio Murari, responsável pela DIG (Delegacia de Investigações Gerais), as principais autoridades do Estado acompanham de perto o que aconteceu em Franca. O governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), emitiu nota oficial de repúdio e ligou para prestar “total solidariedade”, nas suas próprias palavras. O secretário da Segurança Pública, Alexandre Moraes, prometeu empenho na elucidação do caso. 
 
Há cinco meses, uma quadrilha explodiu o caixa eletrônico que ficava dentro do GCN e, até hoje, aguardamos respostas. Fica a torcida e a esperança de que, desta vez, o desfecho seja outro. Se não forem encontrados, identificados e responsabilizados, não é impossível que episódios ainda mais violentos tornem a se repetir. Que a polícia cumpra o seu papel. Porque da nossa missão, não arredaremos pé. Custe o que custar, doa a quem doer.
 
 
Corrêa Neves Júnior, diretor executivo do GCN 
email - jrneves@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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