Como ganhar muito dinheiro

Não é de hoje que estudiosos tentam encontrar uma explicação para a razão que leva determinadas pessoas a conseguir fazer fortuna

27/09/2015 | Tempo de leitura: 4 min

“A corrupção não deixa provas, 
mas nem sempre desfaz rastros e evidências”
 
Benedito Calheiros Bonfim, jurista brasileiro
 
 
Não é de hoje que estudiosos tentam encontrar uma explicação para a razão que leva determinadas pessoas a conseguir fazer fortuna, enquanto tantas outras nunca passam da tentativa, por mais que trabalhem ou se esforcem. Não que faltem “lições”. Da mais elementar, que ensina a gastar menos do que se ganha, passando pelos livros de autoajuda no estilo Pai Rico, Pai Pobre, até as mais malucas, como aquelas que apresentam métodos “infalíveis” para ganhar na loteria. 
 
Mas para quem tem relações com Franca, não se preocupa com escrúpulos nem faz questão de ter vergonha na cara, um atalho tem se mostrado imbatível para multiplicar ganhos: cair nas graças do prefeito Alexandre Ferreira (PSDB). Se o candidato a milionário tiver predicados para se tornar amigo do homem que Sidnei Rocha “preparou” para administrar a cidade, pode conseguir impulsionar o próprio enriquecimento e, de quebra, ganhar um manto de proteção capaz de causar inveja à máfia italiana.
 
Exemplo melhor do que o ICV (Instituto Ciências da Vida) para demonstrar como Alexandre Ferreira pode ser uma espécie de rei Midas para quem lhe interessa, não existe. Tudo começou com uma lambança, há alguns anos, quando Alexandre Ferreira, então secretário de Saúde, inventou um esquema para turbinar ilegalmente os ganhos dos médicos da prefeitura. Assim, alguns profissionais passaram a receber horas extras dentro da jornada regular, o que fez com que certos vencimentos ultrapassassem os R$ 40 mil mensais, inúmeras vezes superior ao salário-base na rede. Encurralado pelo MP, Alexandre foi obrigado a acabar com a farra. Criou outra maior.
 
Alexandre trouxe o ICV, uma OS (organização social) que, piada pronta, “não tem fins lucrativos”. Pagou num ano R$ 19,1 milhões, duas vezes mais do que os R$ 9 milhões previstos. É impressionante que uma organização com faturamento deste tamanho praticamente não exista. Todos os depoimentos até agora, tanto nos inquéritos de Sorocaba quanto nas oitivas realizadas pela CEI dos Falsários na Câmara de Franca, mostram que o ICV apenas intermediava a contratação de médicos para a prefeitura. Fazia o trabalho que os “gatos” desempenham nas lavouras, só que em escala milionária. Nada mais.
 
Descobriu-se que os médicos escalados para trabalhar no PS não tinham seus currículos analisados pelo ICV. Não passavam por qualquer coisa que remotamente lembre uma área de Recursos Humanos. Não precisavam mostrar o diploma nem apresentar documentos. Não recebiam quaisquer diretrizes. Não prestavam conta do que faziam nem eram avaliados. Tudo que o ICV fazia era cobrar da prefeitura o equivalente a cerca de R$ 1.600 por plantão de 12 horas e repassar aos médicos entre R$ 1.000 e R$ 1.200. É neste contexo que surgem os falsários, que aceitavam trabalhar por menos, de R$ 800 a R$ 1.000 por plantão, o que aumentava os ganhos da OS. Não é difícil projetar que o lucro do ICV se aproximava dos R$ 300 mil mensais. Para alguns médicos, o esquema era tão bom que houve casos de profissionais que, mesmo concursados, abriram mão de estabilidade para trabalhar pelo ICV com ganhos que podiam ser duas vezes superiores ao que conseguiam na época das horas-extras falsas. Para os falsários, era dinheiro na mão sem responsabilidades. Tudo pago do nosso bolso.
 
As denúncias contra o ICV - da falta de documentação a fraudes nos plantões, além dos super salários - começaram ainda no primeiro mês do contrato. Mesmo assim, nunca nenhum pagamento foi retido nem qualquer providência tomada. Nem mesmo após oito falsários serem denunciados houve suspensão de pagamentos. O dinheiro sempre jorrou para o ICV, em volumes que ultrapassavam R$ 1,5 milhões mensais. Não duvido que seus dirigentes acendessem velas todos os dias para o “Santo” Alexandre.
 
Há mais casos. Rogério Ribeiro, coordenador do Samu, denunciado pelo MP no começo do mês por fazer plantões-fantasmas, é outro exemplo de como Alexandre Ferreira sabe ser “amigão” do peito. O doutor tem três cargos na prefeitura (dois de emergencialista e um de coordenador do Samu), mais um na Santa Casa e outro na Unimed. Qual o problema? Aquilo que a física diz ser impossível: estar em vários lugares ao mesmo tempo. Rogério alegava trabalhar no mesmo dia e horário como médico emergencialista, como coordenador do Samu e também na Santa Casa ou na Unimed. Como de bobo o doutor não tem nada, nunca brincou de estar na Unimed e na Santa Casa ao mesmo tempo, pois seria certamente demitido. Mas nos empregos públicos, a farra corria solta, com o médico recebendo simultaneamente por plantões que, obviamente, jamais realizou. Impossível deixar de lembrar que ele é o mesmo sujeito que enfrenta um processo criminal na Justiça do Paraná por ter falsificado documentos e clinicado sem poder. “Imexível”, Rogério Ribeiro segue firme em seu cargo da mais estrita “confiança” do prefeito. 
 
Resta agora saber se o que motiva Alexandre Ferreira a ser tão generoso é mesmo só vontade de ver prosperar algumas empresas e amigos imerecedores de tamanho afeto ou se tanta gentileza é reflexo direto de um tipo qualquer de contrapartida pecuniária. Se a resposta for a primeira, explicações transparentes à população, uma pesada multa e a reparação dos prejuízos causados ameniza parte do problema. Se for a segunda, a carceragem de uma penitenciária é o único remédio possível. E para todos os envolvidos.
 
 
Corrêa Neves Júnior, diretor executivo do GCN 
email - jrneves@comerciodafranca.com.br

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