‘Enquanto eu tiver uma gota de sangue na veia, vou lutar’


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José Luís Granero, diretor da Calvest, se prepara para mergulho no segmento feminino de calçados e avalia os dois primeiros dias da 47ª Francal como os melhores de todas as feiras de que já participou
José Luís Granero, diretor da Calvest, se prepara para mergulho no segmento feminino de calçados e avalia os dois primeiros dias da 47ª Francal como os melhores de todas as feiras de que já participou
Palavras eufóricas, tilintar de brindes e sorrisos nos quatro cantos conferiram tom de comemoração ao estande da Calvest na 47ª Francal (Feira Internacional da Moda em Calçados e Acessórios) desde o primeiro dia do evento, realizado na semana passada, entre 6 e 9 de julho, em São Paulo. A empresa francana é uma das que fazem da feira mola propulsora para aquecer a produção da fábrica no segundo semestre. 
 
Sócio-proprietário da marca, José Luís Granero, 52, explica que a razão está na forma de encarar o momento econômico: “Sou empresário e vou com otimismo. Não vamos à feira para brincar”.
 
A marca, que é seu “sobrenome” desde 1986, começou com uma parceria entusiasmada entre ele e seu irmão Carlos Alberto Granero, 49, em um quartinho dos fundos da casa dos pais no bairro Cidade Nova, e hoje é uma das grandes exportadoras de calçados masculinos da América Latina, ocupando uma área de 6,5 mil metros quadrados em sua quarta sede, na avenida Alberto Pulicano, no Distrito Industrial de Franca.
 
A produção de seis pares por dia, na época da fundação, em nada lembra o ritmo de trabalho dos 800 colaboradores (600 deles de forma direta) de hoje, que movimentam uma engrenagem que produz e vende anualmente mais de 800 mil pares de calçados.
 
Enquanto José Luís desbrava o mercado à frente do setor comercial, Carlos cuida de perto do setor produtivo da empresa. Por quase 30 anos, a dupla dirigiu esforços para produzir exclusivamente para o público masculino (nas linhas clássico, casual, esportivo e country). Agora, eles querem mais. O olhar dos empresários está projetado para uma sonhada expansão para linhas femininas. “Vamos lançar a marca Iod’s. Serão somente botas feminina”, disse Granero, demonstrando entusiasmo.
 
Para dar visibilidade aos negócios, além de anúncios em impressos, rádios e redes de TV, o empresário coloca em prática outra faceta de sua personalidade: saber gerir parcerias de sucesso com grandes eventos e celebridades.
 
Exemplo disso é que nesta Francal, o ator global Dudu Azevedo, que interpreta o personagem Bento na novela Babilônia, e a garota propaganda da marca, a panicat Carol Dias, estiveram entre os recepcionistas do estande, provocando grande alvoroço nos corredores adjacentes.
 
Foi esse viés para o mundo business que também o motivou a empreender eventos de grande porte em Franca. Apaixonado por música “desde sempre” - ele conta que seu primeiro trabalho foi aos 11 anos, quando gravava e vendia fitas cassetes -, Granero promoveu ao menos oito grandes shows, incluindo o renomado Calvest Fest Show. Por questões de precaução e preocupação com a segurança do público, migrou o negócio e agora fecha parcerias em eventos (sem a assinatura), oferecendo privilégios para clientes da marca. Confira um pouco da trajetória do empresário.
 
Como começou sua história com a Calvest e como foi ascensão da empresa?
Eu era representante de solados de uma empresa do Rio Grande do Sul e meu irmão Bertim (Carlos Alberto Granero) trabalhava no Cartório de Registros de Franca. Em 1986, conversei com ele e falei: “Vem ser sócio comigo, nós vamos aprendendo”. Aí começamos, no fundo da casa da minha mãe, produzindo seis pares por dia, com um único funcionário. Ainda assim, ficávamos dois dias da semana sem produção, porque não tínhamos pedidos. Em 1987, arrumamos um representante no Rio de Janeiro que pegou amostras e ofereceu nas lojas Americanas. Eles gostaram do produto e do preço e me mandaram um pedido de 3.600 pares, o que me fez aumentar a produção de seis para 300 pares/dia. Na sequência veio a Mesbla. Começou a vir pedido em cima de pedido. Então, acabamos mudando para um imóvel da rua Ouvidor Freire, ficamos por seis meses e depois construímos o nosso primeiro galpão no Distrito Industrial, com capital próprio. Não paramos de crescer. Em 2002 mudamos para a sede nova (atual).
 
A feira que terminou na última quinta-feira foi muito comemorada pela Calvest desde o primeiro dia do evento. Vocês superaram as metas de vendas? Qual o volume de negócios fechados?
Viemos com a meta de vender 50 mil pares e, em um único dia, terça-feira, chegamos a vender 25 mil pares. Tem também muitas lojas que emitem pedidos só no escritório, então eles chegam depois, por e-mail e, em minha contagem (durante a feira), não estou contando com isso ainda. Com certeza vamos ultrapassar a meta. Estou calculando que vamos chegar a 60 mil. Estão sendo os melhores dias de todas as feiras que já participamos na vida.
 
A feira estava visivelmente menor e muitos empresários, lojistas e visitantes a encararam com pessimismo diante da crise econômica que o País atravessa. Como ir na contramão e não engrossar o ‘clima de crise’?
Na sexta-feira anterior à feira, fizemos uma reunião com todo o setor comercial e deixei bem claro: esse momento do País não é bom, só que eu sou empresário e vou com otimismo. Não vamos à feira para brincar, para ver se vai dar certo ou não. Eu quero que dê certo. Enquanto eu tiver uma gota de sangue na veia, vou lutar, e quero que todos lutem comigo. Então veio todo mundo empenhado e estamos conseguindo atingir a meta. Você tem que dar o diamante bruto para o representante e ensiná-lo a lapidar. Isso significa oferecer um produto com preço acessível, com uma qualidade muito boa. Chamamos isso de isca para trazer o comprador para o estande. Fazemos isso com uma linha de produto que não dá lucro, mas não dá prejuízo, consegue girar a fábrica. O que acontece é que o cliente vem atrás desse produto barato, mas não compra apenas ele (...), ele corresponde normalmente a 25% da compra do cliente, que compra também as nossas linhas mais caras, que é o que dá rentabilidade para a empresa. É essa a estratégia que usamos.
 
Uma das ações que vocês adotaram há alguns anos se repetiu, que foi turbinar o estande com presenças vips. Qual o papel/poder das celebridades em um evento como a Francal?
Funciona. Antes mesmo da feira, começamos a receber e-mails do pessoal perguntando quem viria. Tudo começou com as panicats uns quatro anos atrás. O sucesso foi tão grande que passamos a usar essa estratégia para todas as feiras. Contratamos a Carol Dias como garota propaganda, com quem temos contrato até dezembro de 2016, e sempre trazemos um ator que esteja em evidência, de preferência, da rede Globo. Gera muita mídia, fizeram várias matérias de TV aqui e o mais interessante é que, depois, cada representante comercial recebe um book com as fotos de tudo o que aconteceu para mostrar para os clientes. E, queira ou não queira, o cliente compra de quem está na mídia. Tem dado muito certo.
 
Você diversifica suas atividades profissionais e já promoveu grandes shows na cidade de Franca. Por que decidiu investir no segmento? Há projetos novos na área de entretenimento?
Sempre gostei muito de música, tanto é que com 11 anos de idade eu vendia fitas cassetes gravadas. Fizemos oito eventos. Tudo começou com dois shows da Ivete Sangalo, que fizemos através de uma parceria com o meu amigo Toninho Botina. Fiz um camarote para a Calvest e chamei vários clientes do Brasil todo (Norte a Sul). Consegui unir duas coisas: o evento e o agrado ao cliente. Surgiu o nome Calvest Fest Show na cidade e todo mundo já ficava aguardando. O último foi em 2012, e parei. Aquela tragédia, em janeiro de 2013, na boate Kiss (na cidade gaúcha de Santa Maria) me deixou muito assustado. Consultei meu advogado para saber qual o risco da pessoa que realiza o evento e ele me orientou que, do gradil para dentro, a responsabilidade é total de quem faz o evento. Aí perguntei sobre o que aconteceria se houvesse uma briga, um tumulto, e ele disse que eu não daria conta de pagar tanta indenização em minha vida. Aí resolvi “‘tirar o pé”. Era tudo no nome da fábrica: contrato de artista, tudo. Aí eu inverti. Agora, quando há um show interessante, como um Bruno & Marrone no Credicard Hall, eu alugo um espaço e levo os clientes de São Paulo. Fizemos o Axé Brasil, em São Paulo, há um ano e meio, com Ivete, Bell Marques, Tomate, Banda Eva, Cláudia Leitte, tudo no mesmo dia. Botei camarote da Calvest, a gente adesiva geral, faz abadá e tem risco zero. É a estratégia que estou usando.
 
Em todos esses eventos a marca Calvest fica sob os holofotes. Qual a importância da publicidade, da divulgação de sua marca?
Onde eu posso, boto Calvest, pode ser numa xícara para dar de presente para um cliente, mas vai estar lá escrito pequenininho “Calvest”. Investimos em jornal, rádio FM e muitas tevês regionais. Sempre com a Carol Dias apresentando o produto.
 
Em uma das palestras do Talk Shoe Abicalçados na Francal foi muito falado que o acesso amplo das pessoas à informação tornou necessário que as empresas repensassem formas de vender os produtos. Vocês vendem em lojas online multimarcas. Pensam em criar um canal de vendas online próprio? Quantos por cento do total de vendas representam as vendas online atualmente?
Temos o site com loja da Calvest embutido dentro do site da Passarela (vendas online de multimarcas) e não pretendo no momento ter um canal próprio. Assim está funcionando, não tenho despesas e o volume de vendas está bom. Acredito que as vendas online representem em torno de 8% das vendas totais, um número que está se mantendo.
 
A Calvest é referência em seu segmento, que é exclusivamente masculino. A empresa tem panos de expandir para linhas femininas?
Em novembro, na feira de Gramado (Zero Grau), vamos lançar a marca Iod’s. Serão somente botas femininas na produção: botas country, montaria, cano curto, cano médio, cano alto, botas em geral. A linha será para o inverno de 2016. O masculino tem a entressafra entre dezembro e janeiro. Com esse projeto, pretendo zerar a entressafra dentro da Calvest. Era um projeto antigo e estava só aguardando o registro da marca. Coincidentemente, recebi a notícia há pouco, no dia do meu aniversário, que foi agora, dia 20 de junho. O advogado ligou falando que tinha saído o registro e vamos colocar o plano em prática. Acredito que (a linha feminina) corresponderá a 20% de nossa produção.

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