Passadas quase duas décadas desde que assumiu o Comércio da Franca, Alfredo Costa vendeu o jornal em 1973. A venda foi concretizada em uma reunião com a “Família do Comércio”, onde vários funcionários fizeram uso da palavra e Costa fez um agradecimento e louvou a disposição dos novos diretores do jornal de modernizar a folha. O comprador na ocasião era uma empresa: a recém-constituída Empresa Francana Editora de Jornais e Revistas Ltda, cujos proprietários eram os sócios Jose Corrêa Neves e Delcides Essado.
Delcides Essado nasceu em Cristais Paulista em 6 de junho de 1925, filho de José Essado e Flauzina. A família veio para Franca depois que o jovem Delcides terminou seus estudos, e aqui ele se estabeleceu. Casou-se com Ruth da Silva Ferreira Essado e teve cinco filhos: Atônio Carlos, Lúcia Helena, Maria Helena, Carmem Lúcia e Isabella, que ainda residem na cidade.
Delcides era investidor e mantinha negócios em São Paulo, onde ele passava a semana, estando em Franca apenas nos sábados e domingos. Era um homem muito fechado e reservado, avesso a badalações sociais, e viu a compra do jornal como uma oportunidade de fazer negócio e dinheiro ao contrário de Corrêa Neves, não tinha um apreço especial pelo jornalismo.
Maria Helena Essado Fagioni, a Leninha, foi quem definiu o pai. “Ele era fechado, mas muito guerreiro e persistente. Era uma figura respeitada e, apesar de seu pouco estudo, muitas pessoas pediam conselhos a ele.” No período em que o pai era sócio do Comércio, ela, que era adolescente, trabalhou no setor administrativo e tinha um primo que atuava no setor Financeiro Delcides continuava viajando e os deixava como seus representantes na empresa.
Essado percebeu que ter um jornal não era um negócio de grande lucratividade e vendeu sua parte para Corrêa Neves, retirando-se da sociedade em dezembro de 1974, mas não sem antes contribuir com uma compra que revolucionaria o modo de se fazer jornal no interior paulista. “O Corrêa comprou a rotativa Goss Comunity nos Estados Unidos, e foi muito difícil conseguir a documentação para a liberação da máquina do Porto de Santos, ela ficou muito tempo presa lá. Meu pai tinha muitos amigos em São Paulo e através de seus contatos conseguiu agilizar a liberação”, lembra Leninha.
Afastado do Comércio, Delcides continuou com seus negócios na capital até que um derrame o deixou com o lado esquerdo do corpo paralisado. Leninha disse que a garra de seu pai se manifestou mais uma vez na doença. “Ele não podia mais dirigir, mas depois de muito tempo de fisioterapia foi a São Paulo e comprou um carro especial. Voltou para a autoescola, fez novos exames e tirou carta novamente.” Com a saúde debilitada, Essado parou de viajar e trabalhava apenas em Franca.
Corrêa Neves visitou o ex-sócio nesse período complicado. “Eles eram amigos. Meu pai era muito sistemático e me lembro que, quando ainda trabalhava no Comércio, ele carregava seu maço de cigarros no bolso da frente da camisa. O Corrêa estava tentando parar de fumar, mas sempre aproveitava as oportunidades que encontrava para pegar um cigarro. O problema era que ele sempre derrubava tudo o que meu pai levava no bolso ao bater a mão no maço. Ele ficava muito bravo com a bagunça”, relata Leninha, rindo.
Delcides Essado morreu aos 69 anos, no dia 20 de janeiro de 1995, após uma longa batalha com um câncer de próstata. O Comércio da Franca homenageou seu ex-diretor louvando seu temperamento calmo, a altivez no desempenho de suas funções e ressaltando que ele era “muito admirado por seus amigos em Franca e São Paulo.”
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