O ‘Comércio’ na Casa Paiva


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O comerciante, jornalista e também  músico Vicente Paiva dirigiu o jornal de 1920 a 1922
O comerciante, jornalista e também músico Vicente Paiva dirigiu o jornal de 1920 a 1922
No ano de 1920 Franca ainda era uma cidade pequena, porém letrada e orgulhosa de seus almanaques, mas o que acontecia no Brasil e no mundo só chegava à população por meio do jornal, já que a rádio só chegaria à terra das três colinas no final de 1923. Foi em 1920 que o Comércio da Franca trocou de direção e dono pela primeira vez, exatamente cinco anos após seu nascimento. Com a pretensão de se mudar de Franca, José Mello vendeu seu negócio - a Casa Mello e o jornal que ainda era impresso nos fundos do prédio. A edição número 258, publicada em 30 de junho de 1920, mencionava o aniversário do periódico, as dificuldades do jornalismo na época, agradece aos colaboradores e assinantes e anuncia a troca da diretoria, ressaltando que “novos obreiros serão nova energia, novas esperanças” e representariam força e vigor.
 
Ele se referia ao comerciante, jornalista e músico Vicente Paiva, que comprou o jornal de José Mello. Natural da cidade mineira de Três Corações, era casado com Isaura Luz, pai de cinco filhos: Romeu, Valdomiro, Ruth, Diva e Wanda. Amante da caça e da pesca, recebeu o apelido de “Cordeiro” por sua personalidade tranquila, mansa e companheira. Antes de vir para Franca trabalhou durante alguns anos em Igarapava como secretário da Câmara Municipal. Como músico, participou da Furiosa, como era conhecida a banda municipal que se apresentava no coreto da Praça da Matriz, aos domingos. O historiador José Chiachiri Filho o classificou também como “boêmio”.
 
Sob nova direção, a Casa Mello passou a se chamar Casa Paiva e páginas do Comércio da Franca eram usadas para anunciar os produto que ele comercializava em seu estabelecimento. Os primeiros anúncios já podiam ser vistos na última edição assinada por José de Mello: “encordoamento de instrumentos musicais, venda de enfeites, artigos para escritório”. Além disso, a Casa Paiva também oferecia serviços ligados à impressão: “Bem montadas oficinas de obras, movidas a electricidade, onde se executam com presteza e perfeição todos e quaesquer serviços typographicos por preços baratíssimos. Trabalhos a cores e de luxo.”
 
No jornal, Paiva assumiu como redator chefe do Comércio, deixando a gerência ao encargo de Oscar Octaviano, que por muitos anos foi considerado indevidamente o dono da gazeta. Jornalista nato, o francano Octaviano tinha experiência na lida com periódicos: havia dirigido o Sétimo Districto, em Ribeirão Preto em 1893; trabalhado no jornal A Cidade, de São Simão; O Francano e Tribuna da Franca, além de ajudar a fundar O Bandolim, O Jasmim, O Grande Órgam e O Colibri, todos de Franca. Enquanto ele esteve à frente do Comércio, a linha editorial foi mantida, até porque não houve sequer tempo de realizar grandes mudanças: ele morreu, vítima de um aneurisma cerebral, em 12 de março de 1921, aos 49 anos de idade, menos de um ano após assumir o jornal. A edição do Comércio de 19 de março daquele ano trazia na capa uma homenagem “ao nosso querido diretor”.
 
Paiva passou a redação para Antônio Constantino e começou a assinar o expediente do jornal como “diretor proprietário”. Em junho e 1922, vendeu o jornal e a loja para o empresário Ricardo Pucci. Afastado do jornalismo, ficou viúvo em 1932 e mudou-se novamente para Igarapava na década de 40. Quando, mais tarde, retornou a Franca, foi trabalhar no setor de canalização de água da Prefeitura. A filantropia foi um traço marcante em sua vida. Foi diretor do Hospital “Allan Kardec” e do Centro Espírita “Judas Iscariotes”. Também atuou com diretor-zelador do Albergue Noturno, função na qual contou com a ajuda de sua segunda mulher, Maria Oliveira Aguillar. Nessa função, ele se manteve até sua morte, em 1º de maio de 1951.
 
A edição do Comércio do dia 3 de maio registrou a morte do antigo diretor em sua coluna necrológica e lhe prestou homenagens, destacando sua passagem pelo periódico, onde são lembradas sua atuação em prol do engrandecimento da cidade. Várias autoridades discursaram em seu velório e seu corpo foi sepultado no terreno do Albergue, como era a vontade dele.

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