Não há muita divergência entre pesquisadores de que os anos 60 foram os mais efervescentes do século passado, entrando para a história como um período de excessos, liberdades, repressão, intolerância e mudanças comportamentais e culturais que começaram alguns anos antes e moldaram toda uma geração.
Enquanto ditaduras se instalavam na América do Sul, nos Estados Unidos a luta pela igualdade racial e a liberdade feminina contrastavam com o envolvimento do país na Guerra do Vietnã. Na Europa, estudantes de Paris enfrentam a polícia por reformas no sistema de educação. O homem finalmente chega à lua.
Um dos marcos da Guerra Fria, a Guerra do Vietnã foi um conflito insano, em que decisões puramente políticas levaram a morte e a destruição a centenas de milhares de pessoas. Depois de sofrer intervenção francesa de 1850 a 1954, o Vietnã foi dividido em dois países. O Norte, com capital em Hanói, ficou sob influência da União Soviética, portanto socialista. O Sul, cuja capital era Saigon, contou com o apoio dos Estados Unidos.
Um ano depois após a separação, parte da população do sul, frontalmente contrária à influência americana, se uniu em torno de um exército com mais de 85 mil homens, os chamados vietcongues.
Em 1963, o presidente Lindon Johnson mentiu ao dizer que navios de guerra americanos - em missão de espionagem na costa vietnamita - teriam sido atacados por soldados do Vietnã do Norte. O episódio, que ficou conhecido como “Incidente do Golfo de Tonquim”, serviu de pretexto para a entrada dos Estados Unidos na guerra que já envolvia os dois Vietnãs. Posteriormente, em 1971, o jornal The New York Times, em ampla reportagem, revelou que o ataque nunca existiu.
Em 17 de abril de 1965, 15 mil estudantes se reuniram em Washington para pedir a retirada das tropas americanas e o fim da guerra. A inédita e sistemática cobertura pela imprensa fez com que o governo de Johnson enfrentasse a opinião pública cada vez mais contrária à continuidade do conflito.
Apesar da repercussão negativa da guerra, perto de 500 mil soldados americanos foram enviados ao sudoeste da Ásia, dos quais mais de 59 mil morreram. Mesmo usando os armamentos e técnicas mais avançadas para a época, os Estados Unidos não conseguiram fazer frente aos combatentes vietnamitas que usavam táticas de guerrilha.
Em 1968, um episódio conhecido como a “Ofensiva do Tet”, posto em prática pelos soldados do norte, praticamente selou o fim da guerra. Em 1969, mais de 250 mil pessoas voltam a se reunir em frente ao Capitólio, em Washington, pedindo o fim dos combates. Em 1971, foram 500 mil.
No mesmo período em que o napalm era despejado sobre aldeias no Vietnã, nas ruas da extinta Tchecoeslováquia a população segue o líder do Partido Comunista, Alexssander Dubcek, acreditando em reformas políticas e que á possível conciliar a teoria marxista e liberdades pessoais.
Só esqueceram de combinar com a União Soviética que, com outros países integrantes do Pacto de Varsóvia, invade o país e susta qualquer iniciativa reformista apontando seus tanques, no evento que ficou conhecido como “A Primavera de Praga”.
Na França, ainda em 1968, o que começou com uma manifestação de universitários pedindo reformas na educação, tornou-se um movimento que envolveu mais de nove milhões de trabalhadores de diferentes setores. Após espalhar barricadas pelo Quartier Latin, em Paris, estudantes tomaram a Universidade de Sorbonne. Os protestos fragilizaram o governo do presidente Charles De Gaulle, que renunciou pouco menos de um ano depois.
Nos Estados Unidos, o pastor Martin Luther King, prêmio Nobel da Paz (1964), principal liderança pelos direitos dos negros e figura chave na campanha pacifista que tomou conta do País no final da década, era morto a tiros.
Mais perto de nós, nossos vizinhos Chile, Uruguai e Argentina marcham para a obscuridade com golpes de Estado e militares tomando o lugar de presidentes legitimamente eleitos. Em 1973, cercado por tropas no Palácio de La Moneda, em Santiago, o presidente chileno Salvador Allende se suicida. O comandante do Exército, Augusto Pinochet, toma o poder.
CINEMA, MÚSICA, MODA E PROTESTOS
No final da década de 1960, os Beatles já cansados da fama se retiram para um período de recomposição na Índia. Nos cinemas, Easy Rider (foto à esquerda), com Peter Fonda, Jack Nicholson e Dennis Hooper, faz uma crítica severa da sociedade americana. 2001, uma odisseia no espaço é a síntese da ficção científica da época e leva seu diretor, Stanley Kubrick, a ganhar o Oscar de efeitos especiais de 1969. A odisseia, propriamente, vem no mesmo ano, quando os astronautas americanos Neil Armstrong e Edwin Aldrin Jr. pisam na lua (foto principal acima). Nas ruas americanas uma nova moda chocava e encantava. As minissaias caíam no gosto das mulheres como parte de um movimento feminista que havia começado muito antes, em alguns países europeus, mas que teve seu auge também em 1968, quando cerca de 400 ativistas pelos direitos das mulheres tiraram seus sutiãs e os queimaram no centro de Atlantic City durante a eleição da Miss America (à direita).
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