Era de se esperar que o ciclo de revoltas iniciado com a Revolta Tenentista de 1924 e a contestável aliança e alternância entre políticos mineiros e paulistas no Governo Federal colocassem o Brasil em estado de alerta nos anos finais da década de 1920. A chegada dos anos 30 deu início ao período histórico conhecido como a Era Vargas, em que Getúlio Vargas permaneceria no poder, como ditador, até 1945.
O momento decisivo pelo qual a República Velha passava, marcado, sobretudo, pela determinação do presidente Arthur Bernardes de bombardear a cidade de São Paulo um ano antes, teve na Coluna Prestes sua personificação mais forte e negativa.
Liderada pelo capitão Luis Carlos Prestes, participante da rebelião dos tenentes, a Coluna percorreu perto de 25 mil quilômetros Brasil adentro na tentativa de conquistar a simpatia da população para um eventual golpe contra o presidente Bernardes. Depois de passar por 11 Estados, o grupo, com mais de mil homens, se dissolveu, com parte dele seguindo para a Bolívia e parte para o Paraguai.
Apesar da aura de romance que cerca o episódio, a Coluna Prestes não conseguiu nenhum dos seus objetivos, embora tivesse dado sua contribuição no apressamento do fim daquele sistema político. Pelo contrário, correspondências de lideranças do movimento descobertas no final dos anos 1990 indicavam que por onde passava o grupo não era bem recebido. A população, abastecida com propaganda negativa, feita pelo governo central, fugia da Coluna com medo.
Da Bolívia, de onde seguiu para a extinta União Soviética, em 1931, Luis Carlos Prestes só voltaria ao Brasil em 1934, para integrar, na clandestinidade, o PCB (Partido Comunista Brasileiro).
Dizer que a população brasileira média à época sentia os desdobramentos da crise política ou fazia algum tipo de pleito na direção de mudanças não faz qualquer sentido. Poucas eram as manifestações de apreço ou descontentamento com o presidente Washington Luiz.
As reações vinham de grupos políticos adversários, que em nada representavam as aspirações populares. Em 1929, o próprio presidente deu sua contribuição para o acirramento da governabilidade, quebrando o acordo de São Paulo com Minas Gerais e indicando Júlio Prestes, candidato paulista, à sua sucessão.
Em março de 1930, Prestes vence as eleições. Sua posse, marcada para 15 de novembro, não ocorre. Em 3 de outubro, Getúlio Vargas, o candidato derrotado, dá início à revolução, com ações combinadas no Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Paraíba. No dia 1º de novembro daquele ano, Vargas sacramenta o fim da República Velha, dá início a um período de 15 anos no governo, instaura posteriormente uma ditadura e abre caminho para mais uma revolta: a Revolução Constitucionalista de 1932.
São Paulo e as armas
A Revolução Constitucionalista está entre as passagens da história brasileira que menos interesse despertou entre os estudiosos e acadêmicos.
Aquela que é considerada uma guerra civil brasileira é entendida a partir de diferentes vieses e enfoques, mas no centro das discussões, qualquer que seja o observador, aparecem as conturbadas relações que Getúlio Vargas mantinha com a oligarquia paulista, agora fora das decisões políticas do País.
Ao tomar posse, Vargas promete uma nova Constituição, após suprimir a de 1891, o que não acontece. Em seguida, designa um interventor não paulista para o Estado, o tenente pernambucano João Alberto Lins de Barros.
Mesmo com a sua substituição, pelo paulista Pedro de Toledo, os ânimos continuam exaltados, com lideranças políticas, segmentos do Exército, imprensa e intelectuais exigindo a formação de uma assembleia constituinte.
Em maio de 32, quatro jovens são mortos na tentativa de invasão da sede do PPP (Partido Popular Progressista), franco apoiador de Vargas.
As mortes dão origem ao MMDC (com os nomes de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo), movimento que passa a agir na clandestinidade. Tropas paulistas passam a se mobilizar e tomam posição com a promessa do apoio de outros Estados, fato que não aconteceu.
Mais de mil combatentes paulistas morreram nos enfrentamentos com forças leais a Getúlio Vargas em diferentes frentes. Para São Paulo, apesar dos enormes danos à sua infraestrutura, restou o consolo da “vitória moral”, já que em 1933 o presidente convoca eleições para a elaboração de uma nova Constituição.
A Carta de 1934 traz, entre outros pontos, o estabelecimento do voto secreto e o direito ao voto feminino. Sua duração, no entanto, seria curta: até 1937.
PERÍODO DE REVOLUÇÕES
Luiz Carlos Prestes vence as eleições para a presidência do Brasil em 1930 (acima), mas não chega a tomar posse. Getúlio Vargas, candidato derrotado, dá início à revolução e inicia seu período de governo, que durou 15 anos.
A Revolução Constitucionalista de 1932 foi uma resposta às mudanças políticas no Brasil após Getúlio assumir o poder. A extinção do Congresso Nacional e Assembleias de deputados estaduais deu fim às oligarquias, diminuindo o espaço político que sempre existiu para personalidades paulistas.
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