O Brasil em anos turbulentos, greve e revoltas; na política, ‘Café com Leite’


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Edição do dia 7 de novembro de 1917 do Comércio relata os episódios envolvendo o torpeamento de dois navios brasileiros
Edição do dia 7 de novembro de 1917 do Comércio relata os episódios envolvendo o torpeamento de dois navios brasileiros
Os primeiros 15 anos do século XX ainda guardavam praticamente as mesmas características do final do período anterior, com um Brasil agrário, ignorante e patriarcal. Às mulheres da época, além do título de “rainha do lar”, pouco era assegurado em termos de direitos.
 
Se o envolvimento brasileiro em assuntos que mereciam diplomacia internacional não foi tão promissor, dentro de seus limites existiam problemas de sobra. 
 
No âmbito doméstico, a Guerra do Contestado, entre os Estados do Paraná e Santa Catarina, em uma rica região produtora de mate, era uma grande preocupação. Debelada em agosto de 1916, com uma ação militar enérgica do Governo Federal e as tropas do general Setembrino de Carvalho, deixou mais de 20 mil mortos.
 
Em São Paulo, uma pequena elite surgida com a riqueza da produção cafeeira continua em seu processo de mudança para as cidades, onde cada casarão construído devia evidenciar o poderio econômico e social das famílias. Os barões do café davam as ordens, ditavam os rumos da economia e da política.
 
O Estado de São Paulo vinha de um período anterior economicamente promissor. O café era a mola propulsora do caixa bandeirante, em parte permitido graças ao avanço das ferrovias, também promovido ao longo das quatro décadas anteriores.
 
Na capital, o dinheiro aparecia na forma de mansões na Avenida Paulista, representada por sua figura mais proeminente: a família Matarazzo, que ergueu um império por todo o Estado.
 
A chegada de imigrantes italianos, portugueses, espanhóis, que já dava sinais de queda, abria espaço para outra leva, desta vez de sírios, turcos e japoneses. Foi essa mão de obra a responsável pela colonização de inúmeras regiões brasileiras, mas, sobretudo, do interior paulista.
 
Em 1917, dois episódios ocorridos com navios brasileiros levam o país a declarar guerra ao Império Alemão. Em abril, após o afundamento do navio Paraná, o governo brasileiro rompe relações com os alemães. Depois, em outubro, após o navio Macau ser torpedeado, sendo a quarta embarcação brasileira afundada em atos de guerra, o presidente Wenceslau Braz coloca o País definitivamente no conflito, ainda que sua participação tenha ocorrido de forma bastante tímida.
 
Assinado o armistício na Europa (no ano seguinte), com a volta de relativa paz, o Brasil ruma aos poucos para a industrialização ainda incipiente, ao mesmo tempo em que chegava perto o primeiro centenário da Independência. 
 
Em 1917 também eclode a primeira greve de operários no Brasil, com os trabalhadores fazendo inúmeras exigências, principalmente em relação à redução da jornada de trabalho e à proibição do emprego a menores de 14 anos. Só em São Paulo, mais de 70 mil empregados cruzaram os braços durante o movimento.
 
A política brasileira passava por um de seus momentos mais marcantes: o período conhecido como “Café com Leite”, em que as oligarquias paulista e mineira elegiam presidentes da República sucessivamente para enfurecimento dos políticos gaúchos. 
 
Entre 1914 e 1922, cinco presidentes ligados ao Partido Republicano Mineiro (PRM) ou ao Partido Republicano Paulista (PRP) se alternaram no poder.
 
Foi essa alternância entre representantes de Minas Gerais e São Paulo, com um desastroso conservadorismo político, um dos pilares das revoltas tenentistas iniciadas em 1922, no Rio de Janeiro. 
 
Promovidas por jovens oficiais do Exército, que pediam voto secreto, incentivo à indústria, fim da corrupção e ensino público obrigatório, entre outros pontos, é discutível se o movimento, que teve seu ponto alto em São Paulo, em 1924, com bombardeios à Capital, representava de fato os anseios da população média brasileira, como declaravam seus líderes, ou se era uma marcha em articulação para apenas mudar o eixo de governança do país naquele período.
 
A República Velha caminhava para o seu final com o mesmo script de crise herdado em 1889, com a proclamação da República.

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