Cem anos atrás, a população de Franca já era maior que a população atual de muitas cidades em seu entorno. Com 32 mil moradores dispostos em dois bairros apenas, tudo era novidade. Tudo, em termos de serviços públicos, como energia elétrica, polícia ou água encanada, se não estava sendo criado, implantado, o tinha sido menos de 10 anos antes.
Entre a Estação e o Centro, uma ponte - uma pequena pinguela é verdade - era o divisor entre o velho e novo, entre pobres e ricos, entre a tradição e a modernidade.
A pequena estrutura na Rua General Telles, próximo ao atual Clube dos Bagres, e conhecida como “Ponte dos Amores”, era o delimitador físico dessas duas “cidades”.
Para quem nasceu no Centro, o morador do outro lado era jocosamente chamado de “índio”. Para quem morava na Estação, a região central pouco significava, já que o local aos poucos estava se transformando numa cidade à parte, com comércio em expansão, casas de varejo, negociantes de café em número cada vez maior atraídos pelos altos níveis de produção local e regional.
Naquele tempo, opções de lazer mais prosaicas incluíam o footing (passeio a pé) nas duas praças: a da Estação e a Nossa Senhora da Conceição. Sob os olhares vigilantes dos pais, moças jovens flertavam com seus pretensos admiradores andando em círculos por horas e horas.
Impensável ou não, os trens que chegavam e partiam da estação da Companhia Mogiana eram um atrativo para a vida pacata que se levava. Plataforma lotada, pessoas se despedindo ou familiares e amigos aguardando quem chegasse, principalmente de São Paulo, trazendo na bagagem cultura e vivências de outros lugares. Aos domingos, o lugar era de festa.
Cinema
É curioso notar que enquanto a AEC Castelinho levava grandes públicos aos seus concursos de bebês e crianças, as primeiras experiências com a sétima arte não foram de um contato muito amistoso. Entrar numa sala de cinema naquela época não era de bom tom para famílias de respeito.
A partir de 1918, o cinema em Franca avançou em frequentadores e em salas. Para a Estação, a diversão chegou com a inauguração do Cine Royal.
Problemas atuais em 1920
A pioneira Jaguar, tida oficialmente como a primeira empresa calçadista local, já estava entregando seus pares de sapato com regularidade.
Com a existência de curtumes e a instalação das fábricas já se difundindo, além do dinheiro farto do café, Franca começa a receber levas de migrantes, vindos, principalmente, de Minas Gerais e Goiás. Foi a partir desse processo e em decorrência dele que outros bairros começaram a surgir na cidade.
Os avanços daquele começo de século começaram a dar dor de cabeça para o intendente - cargo equivalente ao de prefeito - de Franca, coronel Martiniano Francisco de Andrade.
Foi dele, por exemplo, a iniciativa de limitar o trânsito de carros de boi nas ruas do Centro, como a “Rua do Commercio”, tomada por pequenos prostíbulos. A preocupação popular era que a proibição da circulação dos carros de boi trouxesse impactos nos preços da lenha e de alguns outros produtos. Por outro lado, a medida deveria evitar danos na rede de água e esgoto que estava sendo instalada.
E para quem pensa que o assunto “água” é motivo de discussão apenas agora, já em 1915 causava debates acalorados entre a administração municipal, prestadores de serviço e a população, tudo porque os preços cobrados pelos encanadores estavam “exorbitantes”, como já tinham destacado os jornais A Cidade e a Tribuna de Franca.
LINHA DO TEMPO
1915
No dia 30 de junho, é impressa a primeira edição do jornal Commercio da Franca, fundado por José de Mello
1915
A primeira foto a sair na capa do jornal foi a do professor Amálio de Barros, no dia 4 de agosto.
1917
Navio brasileiro “Macau” é afundado. País entra na 1º Guerra.
1918
Armistício assinado em 11 de novembro põe fim à guerra.
1919
Montadora Ford chega ao Brasil. Começa a montagem do famoso modelo T.
1920
José de Mello deixa o jornal, que passa a ser comandado por Vicente Paiva.
1922
Nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro, São Paulo realiza a Primeira Semana de Arte Moderna, como contraponto à cultura artística europeia.
1922
Ricardo Pucci assume como novo diretor do Comércio da Franca.
1923
Primeira estação de rádio é montada pelo governo no Brasil, passando a transmitir de forma precária. Roquette Pinto e Henrique Morize criam a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro influenciando o surgimento de emissoras em todo o Brasil.
1924
Ocupada por revoltosos do movimento tenentista, São Paulo é bombardeada por forças do presidente Arthur Bernardes durante 22 dias, deixando mais de 500 civis mortos.
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