O surgimento do ‘Comércio’ como um jornal artesanal e literário


| Tempo de leitura: 3 min
O comerciante José de Mello (foto) montou as  primeiras dependências do jornal Comércio da Franca na Casa Mello, em 1915. A primeira edição, publicada no dia 30 de junho de 1915 (à esquerda), trouxe em seu editorial os objetivos do jornal, “órgão dedicado
O comerciante José de Mello (foto) montou as primeiras dependências do jornal Comércio da Franca na Casa Mello, em 1915. A primeira edição, publicada no dia 30 de junho de 1915 (à esquerda), trouxe em seu editorial os objetivos do jornal, “órgão dedicado
Manusear exemplares de um jornal de cem anos atrás exige muito mais que o simples cuidado com sua integridade, com suas folhas já quebradiças. É preciso um tempo para o olhar se adaptar ao que é visto e ao que é lido.
 
A grafia empregada no nome Commercio da Franca não é a única coisa que chama a atenção quando se tem nas mãos os primeiros exemplares do jornal. 
 
Fazendo uso da regra gramatical em voga naquele tempo e que viria a ser reformada apenas 16 anos depois, expressões, palavras e acentuações gráficas soam muito estranhas aos leitores de hoje em dia. 
 
Descobrir exatamente o que está por trás da história do lançamento do jornal, em 30 de junho de 1915, tempo de preparação ou seu impacto, foi tarefa a qual nos dedicamos nos últimos meses. A resposta, você vai ler ao longo dessa edição.
 
José de Mello montou as dependências dentro da Casa Mello, que incluía a pequena redação e uma gráfica. 
 
Mello, que era comerciante, lançou-se na empreitada com a ajuda de um redator, cuja função era receber e selecionar os textos dos colaboradores que iriam para a edição, então semanal.
 
Além da característica editorial, mais literária que noticiosa, em suas quatro páginas o Comércio publicava contos, piadas, artigos e alguns editais, seguindo o mesmo padrão encontrado em todos os jornais daquela época.
 
Como não havia grandes anunciantes naquele tempo, a publicidade se resumia a anúncios de pequenos comerciantes, prestadores de serviços, médicos e outros profissionais liberais. Na quarta página, anúncios aproveitam cada espaço e em alguns textos aparecem nomes que hoje estão em muitas ruas e avenidas de Franca. É possível encontrar, também,  publicações como as da “parteira diplomada”, madame Emma Coelho, que garantia atendimento gratuito “para os comprovadamente pobres”. No número um do Comércio, um “especialista em capar porcos com extrema maestria” oferecia seus serviços.
 
A disposição dos textos e dos anúncios seguia - se é que seja possível dizer assim - um padrão repetido por quase todas as publicações da época.
 
José de Mello ficou à frente do jornal por exatos cinco anos, até 30 de junho de 1920. Durante sua gestão, o semanário assumiu posições fortes em relação a temas cotidianos, como também trazia notícias do Brasil e do mundo, como as que tratavam do maior conflito mundial em andamento.
 
Numa das primeiras edições, já se falava da guerra e  sugeria,inclusive, que a crise não passaria de dezembro de 1916. Não apenas passou da data prevista, como durou ainda mais dois anos. 
 
Fica caracterizada a dificuldade, comum a todo veículo da época, de se falar de episódios concentrados em outro continente, a mais de 10 mil quilômetros daqui, o que, talvez, tenha levado à previsão equivocada. Tanto que boa parte dos jornais brasileiros que circulavam no período tinha leitura semelhante. Sem qualquer tecnologia que pudesse apressar a compreensão do que estava acontecendo ou dar uma dimensão mais aproximada, de maneira generalizada restava aos jornais pouco o que noticiar, ainda assim com muito atraso em relação aos acontecimentos. 
 
Hoje, com a rapidez de acesso à informação fica fácil, mesmo para quem nunca tenha estudado o tema, entender o que ele significou. Mas um entendimento global do conflito só viria muitos anos depois.
 
Publicações de autoria de Mello chamavam os jovens a se engajar na defesa pátria, à beira da ameaça que “tão sério conflito já colocava a pujante Europa em ruínnas”.
 
Na edição de agosto de 1915, o diretor do Comércio pegava no pé da Companhia Mogiana, pedindo que a empresa construísse o mais breve possível uma sala de espera dentro da estação de trens de Franca. 
 
Entre fatos cotidianos e até, aos olhos de hoje, um tanto quanto pitorescos, o jornal encerrava seu primeiro ano defendendo a volta da Linha de Tiro 23, uma academia de instrução militar existente em Franca, desativada em 1913.
 
Ao deixar o jornal, em 1920, Mello passou o controle para Vicente Paiva, que implementou algumas mudanças. No entanto, permaneceu apenas dois anos ligado à empresa. 
 
Na mesma data comemorativa de sua fundação, em 1922, quem assume é Ricardo Pucci. É nesse período que o Comércio começa a desenhar uma consolidação como meio informativo.

Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Comentários

Comentários