Tempos atrás dávamos muita atenção a títulos exibidos por algumas pessoas, tais como pós-graduação, mestrado, doutorado, livre docência etc. Pois bem, o tempo passou. Hoje, concluímos que titulação nem sempre reflete capacidade ao magistério superior. É como uma linda caixa de presente vazia, sem nenhum conteúdo.
Dias atrás, cena mais uma vez nos fez concluir que titulação não é sinônimo de qualificação. Vimos vimos o despreparo para o ensino de detentores de títulos de doutor, nervosos e receosos em enfrentar imediatamente sala de aula na disciplina para a qual seus ‘títulos’ fizeram com que fossem aprovados. Os critérios de avaliação de produtividade e qualidade docente concentram-se, hoje, na produção acadêmica. Ou seja, ensino e pesquisa passam a ser atividades concorrentes. Como os critérios de avaliação premiam apenas a pesquisa, uma cultura de desprestígio à docência acaba sendo alimentada e compromete a almejada qualidade que se espera na sala de aula.
Quando se fala na necessidade de formação de professores, nunca a abordagem se estende à formação de professores universitários, como se a formação específica para o magistério nesse nível fosse algo supérfluo, ou mesmo, desnecessário. São poucos os professores que fazem pós-graduação em docência para o ensino superior, em razão de não ser valorizado.
No entanto, uma das críticas mais comuns dirigidas a cursos superiores diz respeito à didática dos professores universitários, ou seria melhor dizer, à falta dela. Tal fato pode ser constatado tanto através da literatura específica da área, como através de conversas com alunos em diferentes tipos de instituição e em diferentes cursos. Relatam que professores sabem a matéria, porém não sabem como transmitir aos alunos, de que não sabem como conduzir aulas, não se importam com os alunos, são distantes, arrogantes, ou que não se preocupam com a docência para priorizar seus trabalhos de pesquisa. Cenários assim são tão frequentes que parecem fazer parte da ‘natureza’, ou da ‘cultura’ de qualquer instituição de ensino superior.
Ao mesmo tempo, amplia-se cada vez mais a exigência das instituições para que os professores universitários obtenham os títulos de mestre ou doutor, para que isso constitua objeto de marketing. É questionável se esta titulação, do modo como vem sendo realizada, possa contribuir efetivamente para a melhoria da qualidade didática no ensino superior. Há cursos de doutorado que mais nos parece comércio de títulos. Os programas de pós-graduação, de maneira geral, tendem a priorizar em suas atividades a condução de pesquisas, tornando-se responsáveis por perpetuar a crença de que para ser professor basta conhecer determinado conteúdo ou, no caso específico do ensino superior, ser um bom pesquisador.
Numa breve retrospectiva da história das universidades — de maneira geral e, mais especificamente, das brasileiras —, é possível observar que a formação exigida do professor universitário tem sido restrita ao conhecimento da disciplina a ser ensinada, sendo este conhecimento prático decorrente do exercício profissional; ou teórico/epistemológico, decorrente do exercício acadêmico. Pouco, ou nada, tem sido exigido em termos pedagógicos.
Vale mencionar que na proposta inicial da LDB (Lei de Diretrizes e Bases para a Educação), o então senador Darcy Ribeiro contemplou, no artigo 74, obrigatoriedade de formação didático-pedagógica dos professores universitários. Em razão de pressões, o texto final omitiu essa necessidade. Por isso que assistimos pesquisadores não sabendo o que fazer em sala de aula, mas que, pelas pontuação de seus títulos em pesquisas assumem cadeiras sem oferecer qualidade mínima de ensino. Assim, mais vale a publicação de artigo ou livro, mesmo sem conteúdo, que qualificação didático-pedagógica para ser professor universitário.
Toninho Menezes
advogado, professor universitário - toninhomenezes@netsite.com.br
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