A farofa na sobremesa


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Sempre quis fazer farofa doce no Azul, embora se situe numa berlinda: gostosa, mas é brega
Sempre quis fazer farofa doce no Azul, embora se situe numa berlinda: gostosa, mas é brega
Tem um lugar em São Paulo, na rua Oscar Freire, que há anos se apresenta do mesmo jeito, parece ignorar a mudança dos costumes, incautos devem pensar se tratar de uma barca furada. Os garçons, todos senhores grisalhos, usam camisa branca e gravata borboleta preta, a decoração do local é meio anos 60, por lá o chope responde pelo saudoso nome de “rabo de peixe”, uma alusão ao formato do clássico copo para chope. Servem um Beirute muito bom e lanches com maionese caseira que matam muito bem a fome, jamais se sai insatisfeito de lá. E o movimento do local, nos horários do almoço e do jantar, é de matar de inveja qualquer marca hyper do quarteirão. 
 
O Frevo tem um cardápio de clássicos paulistanos, fez algumas concessões inteligentes, tem opções light que agradam as madames da região. E sobremesas bem executadas que, se não são referência, também não decepcionam nunca, dentre elas uma sempre me intrigou. Em duas ou três ocasiões encontrei mulheres magérrimas, com as barrigas (em hipótese) encostadas no balcão, disputando espaço entre os bebedores de chope, para se deliciarem com uma tal farofa doce. Essa farofa acompanha o indefectível sorvete de creme Kibon, junto com calda de chocolate. A sanha pela farofa é tanta que o próprio cardápio sugere a possibilidade do exagero: farofa dupla. E elas sempre pedem a duplicidade da gostosura. Parece que fugiram de casa onde, amarradas, só lhes era permitido gelatina light. Elas comem aquilo com tal exuberância, a língua no céu da boca a desgrudar a farofa - claro, tem leite ninho. 
 
Sempre quis fazer uma farofa doce aqui no Azul, embora ela se situe numa berlinda: é gostosa, mas é brega. Mas como não tem erro e sou fanática por farofas, não resisti, fui beber na fonte do Frevo, mas acabei encontrando coisa melhor, a farofa do Chocolamour.
 
O Chocolamour é a nova sobremesa do restaurante e está fazendo o maior sucesso, em parte deve ser por conta da farofa doce, a receita não é nossa, embora sempre se dê um toque pessoal, mas essa farofa tem muita história. Ela começa com um pâtisserie libanês, senhor Fares Sader, que correu o mundo atrás de experiências e receitas. Chegou por aqui nos anos 50 e, junto com o irmão, abriu um dos mais tradicionais e queridos restaurantes paulistanos, o Bambi. Um dos principais sucessos da casa foi a sobremesa de duas bolas de sorvete de creme, calda quente de chocolate, chantilly e farofa doce. Dizia à clientela que a sobremesa de nome exótico vinha de Beirute, o nome? Choc-mou-mud. Choc de chocolate, mou de macio, em francês e o mud, lama em inglês. Aconteceu o óbvio, ninguém conseguia pronunciar esse nome e virou, eu diria com muita sorte, Chocolamour. 
 
 
DICA DA SEMANA
 
Pulsar
Muita gente não sabe como usar o botão pulsar do liquidificador, que pode ser bem útil. Acho que a principal vantagem é a possibilidade do controle sobre o despedaçamento da coisa, dá para conferir exatamente como está o processo. Assim se você não quer uma coisa homogênea o melhor é utilizá-lo. Para bater um molho grosso, como o pesto, ou se usa o pilão ou o botão pulsar. Para se fazer uma vitamina cheia de pedaços, para mastigar, o melhor também é o pulse. 
 
Outra utilidade: para se fazer uma mousse de maracujá natural, precisamos passar pela peneira a polpa do maracujá, que é um saco! Para facilitar o trabalho, coloque toda a polpa dentro do liquidificador e aperte o pulse por três vezes, mais ou menos, as sementes não se quebram e desgrudam bem da polpa, facilitando sobremaneira passá-las pela peneira. 

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