Amarga sensação de impunidade

Terminou de forma melancólica na última terça-feira, 5 de maio, o caso que envolve o tapa desferido pelo vereador Luiz Vergara (PSB) na cara do marceneiro Hélio Vissoto,

10/05/2015 | Tempo de leitura: 4 min

“O problema fundamental é a impunidade, que criou um tipo de cultura”
Mário Covas, político brasileiro 
 
 
Terminou de forma melancólica na última terça-feira, 5 de maio, o caso que envolve o tapa desferido pelo vereador Luiz Vergara (PSB) na cara do marceneiro Hélio Vissoto, em pleno andamento de uma sessão na Câmara de Franca. Inacreditáveis 63 dias depois, enfim a Comissão de Ética anunciou seu veredicto: Pastor Otávio Pinheiro (PTB), Donizete da Farmácia (PSDB) e Jépy Pereira (PSDB) concluíram que Vergara deve ser punido com 60 dias de suspensão. Muito pouco diante do que fez Vergara, mas podia ter ficado ainda pior. 
 
Nestes dois meses que separam a agressão da conclusão, não foram poucos os momentos em que os integrantes da Comissão de Ética sinalizaram para nenhuma punição. As oitivas das testemunhas — como se fosse preciso interrogar alguém para entender o que aconteceu quando se tinha toda a sequência de ameaças e agressão registrada em vídeo pelo repórter do GCN, Dirceu 
 
Garcia —  descambaram, em muitos instantes, para a absurda tentativa de demonizar Hélio Vissoto. 
 
Vergara só não foi inocentado por duas razões fundamentais: a repercussão do tapa em todo o país e as confusões em que o próprio agressor se meteu na sequência, como o projeto que atravessou para atrapalhar a negociação salarial dos servidores e a “homenagem” que rendeu a outro cidadão no mesmo plenário, a quem adjetivou de “vagabundo” e chamou para briga. Não fossem tais destemperos, é provável que ficasse sem qualquer punição.
 
A suspensão anunciada a Vergara põe fim a um dos mais impressionantes conjuntos de erros e absurdos já vistos na história política brasileira. As bobagens começaram no próprio dia do ataque. A sessão de 3 de março era então presidida por Adérmis Marini (PSDB). Diante do tapa, Adérmis foi incapaz de oferecer um copo d’água ao agredido e ainda tratou de passar sermão em Vissoto. Não suspendeu a sessão além de cinco minutos, não condenou a agressão, não convocou os colegas para deliberarem sobre o assunto. Depois do tapa, e por maiores que possam ser as diferenças que tenha com Vissoto no campo pessoal, não defendeu publicamente qualquer punição ao colega agressor, como seria de se esperar. Não fez nada.
 
O prefeito Alexandre Ferreira poderia ter destituído Vergara imediatamente da função de “líder”. Seria um ótimo sinal de que é um homem público que acredita no diálogo e repudia a violência. Que esperança... Fez o oposto: passou a chamar Vergara para toda e qualquer cerimônia na qual estivesse presente e, nos seus discursos, faz desde então questão de cumprimentar entusiasticamente o seu líder, a quem se refere como “meu amigo”. Não usou o cargo que ocupa para repudiar o ato, não se solidarizou com o cidadão agredido, não afastou seu líder para deixar claro que rejeita a violência daqueles em quem confia. Não fez coisa alguma.
 
O PSB (Partido Socialista Brasileiro) de Franca poderia ter saído grande da crise que se abateu sobre um de seus filiados. O diretório municipal teve todas as chances para deixar claro que não toleraria em suas fileiras alguém que, diante de uma crítica, reage com um tapa, e expulsar Vergara. Não só não expulsou como ainda demorou 45 dias para suspender o agressor de atividades partidárias internas, o que, ressalte-se, tem efeito prático nulo. E, ainda assim, a tal “punição” foi muito mais por conta de Vergara ter aceito assumir a liderança do prefeito Alexandre Ferreira, o que contrariava orientação do partido, do que pelo tapa propriamente dito. Além disso, o PSB não fez mais nada.
 
Os integrantes da Comissão de Ética da Câmara poderiam ter mostrado que consideram os princípios morais acima de cores partidárias ou de quaisquer interesses pessoais. O trio de vereadores poderia ter concluído o caso rapidamente, em menos de quinze dias, atendo-se às imagens e relatos da agressão propriamente dita. Poderia ainda ter tido coragem para propor ao plenário a abertura de um processo de cassação do mandato por quebra de decoro, porque compactuar com a impunidade é inaceitável. Não fez nada parecido com isso.
 
O próprio Vergara perdeu a chance de comprovar que sua honra é do tamanho que ele propaga. Poderia, imediatamente após o ocorrido, ter se desculpado com quem agrediu de forma covarde, lamentando o episódio. Poderia ter renunciado ao mandato, consciente de que extrapolou todos os limites possíveis para quem ocupa um cargo público. Poderia ter manifestado arrependimento. Não fez nada assim.
 
Agora, é esperar para ver se a tal punição, que envolve, além do afastamento das atividades parlamentares por dois meses, também a suspensão do salário pelo mesmo período, vai ser mesmo efetivada. Do jeito que as coisas vão no Brasil, com infindáveis possibilidades de recursos, não será de espantar se o estapeador Vergara conseguir alguma medida que suspenda a brandíssima punição a que foi submetido. É improvável mas, nem de longe, impossível. 
 
Em tempo: a Prefeitura anunciou que, durante as férias forçadas de Luiz Vergara, a liderança do governo será exercida pelo folclórico Laercio do Paiolzinho (PP). Vergara disse e repetiu para quem quisesse ouvir que se converteu de oposicionista em líder do prefeito por conta de cargos e benesses na administração. Laercio foi flagrado num vídeo oferecendo a um sitiante vacas, eucaliptos e até dinheiro para que ele não denunciasse uma invasão feita pela Prefeitura em sua propriedade. É curioso constatar como há um indisfarçável padrão de “moralidade” nos tipos que Alexandre Ferreira escolhe para representá-lo.
 
Corrêa Neves Júnior, diretor executivo do GCN 
email - jrneves@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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