O preço do Vergara

Luiz Vergara (PSB) foi eleito vereador em 2012. Numa legislatura maciçamente governista, posicionou-se primeiro como “independente”.

19/04/2015 | Tempo de leitura: 5 min

“A corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção dos seus princípios”
Montesquieu, político e escritor francês
 
 
Luiz Vergara (PSB) foi eleito vereador em 2012. Numa legislatura maciçamente governista, posicionou-se primeiro como “independente”. A rápida deterioração da administração Alexandre Ferreira (PSDB) fez com que migrasse para a “oposição”. Chegou a votar a favor da abertura de uma Comissão Processante que poderia ter resultado na cassação do prefeito Alexandre Ferreira. Na primeira greve dos servidores, em março de 2014, apareceu no meio do movimento para “apoiar a luta”. 
 
Candidatou-se, logo em seguida, a deputado estadual. Durante a campanha, vociferou contra o governo. Na sabatina do GCN, detonou Alexandre Ferreira. “Há má gestão porque esse prefeito é ditador (...) Ele teve a oportunidade, sete anos (o período em que Alexandre Ferreira foi secretário de Saúde de Sidnei Rocha), a saúde deveria ser o espelho desse prefeito. Não aprendeu nada, ele não sabe nada de saúde (...) Ele quer mandar sozinho”, esbravejou.
 
Um post feito pelo PSB de Franca no Facebook, no dia 28 de outubro, é revelador de qual era o sentimento de suas principais lideranças. “Ficou evidente a insatisfação do PSB com o governo municipal de Franca, pela quantidade exagerada de erros grosseiros na gestão (...)” A mesma postagem abriu espaço para considerações dos vereadores Vergara e Cordeiro. “O vereador Luiz Vergara disse que a saúde está um caos pela incompetência administrativa do atual governo. Já o vereador Cordeiro Luis Antonio falou que o povo de Franca não aguenta mais viver o abandono (...)” 
 
Exatamente 91 dias depois, em 27 de janeiro, o presidente do PSB de Franca, Cézar Vilela, os vereadores Vergara e Cordeiro, além de pelo menos um assessor, sentaram-se para uma reunião no paço municipal com ninguém menos do que o prefeito de Franca, aquele mesmo que era tido pelo grupo, até bem pouco tempo antes, como “ditador” e “responsável pelo abandono de Franca”, entre outros “elogios” mais.
 
A pauta do encontro foi de uma crueza assustadora. Alexandre Ferreira queria o apoio do PSB. Vergara queria umas “coisinhas”. Ainda não está claro o que queriam Cordeiro e Cézar Vilela, mas se nada queriam, é de se perguntar o que foram fazer lá. Vergara reclamou ao prefeito que seus projetos e indicações não avançavam. Disse também que, se Alexandre Ferreira desse ao partido uma secretaria “de peso” e alguns cargos, ele estava disposto a “mudar de lado”. Alexandre Ferreira gostou tanto que nem barganhou. Deve ter achado Vergara bem baratinho porque, ao invés de uma secretaria, ofereceu logo duas. Fez uma única ressalva. Em função do “clima político”, as nomeações não sairiam imediatamente. 
 
Pouco mais de um mês depois, no dia 3 de março, Vergara faria sua estreia como líder do prefeito. Diante da estupefação do marceneiro Hélio Vissoto que, no plenário da Câmara, teve coragem para perguntar “quanto?” havia custado tão súbita e radical mudança de postura, Vergara desferiu um tapa na sua cara - e atingiu, imediatamente, a face de todos os brasileiros de bem. O caso repercutiu nacionalmente. O vereador tentou se justificar dizendo que se sentiu “ofendido” porque Vissoto o chamara de “ladrão”. Depois, diante das imagens que desmentiam esta versão, recuou e passou a dizer que “se sentiu” chamado de “corrupto” quando Vissoto perguntou “quanto?”. Vergara jamais lamentou, se desculpou nem se arrependeu. 
 
Vergara ainda seria o responsável por apresentar dias depois, a mando de Alexandre Ferreira, um absurdo projeto em regime de urgência que atravessou a negociação entre prefeitura e servidores, numa tentativa de impor um reajuste sem anuência dos trabalhadores ou arbítrio da Justiça, e participou de uma canhestra manobra que mudou a regra do jogo para evitar que o projeto tivesse que passar por segunda votação. Para completar, xingou um servidor de “vagabundo”, durante outra sessão da Câmara, e o chamou para briga.
 
Os detalhes da tal negociação de apoio em troca de cargos, que pode ser considerado o estopim de tudo, foram revelados pelo próprio Vergara, durante reunião do PSB na semana passada, diante de membros do partido e da imprensa. Vergara narrou os detalhes sem ser desmentido por ninguém. Nem mesmo por Cordeiro e Cézar Vilela que, presentes à reunião, fizeram silêncio. Cordeiro ainda votou contra qualquer punição efetiva ao “colega” de partido. 
 
Foi apenas 48 horas depois que Cézar Vilela e Cordeiro, enfim, falaram. Confirmaram participação em uma reunião, mas negaram ter tratado de secretarias ou nomeações. Chegaram a dizer que Vergara “mente” e “delira”. Não conseguiram explicar porque não disseram isso na frente dele que, para piorar, ainda os provocou: “eles sabem o que fizeram”. Procurado, o prefeito de Franca não negou que tivesse participado da “negociação”.
 
Tudo que envolve Vergara caminha para terminar sem punição. No PSB, a sanção ficou circunscrita a uma “censura pública” e à proibição de que participe de votações no partido, o que tem efeito nenhum. Na Comissão de Ética da Câmara, o presidente, Pastor Otávio (PTB), já antecipou que provavelmente a punição será apenas uma “advertência”, por conta de manobras de Jépy Pereira (PSDB) e Donizete da Farmácia. Os demais vereadores fazem um incompreensível silêncio.
 
Qualquer que seja o desfecho, o “quanto?” da pergunta de Vissoto foi mais do que justificado. Vergara se vendeu. Ele estabeleceu o preço, Alexandre Ferreira aceitou. Não pagou ainda, mas Vergara já começou a fazer sua parte. Resta saber agora como a população, que a tudo acompanha enojada, vai reagir. Ano que vem tem eleição. Não há melhor momento para um sonoro recado do que diante das urnas. Pelo andar da carruagem, é bastante provável que o berro dos francanos seja ensurdecedor. 
 
Corrêa Neves Júnior, diretor executivo do GCN 
email - jrneves@comerciodafranca.com.br

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