Não é junho, mas os acordes da sanfona do fundo musical lembram um pouco de uma típica festa junina de roça. Faz calor, mas a bota é acessório obrigatório nos pés. Os fashionistas podem anunciar à vontade que as estampas da temporada são étnicas ou tropicais, que o que se verá por lá em massa são xadrezes das mais variadas cores nas camisas. O chapéu sela o visual. É assim na Morada du Capiau, casa de eventos francana que cultua o universo sertanejo. É nesse ambiente que as segundas-feiras foram rebatizadas de Segunda Feliz.
Passeando pela casa, é possível entender o porquê. Num ambiente que poderia ser traduzido como democrático, público de todo jeito e origem se mistura e se diverte a valer. Na Morada du Capiau tem jovem, tem gente madura, tem terceira idade, tem “homi”, tem “muié”, tem rico, tem pobre, tem caipira nato e tem os divertidos “estudado nóis é, nóis fala errado porque nóis qué”.
Além do público misto, o local é carregado de outras curiosidades e tem suas próprias regras. A música sertaneja raiz, a moda de viola e suas poucas variações são obrigatórias. Para quem ousar pedir outro tipo de som, há placas de “proibido sertanejo universitário” espalhadas por todo o recinto, ao lado de objetos rústicos, rurais e antigos que compõem a decoração: instrumentos musicais estragados, moedores de café, garrafões de vinho em forma de luminárias.
Outra regra se refere ao uso de botas ou botinas. Sob a justificativa de preservar os costumes sertanejos e o estilo da casa, os fundadores inovaram: quem vem de bota ou botina paga a metade do ingresso. E “bota de cadarço não é bota, é coturno, é outra coisa”, avisa Marcos Aurélio de Souza, 25, um dos quatro integrantes do grupo que administra a casa. E a regra é levada a sério, com direito a vistoria na entrada do recinto. Nem precisaria. O público transpira o que os frequentadores chamam de estilo bruto, que aparentemente se restringe ao visual.
A gastronomia é um capítulo a parte. Um cardápio de quatro itens faz sucesso: batata frita, torresmo, frango a passarinho ou galinhada. Isso mesmo, arroz temperado com frango e servido em marmitinhas de isopor. “É o que mais sai. Contamos com amigos e familiares para tocar o negócio, tudo sem remuneração, para nos ajudar a deixar o trem bonito desse jeito. Tem um pessoal que tem a mão boa para cozinhar e a galinhada faz sucesso”, disse Marquinhos sobre a especialidade da casa.
Especialidade, no entanto, é o que não se pode dizer em relação aos quesitos “comodidade e conforto”, especialmente se você traduz essa sensação em camarotes, lounges, garçons e afins. Nada disso existe, em uma mensagem clara de que não se trata de balada para agregar status. O negócio é interagir e isso acontece com mais ênfase conforme se aproxima o momento do show principal da noite. O da última segunda-feira era aguardado com grande expectativa. Valéria Barros, que fez carreira na dupla As Mineirinhas e foi back vocal dos sertanejos Guilherme e Santiago, era a atração principal. Antes de anunciá-la, dois dos “capiaus” tratavam de entreter a casa enquanto a banda da musa organizava os equipamentos.
Passava da uma hora da madrugada da terça quando Valéria subiu ao palco. Sob gritos eufóricos e com direito a um megaventilador aos seus pés, que deixava seus cabelos tão esvoaçantes quanto os de Beyonce em shows, ela cantou e “divou” para os fãs. Entoou hits conhecidos nas vozes de Trio Parada Dura, Di Paullo & Paulino, Nalva Aguiar e outros intérpretes de “modão dos bão”, como descreviam integrantes do público.
O sucesso da casa tem se consolidado ao longo dos últimos anos. Tanto que Marquinhos dá sinais de que o espaço pode se tornar pequeno a curto prazo se a ascensão continuar. Mostra disso é o estacionamento oficial gratuito. Pensado para 300 carros, hoje em dia fica muito aquém da movimentação média. Quem passa pela avenida Rio Amazonas nas noites de segunda, sabe disso: sobram carros para estacionar por centenas de metros dos dois lados da via. Os ocupantes, certamente, estão se divertindo ao som da viola da Morada.
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