Ética vendida

A sessão do Congresso Nacional encerrou-se às 4h58 da madrugada desta quinta-feira, após 19 horas de embates. Rasgou-se a carta de ética

07/12/2014 | Tempo de leitura: 4 min

“A corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção de seus próprios princípios.”  
 
Barão de Montesquieu, filósofo político do Iluminismo  
 
 
A sessão do Congresso Nacional encerrou-se às 4h58 da madrugada desta quinta-feira, após 19 horas de embates. Rasgou-se a carta de ética que talvez ainda restasse ao PT e aliados políticos, quando o congresso aprovou o texto-base do projeto de lei que autoriza o governo a fechar as contas públicas no vermelho. Por ausência de quórum, faltou votar uma emenda ao texto principal. Haverá nova sessão na próxima terça-feira.
 
O texto em votação acaba com o limite de R$ 67 bilhões para o abatimento das desonerações tributárias e dos investimentos do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC).
 
O governo de Dilma se rebaixa ao repassar para cada deputado e senador uma mesada de R$ 748 mil para aplicar em obras nos seus redutos eleitorais. Respira-se, com isto, um ar de compra de voto, uma vez que condiciona a liberação de verba à aprovação da manobra fiscal. Coisa aí de R$ 11,7 milhões no ano, numa só tacada.
 
Saiba-se: o texto trata de eliminar a obrigatoriedade legal de manter íntegra a atual meta do superávit primário, que consiste no que o governo consegue economizar para pagar os juros da dívida pública e evitar seu crescimento. É um indicador para avaliar se o governo é bom ou mau pagador. Se é bom pagador, os credores nacionais e internacionais concordam em emprestar (na forma de investimentos), recebendo juros mais baixos. Se é mau pagador, o juro fica mais caro.
 
Dilma não economizou em 2014 o suficiente não conseguiu atingir seu objetivo de economia para reduzir ou pelo menos estabilizar a dívida pública. Vêm problemas por aí! Desenha-se um horizonte negro na política do governo, notadamente no quesito da ética que tanto pesa no desenvolvimento legal de um país.
 
Houve protestos nas galerias do plenário do Congresso Nacional durante a sessão tumultuada. Mas a truculência de Renan Calheiros (PMDB), presidente do Senado, mandou desocupar as galerias, expediente que fere a manifestação pública num país democrático.
 
O lado irônico da questão tem viés histórico. O Partido dos Trabalhadores surdiu da massa operária e pregava um discurso democrático voltado ao bem-estar coletivo, à diminuição das desigualdades sociais e principalmente, veja bem o leitor, principalmente fundamentado na ética. Esta era a bandeira da estrela vermelha. 
 
Grande parte dos eleitores brasileiros acreditou piamente neste discurso e elegeu Lula; esses mesmos eleitores reelegeram-no, elegeram Dilma, recentemente reelegeram-na e é exatamente este partido que agora dá, ao que parece, sinais de desconforto com seus próprios princípios, a ponto de a presidente ter mentido na campanha eleitoral (sobre o superávit primário, por exemplo) e, após reeleita, colocar em prática toda a receita de campanha do adversário Aécio, a partir da nomeação de Levy para a Fazenda. 
 
Já sabemos que a Polícia Federal aponta os desdobramentos das delações. A coisa não fica só na Petrobras. Tem muito mais corrupção do que possa imaginar a nossa consciência. Mas o PT é o foco, porque em três mandatos de petismo, “ninguém sabia de nada”. Como é possível? É a velha história: se não sabiam, por exemplo, da Petrobras, foram incompetentes. Se sabiam, foram coniventes. O certo é que na ética o PT não pode mais se arvorar. E pelas últimas notícias, nem o PSDB teria crédito moral para apontar o dedo contra a falta de ética do PT. Haja vista o caso dos trens em São Paulo, e outros que envolvem Covas, Serra e Alckmin. 
 
Convenhamos: de toda forma não é um bom final de mandato, tampouco um bom sinal ético para o segundo mandato. Como se sabe, nem todos os parlamentares estiveram sujeitos ao suborno de Dilma. Mas 90% dos quadros do Parlamento dão aos 10% restantes uma péssima reputação.
 
No melhor estilo Casoy: “É uma vergonha!”
 
P.S.: finalizo neste domingo minha colaboração à coluna Gazetilha. Por honroso convite de Corrêa Neves Júnior, seu titular, ocupei este espaço por quase quatro meses, durante os quais pude manter uma linha coerente de pensamento crítico, notadamente nos momentos cruciais que antecederam e sucederam as eleições para a presidência da República. Óbvio: sabemos que há, nos dias presentes, um país dividido no tocante às lideranças políticas. Isso responde ao fato de eu ter recebido e-mails e telefonemas ora elogiando ora criticando meus escritos. Agradeço a ambos os tipos de leitores por terem tido a paciência da leitura e o exercício da interpretação e crítica. Não dá para agradar a gregos e troianos. Agradeço, ainda, a Corrêa Neves Júnior a rica oportunidade de ocupar este espaço e, como sempre foi, coloco-me à disposição para atender ao jornal Comércio da Franca, nos limites de minha capacidade e formação. Forte abraço a todos, um Feliz Natal e que excelentes oportunidades surjam no ano novo que se aproxima.
 
Everton de Paula, acadêmico e editor 
email  - evertondepaula33@yahoo.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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