A identificação e prisão dos integrantes da quadrilha especializada em falsificar agrotóxicos foram resultado de um complexo e minucioso trabalho de inteligência realizado pelos promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e pela Polícia Civil. O Comércio teve acesso com exclusividade aos bastidores da megaoperação. Ao longo de cinco meses, todos os passos e movimentação da organização criminosa foram seguidos de perto pelos investigadores. Escutas telefônicas, rastreamento de e-mails, checagens de redes sociais, cabos de fibra ótica e até drones, equipamento que faz imagens aéreas, foram usados para vigiar a rotina da estrutura empresarial montada para gerar lucro ilícito. Impressiona um número. “Flagramos 57.555 conversas entre os integrantes”, disse o promotor Cláudio Watanabe Escavassini.
O grampo autorizado pela Justiça captou comunicações que envolviam aquisição de embalagens, galões, produtos químicos usados na produção dos agrotóxicos adulterados, comentários sobre lucros, vendas, notas falsas e investimentos em móveis e veículos. Também foi flagrada reunião entre os líderes em um escritório de advogado, onde uma pessoa recebeu a oferta de R$ 75 mil para assumir a posse de produtos apreendidos.
O monitoramento permitiu que fossem identificados desde o líder até os responsáveis pelo transporte. “Utilizamos todos os meios possíveis e legais para descobrir os membros da organização criminosa.”
O rastreamento começou em julho após denúncias sobre a existência da quadrilha. De posse de dois nomes e de dados de veículos, os promotores fizeram levantamentos preliminares e verificaram que a informação era “quente”. Interceptaram um telefone e passaram a acompanhar a movimentação. Descobriram que os integrantes se organizaram para a produção, falsificação, rotulagem, embalagem, distribuição e venda de agrotóxicos falsificados. Era uma estrutura hierárquica organizada com subdivisões e tarefas até mesmo para a logística de transportes do produto por meio de caminhões e carretas. Alguns dos integrantes não sabiam da existência do líder.
“A estrutura ficou muito bem delineada pela Polícia Civil e MP. Pelo que foi interceptado, não há dúvidas do envolvimento dos integrantes”, disse Escavassini.
Ao longo das investigações, foram feitas diversas apreensões de defensivos agrícolas falsificados, avaliados em pelo menos R$ 6 milhões. Mesmo com a ação da polícia e do prejuízo financeiro, a quadrilha seguiu com a prática criminosa. Também não deixou de ostentar carros de luxo, joias caras, imóveis de alto padrão, ranchadas e festas.
Em julho, Eliezer Reis da Silva, o “Russo”, apontado pelas autoridades como líder da quadrilha, completou 40 anos. Foram dois dias de comemoração com muita cerveja, vodca Cîroc e uísque Red Label. A dupla Matogrosso & Mathias foi contratada para um show particular aos convidados. Dois Camaros, um amarelo e outro branco, estavam ao lado. Russo subiu ao palco e cantou Na hora do Adeus com a dupla. Ele não sabia, mas estava sendo monitorado no aniversário. Anteontem, foi preso escondido dentro de uma cisterna.
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